James
Cook – 2ª Parte[1]
No texto passado (http://respirehistoria.blogspot.com.br/2015/01/james-cook-1-parte.html)
foi apresentada a vida de James Cook desde o seu nascimento (em 1728) até a sua
presença no rio São Lourenço, hoje terras pertencentes ao Canadá. Nesse segundo
texto sobre o intrépido descobridor inglês, você verá que Cook iniciou
justamente sua carreira nas terras geladas da América do Norte. Vamos começar.
Durante sua expedição pelo leste canadense, Cook realizou
observações científicas detalhadas. Foi em 1766 que o inglês observou e
detalhou de maneira minuciosa a ocorrência de um eclipse solar. “Embora sua
ortografia fosse péssima e não fosse nenhum escritor, enviou um relatório sobre
seu dia de trabalho que foi bem recebido pela famosa Real Sociedade Geográfica,
em Londres – um feito inusitado para um suboficial da Marinha” [2].
Tal atitude de Cook é importante ser ressaltada dadas as circunstâncias do
período.
A Europa do século XVIII era a Europa do Iluminismo, do culto
à razão e da valorização da ciência. Não que Cook fosse um iluminista no
sentido mais conceitual da palavra. Mas negar a influência do “Século das
Luzes” sobre a vida deste inglês seria equivocado. Retomaremos a questão do
Iluminismo e dos trabalhos de Cook à frente.
Quando estava com 40 anos,
Cook foi nomeado tenente (o primeiro escalão do oficialato) e passou a comandar
o Endeavour. O Endeavour poderia ser considerado uma embarcação pequena, não
dispondo de instalações adequadas para todos os seus tripulantes (94 no total,
entre marinheiros, fuzileiros e cientistas, como determinava o período). No
entanto, o maior drama das grandes viagens marítimas era o escorbuto, que
vitimava parte considerável dos marinheiros.
Pessoa com escorbuto, a
doença que vitimou centenas, milhares de tripulantes e passageiros no início
das navegações transoceânicas[3].
O escorbuto é causado pela
carência da vitamina C (ácido ascórbico) no organismo, levando ao sangramento e inflamação gengival, com conseqüente perda dos dentes, inflamação e dor nas articulações, queda
de cabelos, entre outros, podendo, inclusive, desencadear quadro de anemia, devido a pequenas hemorragias[4].
As baixas durante as viagens eram tão certas que as embarcações partiam com
sobrepeso, porões abarrotados além da capacidade. Assim, as provisões bastariam
e os lucros seriam suficientes, mesmo com as perdas[5].
O que impressionou, no entanto, foi o fato de que, durante a 1ª. viagem (entre
1768 e 1771), nenhum tripulante morrera acometido pelo escorbuto, feito inédito
para a época e para uma viagem longa como a realizada por Cook. Em nosso
próximo texto iremos explicar como isso ocorreu.
Junto com Cook embarcou um
jovem botânico, rico e grande proprietário de terras. Seu nome era Joseph
Banks. Profundamente influenciado pelas vertentes lançadas pela Renascença,
séculos antes, e retomada com a valorização da ciência pelo Iluminismo, Banks[6]
acrescentou muito à viagem de Cook. “A ciência só ganhou com a presença de
Banks a bordo do Endeavour. Graças a
ele, ampliou-se bastante o alcance científico da viagem de Cook e inaugurou-se
o costume de incluir indivíduos excepcionais em expedições náuticas. Se Banks
não tivesse estabelecido o precedente, Charles Darwin talvez nunca tivesse sido
convidado a participar da expedição do Beagle, 60 anos depois”[7].
A primeira das três viagens
de Cook pelo Pacífico se iniciou em Plymouth, sul da Inglaterra, no dia 25 de
agosto de 1768; e até o final desse ano ficou restrita ao Atlântico. Uma das
passagens mais interessantes do “trecho atlântico” da viagem de Cook ocorreu na
cidade do Rio de Janeiro. “A barca Endeavour
foi motivo de zombaria e desconfiança no Rio de Janeiro, onde o vice-rei
português (na época Antônio Rolim de
Moura Tavares, o conde de Azambuja) não acreditou tratar-se de um barco da
Marinha Real britânica e chegou a proibir o desembarque de Cook.
Rio de Janeiro no século
XVIII – obra de Leandro Joaquim (1738 – 1798)[8].
Cook chegou em 1769 ao
Taiti. Outro europeu já havia passado pela região dois anos antes. O marinheiro
inglês Robert Pitcairn navegou pela região em 1767, sendo que uma das ilhas
recebeu seu sobrenome. Também tivemos Samuel Wallis, que descobrira o Taiti em
1767. Voltando à viagem de Cook, o comandante do Endeavour teve que enfrentar
uma situação inusitada durante as expedições: evitar a pilhagem da embarcação
pelos tripulantes. Como os artefatos metálicos eram desconhecidos pelos nativos
da ilha, os taitianos trocavam qualquer mercadoria por peças de metal. “Como o Endeavour permanecia fundeado no Taiti
por três meses, Cook tomou precauções imediatas. Pôs sob guarda os equipamentos
do navio e decretou: ‘Nenhum tipo de ferro ou qualquer coisa feita de ferro ou
qualquer tipo de pano, ou outros artigos úteis ou necessários podem ser usados
na troca de qualquer outra coisa além de provisões’. Embora o comandante fosse
querido por sua tripulação, essa regra não foi cumprida à risca” [9].
A estadia de Cook no Taiti
permitiu que ele fizesse observações detalhadas do local (observações,
inclusive, astronômicas), partindo então para a Nova Zelândia, onde chegou no
dia 8 de outubro de 1769. Cook realizou um reconhecimento costeiro das duas
principais ilhas, o que possibilitou o início do processo de colonização pela
Inglaterra. Tal reconhecimento demorou seis meses e fez com que a ideia de “um
hipotético continente batizado de Terra Meridional Ignota”[10]
fosse refutada. A exploração pelo Pacífico Sul foi coroada com um mapeamento
minucioso dos 3,6 mil quilômetros da costa leste australiana que, até 1770,
data em que Cook chegou à região, permanecia em sua maior parte desconhecida.
No mesmo ano, Cook explorou o primeiro arquipélago das ilhas, que acabaram por
receber seu sobrenome. Anteriormente, as ilhas Cook eram exploradas e povoadas
por polinésios e espanhóis.
Veremos em nosso próximo
texto que Cook passou a reivindicar o domínio das regiões que explorou como
terras pertencentes à coroa britânica, além de termos contato com algumas
técnicas e inovações adotadas por Cook, significativas para o desenvolvimento
da marinha inglesa e das viagens ultramarinas de maneira geral.
Ilhas Cook, hoje território
sob administração da Nova Zelândia[11].
[1] RAMOS,
Pedro Henrique Maloso.
[2] Revista National Geographic Brasil – Grandes exploradores - Edição de
colecionador . São Paulo: Editora Abril, 2003. p 117
[3] Imagem extraída do sítio http://biologianovestibular.blogspot.com.br/2012_03_01_archive.html
[4] Adaptado de
http://www.todabiologia.com/doencas/escorbuto.htm
[5] Tal situação também foi
perceptível no Tráfico Negreiro, durante a chamda Escravidão Moderna.
[6] Que fora presidente,
posteriormente à viagem, da Sociedade Real por quatro décadas. - Revista National Geographic Brasil – Grandes
exploradores - Edição de colecionador . São Paulo: Editora Abril, 2003. p 117
[7] Revista National Geographic Brasil – Grandes exploradores - Edição de
colecionador . São Paulo: Editora Abril, 2003. p 117
[8] http://www.pintoresdorio.com/index.php?area=artistas&artista=15
[9] Revista National Geographic Brasil – Grandes exploradores - Edição de
colecionador . São Paulo: Editora Abril, 2003. p 107.
[10] Revista National Geographic Brasil – Grandes exploradores - Edição de
colecionador . São Paulo: Editora Abril, 2003. p 107.
[11]
http://www.gopixpic.com/640/ilhas-cook-%E2%80%93-um-para%C3%ADso-de-at%C3%B3is-corais-e-vulc%C3%A2nicas/http:%7C%7Cguia-viagens*aeiou*pt%7Cwp-content%7Cuploads%7C2013%7C01%7CCook-islands*jpg/
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