terça-feira, 27 de janeiro de 2015

James Cook – 2ª Parte

James Cook – 2ª Parte[1]
No texto passado (http://respirehistoria.blogspot.com.br/2015/01/james-cook-1-parte.html) foi apresentada a vida de James Cook desde o seu nascimento (em 1728) até a sua presença no rio São Lourenço, hoje terras pertencentes ao Canadá. Nesse segundo texto sobre o intrépido descobridor inglês, você verá que Cook iniciou justamente sua carreira nas terras geladas da América do Norte. Vamos começar.
Durante sua expedição pelo leste canadense, Cook realizou observações científicas detalhadas. Foi em 1766 que o inglês observou e detalhou de maneira minuciosa a ocorrência de um eclipse solar. “Embora sua ortografia fosse péssima e não fosse nenhum escritor, enviou um relatório sobre seu dia de trabalho que foi bem recebido pela famosa Real Sociedade Geográfica, em Londres – um feito inusitado para um suboficial da Marinha” [2]. Tal atitude de Cook é importante ser ressaltada dadas as circunstâncias do período.
A Europa do século XVIII era a Europa do Iluminismo, do culto à razão e da valorização da ciência. Não que Cook fosse um iluminista no sentido mais conceitual da palavra. Mas negar a influência do “Século das Luzes” sobre a vida deste inglês seria equivocado. Retomaremos a questão do Iluminismo e dos trabalhos de Cook à frente.
Quando estava com 40 anos, Cook foi nomeado tenente (o primeiro escalão do oficialato) e passou a comandar o Endeavour. O Endeavour poderia ser considerado uma embarcação pequena, não dispondo de instalações adequadas para todos os seus tripulantes (94 no total, entre marinheiros, fuzileiros e cientistas, como determinava o período). No entanto, o maior drama das grandes viagens marítimas era o escorbuto, que vitimava parte considerável dos marinheiros.
Pessoa com escorbuto, a doença que vitimou centenas, milhares de tripulantes e passageiros no início das navegações transoceânicas[3].


O escorbuto é causado pela carência da vitamina C (ácido ascórbico) no organismo, levando ao sangramento e inflamação gengival, com conseqüente perda dos dentes, inflamação e dor nas articulações, queda de cabelos, entre outros, podendo, inclusive, desencadear quadro de anemia, devido a pequenas hemorragias[4]. As baixas durante as viagens eram tão certas que as embarcações partiam com sobrepeso, porões abarrotados além da capacidade. Assim, as provisões bastariam e os lucros seriam suficientes, mesmo com as perdas[5]. O que impressionou, no entanto, foi o fato de que, durante a 1ª. viagem (entre 1768 e 1771), nenhum tripulante morrera acometido pelo escorbuto, feito inédito para a época e para uma viagem longa como a realizada por Cook. Em nosso próximo texto iremos explicar como isso ocorreu.
Junto com Cook embarcou um jovem botânico, rico e grande proprietário de terras. Seu nome era Joseph Banks. Profundamente influenciado pelas vertentes lançadas pela Renascença, séculos antes, e retomada com a valorização da ciência pelo Iluminismo, Banks[6] acrescentou muito à viagem de Cook. “A ciência só ganhou com a presença de Banks a bordo do Endeavour. Graças a ele, ampliou-se bastante o alcance científico da viagem de Cook e inaugurou-se o costume de incluir indivíduos excepcionais em expedições náuticas. Se Banks não tivesse estabelecido o precedente, Charles Darwin talvez nunca tivesse sido convidado a participar da expedição do Beagle, 60 anos depois”[7].
A primeira das três viagens de Cook pelo Pacífico se iniciou em Plymouth, sul da Inglaterra, no dia 25 de agosto de 1768; e até o final desse ano ficou restrita ao Atlântico. Uma das passagens mais interessantes do “trecho atlântico” da viagem de Cook ocorreu na cidade do Rio de Janeiro. “A barca Endeavour foi motivo de zombaria e desconfiança no Rio de Janeiro, onde o vice-rei português (na época Antônio Rolim de Moura Tavares, o conde de Azambuja) não acreditou tratar-se de um barco da Marinha Real britânica e chegou a proibir o desembarque de Cook.
Rio de Janeiro no século XVIII – obra de Leandro Joaquim (1738 – 1798)[8].


Cook chegou em 1769 ao Taiti. Outro europeu já havia passado pela região dois anos antes. O marinheiro inglês Robert Pitcairn navegou pela região em 1767, sendo que uma das ilhas recebeu seu sobrenome. Também tivemos Samuel Wallis, que descobrira o Taiti em 1767. Voltando à viagem de Cook, o comandante do Endeavour  teve que enfrentar uma situação inusitada durante as expedições: evitar a pilhagem da embarcação pelos tripulantes. Como os artefatos metálicos eram desconhecidos pelos nativos da ilha, os taitianos trocavam qualquer mercadoria por peças de metal. “Como o Endeavour permanecia fundeado no Taiti por três meses, Cook tomou precauções imediatas. Pôs sob guarda os equipamentos do navio e decretou: ‘Nenhum tipo de ferro ou qualquer coisa feita de ferro ou qualquer tipo de pano, ou outros artigos úteis ou necessários podem ser usados na troca de qualquer outra coisa além de provisões’. Embora o comandante fosse querido por sua tripulação, essa regra não foi cumprida à risca” [9].
A estadia de Cook no Taiti permitiu que ele fizesse observações detalhadas do local (observações, inclusive, astronômicas), partindo então para a Nova Zelândia, onde chegou no dia 8 de outubro de 1769. Cook realizou um reconhecimento costeiro das duas principais ilhas, o que possibilitou o início do processo de colonização pela Inglaterra. Tal reconhecimento demorou seis meses e fez com que a ideia de “um hipotético continente batizado de Terra Meridional Ignota”[10] fosse refutada. A exploração pelo Pacífico Sul foi coroada com um mapeamento minucioso dos 3,6 mil quilômetros da costa leste australiana que, até 1770, data em que Cook chegou à região, permanecia em sua maior parte desconhecida. No mesmo ano, Cook explorou o primeiro arquipélago das ilhas, que acabaram por receber seu sobrenome. Anteriormente, as ilhas Cook eram exploradas e povoadas por polinésios e espanhóis.
Veremos em nosso próximo texto que Cook passou a reivindicar o domínio das regiões que explorou como terras pertencentes à coroa britânica, além de termos contato com algumas técnicas e inovações adotadas por Cook, significativas para o desenvolvimento da marinha inglesa e das viagens ultramarinas de maneira geral.
Ilhas Cook, hoje território sob administração da Nova Zelândia[11].


















[1] RAMOS, Pedro Henrique Maloso.
[2] Revista National Geographic Brasil – Grandes exploradores - Edição de colecionador . São Paulo: Editora Abril, 2003. p 117
[3] Imagem extraída do sítio http://biologianovestibular.blogspot.com.br/2012_03_01_archive.html
[4] Adaptado de http://www.todabiologia.com/doencas/escorbuto.htm
[5] Tal situação também foi perceptível no Tráfico Negreiro, durante a chamda Escravidão Moderna.
[6] Que fora presidente, posteriormente à viagem, da Sociedade Real por quatro décadas. - Revista National Geographic Brasil – Grandes exploradores - Edição de colecionador . São Paulo: Editora Abril, 2003. p 117
[7] Revista National Geographic Brasil – Grandes exploradores - Edição de colecionador . São Paulo: Editora Abril, 2003. p 117
[8] http://www.pintoresdorio.com/index.php?area=artistas&artista=15
[9] Revista National Geographic Brasil – Grandes exploradores - Edição de colecionador . São Paulo: Editora Abril, 2003. p 107.
[10] Revista National Geographic Brasil – Grandes exploradores - Edição de colecionador . São Paulo: Editora Abril, 2003. p 107.
[11] http://www.gopixpic.com/640/ilhas-cook-%E2%80%93-um-para%C3%ADso-de-at%C3%B3is-corais-e-vulc%C3%A2nicas/http:%7C%7Cguia-viagens*aeiou*pt%7Cwp-content%7Cuploads%7C2013%7C01%7CCook-islands*jpg/

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