sábado, 3 de setembro de 2022

29º Texto - A Contrarreforma - 7ºs anos

 29º texto - A Contrarreforma (ou reação católica)

Antes de começarmos a ler este texto vamos fazer a seguinte pergunta: houve uma Reforma dentro da Igreja Católica? Sim, houve. Mas ela foi muito mais uma reação do que propriamente uma Reforma. No entanto, não estranhe se você encontrar em livros de História a definição “Reforma Católica”. É o sinônimo para Contrarreforma.

Vamos começar a entender sobre o assunto lendo um fragmento de texto. “O aparecimento das igrejas protestantes no século XVI provocou a imediata reação da Santa Sé, que somente a partir de então começou a tomar medidas mais efetivas para reafirmar os princípios fundamentais da moral católica. O papado reconheceu a Companhia de Jesus (seu Joaquim nos preparou uma coluna sobre essa tal Companhia de Jesus), fundada nessa época na Espanha, aproveitando-se para colocá-la a seu serviço na expansão da fé e na obtenção de novos adeptos.


A fim de assegurar a unidade da doutrina católica, o papa Paulo III convocou o Concílio de Trento
(imagem ao lado representando a realização do Concílio) que se reuniu em 1545 e encerrou seus trabalhos em 1563. O concílio organizou a Contrarreforma Católica, definindo quatro pontos principais:

1)        Contra os protestantes, que consideravam as Escrituras como única autoridade, afirmou que a Tradição – ou seja, as interpretações dos padres da Igreja, papas e concílios – constituía, junto com as Escrituras, um dos fundamentos da fé (...);

2)        Confirmou e definiu com precisão os dogmas e práticas rituais católicas, tais como: a presença real de Cristo na eucaristia, a salvação pela fé e pelas obras, os sete sacramentos (batismo, crisma, eucaristia, penitência, unção dos enfermos, ordem e matrimônio), o culto à Virgem e aos santos etc.

3)        Procurou corrigir os abusos da Igreja, adotando as medidas necessárias para assegurar um clero mais instruído e com moral mais firme, mantendo a proibição do casamento dos padres, criando seminários para a formação de sacerdotes etc.

4)        Fortaleceu a hierarquia e, portanto, a unidade da Igreja Católica, ao confirmar a supremacia do papa, 'pastor universal de toda a Igreja'”[2].

Sabemos também do papel da Santa Inquisição, “que ficou encarregada de combater a Reforma. Em 1543, o papa Paulo III mandou redigir o INDEX – catálogo de livros de leitura proibida aos fiéis, por serem considerados perniciosos à fé.

 Assim, embora de maneira mais repressiva do que renovadora, a Igreja Católica se equipou para enfrentar os desafios de uma Europa agora reestruturada sob o impacto da cultura humanista, que apontava novos caminhos para a relação entre o homem e Deus[3]. Uma sociedade que vivia ares burgueses

A Companhia de Jesus

A Companhia de Jesus foi fundada em 1534 por Inácio de Loyola, sendo reconhecida pelo papa Paulo III, em 1534. Tornou-se a mais importante ordem contrarreformista, sendo considerada como uma “verdadeira milícia a serviço do papa”. Os jesuítas passaram a utilizar todos os meios de ação para ensinar e divulgar os princípios católicos. O resultado de tamanho esforço foi bastante interessante. Acompanhe:

- algumas regiões como a Baviera e os domínios da Casa da Áustria, que haviam aderido ao protestantismo, foram reconquistadas para o catolicismo. Mérito dos jesuítas;

- os jesuítas divulgaram o catolicismo para regiões que haviam sido dominadas pelos europeus: povos asiáticos e americanos se tornaram católicos.

- sabe São Paulo, capital do estado onde se localiza São Caetano do Sul? Pois bem, foi fundada a partir da instituição de um colégio jesuíta, no dia 25 de janeiro de 1554, não à toa, dia de São Paulo.

- os jesuítas chegaram a agir em regiões do Japão! E as ações foram bem brutais. Relatos dão conta de extermínios dos japoneses que não aceitavam o catolicismo – assim como ocorreu no Brasil.


Padre jesuíta em pleno século XXI. A ordem existe até hoje.

 




[2] PAZZINATO, A L SENISE, M H V.  História Moderna e Contemporânea. São Paulo: Editora ÁTICA, 1997. 6ª EDIÇÃO. pp. 68-69

[3] PAZZINATO, A L SENISE, M H V.  História Moderna e Contemporânea. São Paulo: Editora ÁTICA, 1997. 6ª EDIÇÃO. pp. 68-69

28º Texto - As Reformas Protestantes - 7ºs anos

 28º Texto - As Reformas Protestantes

Vamos tratar das três reformas protestantes, começando pela Reforma Luterana.

A Reforma Luterana

A primeira reforma protestante foi a Reforma Luterana, iniciada por Martinho Lutero, em 1517, dentro das regiões do Sacro Império Romano-Germânico (território que compõe atualmente a Alemanha). Primeiramente vamos conhecer quem foi Lutero.

Nascido em 1483, no que hoje é a cidade alemã de Eisleben, Lutero teve uma formação muito religiosa e uma educação extremamente rígida. De família pobre, Lutero sempre teve o incentivo dos pais para que estudasse o que fez quando saiu de casa aos 14 anos para estudar latim em uma escola na cidade de Magdeburg. Em 1501 Lutero ingressou na Universidade de Erfurt para estudar direito, tornando-se um leitor contumaz e um freqüentador assíduo das bibliotecas. Logo no início de sua vida acadêmica passou a se interessar pelo estudo da Bíblia, levantando uma questão que o incomodava profundamente: a ideia da salvação eterna. Assim, não nos é estranho o fato de Lutero ter trocado o curso de Direito pelo de Teologia e culminar sua aproximação ao campo religioso quando ingressou em um convento agostiniano. Buscando fazer tudo para salvar a sua alma, Lutero jejuava, orava e lia a Bíblia com grande regularidade. Todo esse trajeto culminou com o doutoramento de Lutero em teologia pela Universidade de Wittenberg, em 1512, fazendo com que o mesmo fosse indicado para lecionar.   

Envolvido com questões religiosas Lutero protestou contra a venda de indulgências e contra as estruturas eclesiásticas. Passou a ser “perseguido” pelo papa Leão X, sendo condenado pelo imperador Carlos V, na Dieta de Worms, à execução. Escapou porque fugiu para a Saxônia, recebendo abrigo do duque Frederico, o Sábio.

Buscando impedir que as idéias de Lutero se propagassem, Carlos V exigiu, na Assembléia reunida, em Spira (em 1529), que todos os príncipes aderissem ao catolicismo romano. Alguns desses príncipes protestaram, e, 1530, a doutrina luterana que fora exposta em Augsburgo, por Melanchton, através da Confissão de Augsburgo, constituindo a base de uma nova religião. Em resumo, para o luteranismo a salvação da alma vinha do seu contato direto com Deus, sem a necessidade de alguém que o representasse perante Ele. Isso colocava em xeque o papel da Igreja. Lutero conservou apenas alguns sacramentos, entre eles o batismo e a eucaristia. Politicamente, os príncipes protestantes organizaram a Liga de Smalkalde contra o imperador Carlos V. Os conflitos entre luteranos e católicos só diminuíram em 1555, com a Paz (ou Dieta) de Augsburgo, determinado que ficasse à escolha de cada príncipe a religião a ser adotada.

A Reforma Calvinista

A Reforma Calvinista esteve ligada ao humanista francês João Calvino (1509-1564). Sabemos que na França a Igreja Católica tinha grande influência no poder real. Através da Concordata, de 1516, foi transferido para o monarca francês o direito de nomear bispos e abades. A partir da Concordata, o soberano francês passou a distribuir abadias e bispados, não se preocupando com a religião em si.

Os reformadores franceses se inspiraram na corrente humanista trazida por Erasmo de Rotterdam, surgindo pensadores e humanistas cristãos admiráveis, que propunham uma reforma interior e progressiva da Igreja. Calvino surgiu no momento em que a França vivia um fervor humanista. Fortemente influenciado por Lutero, o pensamento calvinista foi consolidado com a publicação de “Instituição Cristã”, base da reforma calvinista, de 1534.

Calvino se instalou na Suíça em 1536, a convite de Guilherme Farel (outro humanista), instaurando uma base reformista radical. A burguesia da cidade suíça de Genebra “havia adotado os princípios da Reforma para lutar contra seu governante, o católico Duque de Savóia, o que favoreceu a atuação do reformador.

Embora baseado nas idéias protestantes, Calvino divergia de Lutero em alguns pontos, principalmente na questão da salvação. Enquanto os luteranos acreditavam que o homem se salvava pela fé, Calvino defendia a ideia de que a fé não era suficiente, uma vez que o homem já nascia predestinado, ou seja, escolhido por Deus para a vida eterna ou para a condenação. A riqueza material era um sinal da graça divina sobre o indivíduo. Essas ideias foram prontamente assimiladas pela burguesia de Genebra, pois justificavam não só o comércio, como também as atividades financeiras e o lucro a elas associado.

No aspecto moral, a doutrina calvinista se caracterizou pela extrema rigidez de costumes imposta aos seus fiéis. A cidade de Genebra passou a ser governada pela Igreja Calvinista, através de uma assembléia e um órgão de vigilância que impunha severa disciplina, proibindo jogos e danças, suprimindo as imagens e os altares dos templos e adotando uma liturgia[2] extremamente simplificada, concentrada no sermão, na oração e na leitura da Bíblia. O calvinismo propagou-se rapidamente, atingindo a França, a Inglaterra e a Escócia e contribuindo para a cisão definitiva entre a Igreja Católica e as Igrejas Reformadas”[3]. A figura de João Calvino.

A Reforma Anglicana

As reformas religiosas na Inglaterra estiveram diretamente ligadas ao rei Henrique VIII (1509-1547).  Católico, tido como defensor da fé pelo papado, Henrique VIII chegou a entrar em conflito com os luteranos. Entretanto, em 1527, devido ao episódio com Ana Bolena e Catarina de Aragão, rompeu com o papado. O que foi o dito episódio?

Durante o seu governo, Henrique VIII enfrentou forte pressão da burguesia, que desejava maior participação do Parlamento. A principal ideia da burguesia era acabar com as taxas que a Igreja andava cobrando, e que impediam o avanço comercial, além dos burgueses terem interesse em acabar com a ideia da usura.

Henrique VIII, necessitando aumentar as riquezas do Estado, aproveitou-se dessa situação para confiscar os bens da Igreja. Isso gerou desentendimentos com o papa, agravados quando o monarca solicitou a anulação de seu casamento com Catarina de Aragão. A anulação foi pedida porque, não tendo sucessores masculinos com a princesa espanhola, Henrique VIII temia que, em caso de sua morte, o trono inglês passasse para o controle da Espanha. Esse temor era compartilhado por toda a nação, que apoiou o rei, diante da negativa do papa em conceder-lhe o divórcio.

O rei então rompeu com o papado e promoveu uma reforma na Igreja inglesa, obrigando seus membros a reconhecê-lo como chefe supremo e a jurar-lhe fidelidade e obediência. Assim, Henrique VIII obteve do clero inglês o divórcio de Catarina de Aragão e pôde desposar Ana Bolena”[4]. O casamento com Ana Bolena foi feito com o apoio do bispo de Canterburg.

A doutrina anglicana foi a mais próxima à católica. A salvação, no entanto, também era pela predestinação. Houve a conservação de dois sacramentos (o batismo e a eucaristia[5]).                 

 

[2] a ordem e as cerimônias no ritual eclesiástico.

[3] Pazzinato, A. L.; Senise, M. H. V. – História Moderna e Contemporânea – São Paulo: Ática, 1997. p. 55

[4] Pazzinato, A. L.; Senise, M. H. V. – História Moderna e Contemporânea – São Paulo: Ática, 1997. p. 56

[5] sacramento em que, segundo o dogma católico, o corpo e o sangue de Jesus Cristo estão presentes sob as espécies do pão e do vinho.

27º Texto - A Igreja e a Reforma Protestante - 7ºs anos

 27º Texto - A Igreja e a Reforma Protestante

Como estudamos durante este ano letivo, a Igreja durante a Idade Média era uma instituição rica e poderosa, sendo que muitos membros do clero possuíam feudos e servos. Os papas possuíam enorme poder e representação política, algo que pode ser comprovado pela organização e realização das Cruzadas e pela participação direta e influente da Igreja na formação dos Estados nacionais. No entanto, com as experiências renascentistas e a consolidação da burguesia como classe influente (principalmente a partir do século XV, com a realização da Expansão Ultramarina) a sociedade era diferente daquela marcada pelos laços servis de produção. E para agravar a situação a Igreja praticava notórios abusos. Alguns membros se afastavam da missão clerical e dos ensinamentos de Jesus, realizando atividades incompatíveis com a vida de um membro da Igreja. Muitos compravam cargos eclesiásticos importantes, vendiam relíquias religiosas e cobravam os fiéis pela absolvição dos pecados.

Era notório também que vários papas só haviam chegado ao cargo mais alto da hierarquia religiosa por pertencerem a grupos riquíssimos e influentes da Europa. A situação era tão grave que ocorreram casos de padres que não possuíam se quer instrução para orientar os fiéis e devido a questões políticas e sociais estavam exercendo a carreira religiosa. Ocorria também (e não em menor escala) um comércio fraudulento e ilegal realizado pela Igreja, com a proteção dos fiéis que faziam as maiores doações (maiores quantias de dinheiro) para a Igreja. 

Nesse sentido, a instituição passava por uma considerável crise, já que muitas pessoas estavam insatisfeitas com os abusos da Igreja (veja o texto sobre a Santa Inquisição), desejando uma religião mais acessível e próxima à realidade de seus fiéis (o que adiantaria uma instituição rica e a grande parcela de seus fiéis vivendo na pobreza?).

Acima, “A nave dos loucos”, de H. Bosch, pintado em 1470. Trata-se de uma crítica à Igreja Católica, já que é possível ver um monge e uma freira participando de uma festa em uma taverna.

Consideramos, portanto, que havia o interesse em se reformar a doutrina católica, eliminar os abusos cometidos pelos clérigos, bem como a corrupção. Ou seja, reformar!

As primeiras análises

Podemos concluir, portanto, que a Reforma Protestante está encaixada no ciclo de transformações trazidas pelo Renascimento, pela Expansão Ultramarina e pela consolidação da classe burguesa. A Reforma promoveu mudanças além do campo religioso, envolvendo questões políticas, econômicas e sociais. Tivemos uma incontestável reformulação das doutrinas religiosas, resultado de um movimento ligado ao aparecimento e expansão da classe burguesa. Os princípios que norteavam as atividades da burguesia foram discutidos e trabalhados durante a Reforma, já que a burguesia, ao realizar a acumulação de capital, entrava em choque com as doutrinas eclesiásticas da Igreja Católica (basta lembrarmos que a usura era considerada um pecado).

A própria montagem da acumulação de capital como um pecado vinha do interesse (também) da Igreja Católica Apostólica Romana em manter a hegemonia sócio-econômica na Europa que vivenciava inúmeras transformações. Portanto, dentro da Reforma temos a necessidade em se “montar” uma religião (ou doutrinas religiosas) que legitimassem e estimulassem a acumulação de capital – em outras palavras, que as atividades burguesas não fossem tidas como heréticas ou pecaminosas. Tal processo contou com o apoio (intencional ou não) dos humanistas, que passaram a ler os escritos bíblicos, buscando questionar as doutrinas católicas. A ideia também era divulgar a leitura da Bíblia para que ela pudesse assim ser comentada e analisada individualmente (associamos aqui a questão do homem que faz a leitura da realidade de uma maneira mais particular, postura trabalhada pelos humanistas através do individualismo). Nesse aspecto, Erasmo de Rotterdam publicou, em 1516, uma edição em latim e grego dos evangelhos, sendo seguido por outros, como Lefévre d´Etaples (humanista protegido pela rainha de Navarra, Margarida D´Angoulême), que publicou uma edição francesa do Novo Testamento, em 1521.

Os humanistas cristãos também desenvolveram um papel importantíssimo, buscando reformar “internamente” alguns princípios da Igreja Católica (ou seja, percebemos aqui que alguns membros da Igreja Católica desejavam uma mudança de dentro para fora), mas não obtiveram sucesso. O maior entrave era que para a realização dessas mudanças pretendidas pelos humanistas cristãos era necessária a convocação de um Concílio que as autorizassem, o que não ocorreria já que no momento havia uma intensa disputa de poder dentro da Igreja.

A partir do nosso próximo texto veremos que não houve uma reforma e sim várias, um movimento heterogêneo, por vezes ligado a interesses burgueses, por vezes atendendo interesses estatais, ou mesmo interpretações pessoais. Aguarde.

O humanista Erasmo de Rotterdam foi muito influente no movimento reformista.

A Santa Inquisição

Façamos aqui uma introdução sobre a Santa Inquisição. Em textos posteriores discutiremos seu papel na Contrarreforma.

Primeiramente, vamos definir o que é inquisição. Podemos definir como a ação de inquirir, pesquisar. Em uma abordagem histórica remete ao “tribunal onde se julgavam os crimes em matéria de religião, também designado por Tribunal do Santo Ofício”[2]. Seria, portanto, o ato de investigar judicialmente aqueles que, de um modo ou de outro, se opusessem aos princípios da Igreja Católica.

A Igreja entendia que os pagãos representavam uma ameaça considerável à manutenção do poder e autoridade exercidos pela instituição. Assim, a Santa Inquisição funcionava como um meio de coibir a expansão de doutrinas diferentes daquelas defendidas pela Igreja Católica. Criada oficialmente na Baixa Idade Média, pelo Gregório IX, no chamado Concílio de Toulosse, a Santa Inquisição teve como um dos seus objetivos exterminar os hereges. Em 1320, a Igreja declarou oficialmente que a Bruxaria, e a Antiga Religião dos pagãos constituíam um movimento e uma ameaça considerável ao cristianismo.  

Os inquisidores, então, passaram a investigar e denunciar aqueles que desrespeitassem as doutrinas católicas. Os denunciantes recebiam ajuda financeira da Igreja para indicarem atos de heresia. Alguns fiéis faziam a denúncia para ganhar riquezas ou chegarem mais próximo a Deus (como prometia a Igreja), o que fez com que o movimento de caça às bruxas se tornasse uma atividade lucrativa. O julgamento era relativamente rápido e os acusados, quando considerados culpados, poderiam receber a pena de morte como sentença. Agora repara na imagem acima como o julgamento era super imparcial. Ou o camarada confessava ou as pedrinhas quentes iam para a sola do pé.

Exercícios de revisão

1) Procure informações sobre Erasmo de Rotterdam.

[2] www.priberam.pt