sábado, 3 de setembro de 2022

27º Texto - A Igreja e a Reforma Protestante - 7ºs anos

 27º Texto - A Igreja e a Reforma Protestante

Como estudamos durante este ano letivo, a Igreja durante a Idade Média era uma instituição rica e poderosa, sendo que muitos membros do clero possuíam feudos e servos. Os papas possuíam enorme poder e representação política, algo que pode ser comprovado pela organização e realização das Cruzadas e pela participação direta e influente da Igreja na formação dos Estados nacionais. No entanto, com as experiências renascentistas e a consolidação da burguesia como classe influente (principalmente a partir do século XV, com a realização da Expansão Ultramarina) a sociedade era diferente daquela marcada pelos laços servis de produção. E para agravar a situação a Igreja praticava notórios abusos. Alguns membros se afastavam da missão clerical e dos ensinamentos de Jesus, realizando atividades incompatíveis com a vida de um membro da Igreja. Muitos compravam cargos eclesiásticos importantes, vendiam relíquias religiosas e cobravam os fiéis pela absolvição dos pecados.

Era notório também que vários papas só haviam chegado ao cargo mais alto da hierarquia religiosa por pertencerem a grupos riquíssimos e influentes da Europa. A situação era tão grave que ocorreram casos de padres que não possuíam se quer instrução para orientar os fiéis e devido a questões políticas e sociais estavam exercendo a carreira religiosa. Ocorria também (e não em menor escala) um comércio fraudulento e ilegal realizado pela Igreja, com a proteção dos fiéis que faziam as maiores doações (maiores quantias de dinheiro) para a Igreja. 

Nesse sentido, a instituição passava por uma considerável crise, já que muitas pessoas estavam insatisfeitas com os abusos da Igreja (veja o texto sobre a Santa Inquisição), desejando uma religião mais acessível e próxima à realidade de seus fiéis (o que adiantaria uma instituição rica e a grande parcela de seus fiéis vivendo na pobreza?).

Acima, “A nave dos loucos”, de H. Bosch, pintado em 1470. Trata-se de uma crítica à Igreja Católica, já que é possível ver um monge e uma freira participando de uma festa em uma taverna.

Consideramos, portanto, que havia o interesse em se reformar a doutrina católica, eliminar os abusos cometidos pelos clérigos, bem como a corrupção. Ou seja, reformar!

As primeiras análises

Podemos concluir, portanto, que a Reforma Protestante está encaixada no ciclo de transformações trazidas pelo Renascimento, pela Expansão Ultramarina e pela consolidação da classe burguesa. A Reforma promoveu mudanças além do campo religioso, envolvendo questões políticas, econômicas e sociais. Tivemos uma incontestável reformulação das doutrinas religiosas, resultado de um movimento ligado ao aparecimento e expansão da classe burguesa. Os princípios que norteavam as atividades da burguesia foram discutidos e trabalhados durante a Reforma, já que a burguesia, ao realizar a acumulação de capital, entrava em choque com as doutrinas eclesiásticas da Igreja Católica (basta lembrarmos que a usura era considerada um pecado).

A própria montagem da acumulação de capital como um pecado vinha do interesse (também) da Igreja Católica Apostólica Romana em manter a hegemonia sócio-econômica na Europa que vivenciava inúmeras transformações. Portanto, dentro da Reforma temos a necessidade em se “montar” uma religião (ou doutrinas religiosas) que legitimassem e estimulassem a acumulação de capital – em outras palavras, que as atividades burguesas não fossem tidas como heréticas ou pecaminosas. Tal processo contou com o apoio (intencional ou não) dos humanistas, que passaram a ler os escritos bíblicos, buscando questionar as doutrinas católicas. A ideia também era divulgar a leitura da Bíblia para que ela pudesse assim ser comentada e analisada individualmente (associamos aqui a questão do homem que faz a leitura da realidade de uma maneira mais particular, postura trabalhada pelos humanistas através do individualismo). Nesse aspecto, Erasmo de Rotterdam publicou, em 1516, uma edição em latim e grego dos evangelhos, sendo seguido por outros, como Lefévre d´Etaples (humanista protegido pela rainha de Navarra, Margarida D´Angoulême), que publicou uma edição francesa do Novo Testamento, em 1521.

Os humanistas cristãos também desenvolveram um papel importantíssimo, buscando reformar “internamente” alguns princípios da Igreja Católica (ou seja, percebemos aqui que alguns membros da Igreja Católica desejavam uma mudança de dentro para fora), mas não obtiveram sucesso. O maior entrave era que para a realização dessas mudanças pretendidas pelos humanistas cristãos era necessária a convocação de um Concílio que as autorizassem, o que não ocorreria já que no momento havia uma intensa disputa de poder dentro da Igreja.

A partir do nosso próximo texto veremos que não houve uma reforma e sim várias, um movimento heterogêneo, por vezes ligado a interesses burgueses, por vezes atendendo interesses estatais, ou mesmo interpretações pessoais. Aguarde.

O humanista Erasmo de Rotterdam foi muito influente no movimento reformista.

A Santa Inquisição

Façamos aqui uma introdução sobre a Santa Inquisição. Em textos posteriores discutiremos seu papel na Contrarreforma.

Primeiramente, vamos definir o que é inquisição. Podemos definir como a ação de inquirir, pesquisar. Em uma abordagem histórica remete ao “tribunal onde se julgavam os crimes em matéria de religião, também designado por Tribunal do Santo Ofício”[2]. Seria, portanto, o ato de investigar judicialmente aqueles que, de um modo ou de outro, se opusessem aos princípios da Igreja Católica.

A Igreja entendia que os pagãos representavam uma ameaça considerável à manutenção do poder e autoridade exercidos pela instituição. Assim, a Santa Inquisição funcionava como um meio de coibir a expansão de doutrinas diferentes daquelas defendidas pela Igreja Católica. Criada oficialmente na Baixa Idade Média, pelo Gregório IX, no chamado Concílio de Toulosse, a Santa Inquisição teve como um dos seus objetivos exterminar os hereges. Em 1320, a Igreja declarou oficialmente que a Bruxaria, e a Antiga Religião dos pagãos constituíam um movimento e uma ameaça considerável ao cristianismo.  

Os inquisidores, então, passaram a investigar e denunciar aqueles que desrespeitassem as doutrinas católicas. Os denunciantes recebiam ajuda financeira da Igreja para indicarem atos de heresia. Alguns fiéis faziam a denúncia para ganhar riquezas ou chegarem mais próximo a Deus (como prometia a Igreja), o que fez com que o movimento de caça às bruxas se tornasse uma atividade lucrativa. O julgamento era relativamente rápido e os acusados, quando considerados culpados, poderiam receber a pena de morte como sentença. Agora repara na imagem acima como o julgamento era super imparcial. Ou o camarada confessava ou as pedrinhas quentes iam para a sola do pé.

Exercícios de revisão

1) Procure informações sobre Erasmo de Rotterdam.

[2] www.priberam.pt

Nenhum comentário:

Postar um comentário