quarta-feira, 25 de maio de 2022

12º texto - Os Renascimentos Comercial e Urbano na Europa Medieval - 7º ano

 12º Texto - Os Renascimentos Comercial e Urbano na Europa Medieval

O homem medieval viveu durante seiscentos anos (do século V ao início do XI) uma fase de atividade comercial e vida urbana quase insignificante em partes consideráveis da Europa. Mesmo com as rotas comerciais incríveis dos 
Vikings, é bem verdade que a maior parte da Europa mantinha uma economia agrária de subsistência.

Além disso, grande parte das pessoas vivia nos feudos. As cidades eram poucas e pouquíssimo povoadas. Praticamente não havia uma população urbana. Até que novas técnicas agrícolas surgiram, os invernos acabaram se tornando menos rigorosos, houve um recuo das invasões e, consequentemente, paz nos campos. A Europa Feudal se transformava, tendo início os renascimentos comercial e urbano.

Vamos tratar primeiramente do Renascimento Comercial, até porque ele foi o agente que possibilitou a ocorrência do Renascimento Urbano.

Podemos afirmar que o Renascimento Comercial ocorreu devido à expansão das áreas produtivas. Isso significa dizer que a produção foi além dos feudos e que muitas áreas de floresta se tornaram campos produtivos, levando à produção de excedentes e ao reaparecimento do sistema monetário. Com o excesso da produção, alguns camponeses que viviam nas chamadas villas começaram a comprar e revender o que fora produzido. Passaram a viver da troca de mercadoria. É destacável para a ocorrência de todo esse processo o papel fundamental das Cruzadas e a decadência do Império Bizantino. O Renascimento Comercial foi o elemento que levou ao fim do do Feudalismo e o início do Capitalismo. 

Já o Renascimento Urbano foi um processo que variou muito na Europa Medieval. O que é comum é o fato de que o desenvolvimento das cidades esteve ligado à expansão das atividades comerciais.

As cidades passaram a se tornarem mais comuns no final do século XI, sendo que algumas surgiram e outras tantas foram repovoadas. As inovações agrícolas também permitiram que parte da população que morava nos campos fosse para as cidades em busca de outras atividades, tais como comércio e o artesanato.

 As cidades fortificadas que surgiram passaram a ser chamadas de burgos e seus habitantes foram denominados de burgueses. As cidades cresceram com o aumento das atividades mercantis, realizadas nas ruas pelos mercadores e em feiras que eram realizadas periodicamente. Nas feiras, urbanas ou rurais, eram vendidos tecidos, couros, peles e artigos dos mais variados tipos. Nas feiras também ocorriam apresentações teatrais.

Abaixo, um típico burgo medieval.

Os comerciantes, desde o início, buscaram se associar. Essas associações ficaram conhecidas por:

- Guildas (associação de mercadores de uma mesma cidade) ou;

- Hansas (quando comerciantes de várias cidades estavam associados).

O propósito dessas associações era garantir proteção a seus associados contra a concorrência de outros comerciantes. A maior das associações foi a Liga Hanseática, ou a Hansa Teotônica, que contava com a presença de cerca de oitenta cidades do norte europeu.

Façamos aqui uma ressalva muito importante! Essa ideia de Renascimento não deve ser confundida com os eventos que ocorreram na Europa entre os séculos XIV e XVI primordialmente e estiveram ligados ao renascimento dos valores da cultura greco-romana na sociedade medieval. “O termo Renascimento é comumente aplicado à civilização europeia que se desenvolveu entre 1300 e 1650. Além de reviver a antiga cultura greco-romana, ocorreram nesse período muitos progressos e incontáveis realizações no campo das artes, da literatura e das ciências, que superaram a herança clássica[2].

É inegável que os renascimentos comercial e urbano foram determinantes para a ocorrência do Renascimento, definido muitas vezes como Renascimento Cultural. A sociedade europeia estava em constante transformação surgindo, mesmo que primariamente, o pré-capitalismo europeu.

Esse pré-capitalismo, bem diferente da economia feudal, tinha como características básicas a produção que passou a se destinar ao mercado, indo além dos feudos, as trocas que se tornaram preponderantemente monetárias e o aparecimento gradual da mobilidade social.

Além disso, e talvez o fato mais transformador desse período, foi o desenvolvimento de uma nova classe social, que começou a enxergar o mundo e as suas relações de uma maneira bastante diferente: a BURGUESIA!

Por fim, podemos concluir que o que renasceu em um primeiro momento foram as atividades comerciais; as cidades vieram logo em seguida. Daí para frente o mundo medieval vai se tornar diferente.

Em comum, sejam os Renascimentos Comercial e Urbano, seja o Renascimento Cultural, foi a presença marcante da burguesia, que se fortalecia. Do comércio, vieram as cidades. As cidades abriram espaço para um novo modo de se enxergar o mundo e as relações nele presentes. Eis o nascimento da Renascença (o Renascimento) e suas inovações.

Um comerciante medieval e suas mulas. Mais resistentes que os cavalos, eram ideais para carregarem as mercadorias de um burgo a outro.


As Cruzadas foram fundamentais para a ocorrência do Renascimento Comercial. A 4ª. “Cruzada (1202-04) é considerada a mais importante, pois foi responsável pela ‘reabertura’ do Mar Mediterrâneo. Foi a primeira cruzada marítima, financiada pelo mercadores de Veneza, que passaram a monopolizar o comércio com Constantinopla[3]. Na imagem, uma feira medieval.


Exercícios de revisão

1) E em São Caetano do Sul existe alguma associação que represente os comerciantes da cidade? Pesquise e coloque as principais informações nas linhas abaixo.

2) Quais as principais diferenças que você percebe entre um burgo e um feudo? Escreva ao menos duas.

13º texto - A Baixa Idade Média - 7º ano

 13º Texto - A Baixa Idade Média

Muitos foram os fatos que mostraram que a Baixa Idade Média já apresentava características muito diferentes da Alta Idade Média. Se tivéssemos uma máquina do tempo e pudéssemos visitar o século VII, na Alta Idade Média, e depois o século XIV, já na Baixa Idade Média, voltaríamos com a certeza de que a sociedade não era a mesma, isso é fato. Nos cabe agora comprovar essa afirmação.   

Conforme visto no texto passado, a produção agrícola aumentou de maneira significativa entre os séculos X e XI. E muitos fatores contribuíram para que isso ocorresse. Vale lembrar que a produção agrícola, em algumas áreas da Europa Medieval, obedecia a um sistema conhecido por bienal. Isso significa dizer que a terra era dividida em dois lotes, sendo que um produzia e outro ficava em descanso (em pousio[2]). Assim, a área em descanso voltava a ser fértil. O problema era que se em um ano as áreas com cultivo fossem atingidas por geadas, certamente as populações passariam fome. Além do fato de se produzir menos, já que 50% das terras estavam em descanso.

  Porém, a partir do século VIII, algumas áreas centrais da Europa começaram a utilizar o sistema trienal. A terra agora era dividida em três lotes. Isso, segundo o historiador Charles Parain, pode ser compreendido “como a maior inovação agrícola da Idade Média[3]. E ele tem motivos de sobra para afirmar isso. Acompanhe a tabela abaixo:

Sistema Trienal

Campo A

Campo B

Campo C

Ano 1

Trigo e centeio

Descanso (pousio)

Aveia

Ano 2

Aveia

Trigo e centeio

Descanso (pousio)

Ano 3

Descanso (pousio)

Aveia

Trigo e centeio

Com o sistema trienal apenas 1/3 da terra ficava sem produzir, o que aumentou a produção em cerca de 30%, se compararmos com o sistema bienal. O aumento na produção dos alimentos levou a uma queda nas taxas de mortalidade, decorrentes de surtos de fome, comuns na Alta Idade Média, além de levar à produção do excedente, que começou a ser comercializado nas feiras e villas[4].

Outro fator recentemente apresentado pelos historiadores, com o auxílio de outros cientistas, foi o fato de que os invernos a partir do século XI começaram a se tornar menos rigorosos, o que fez com que as plantações não sofressem tanto com as geadas e as pessoas não morressem de frio. Com o aumento da população, muitas áreas tornaram-se campos cultiváveis. Não seria exagero pensar que a figura do camponês derrubando árvores para iniciar o plantio em um campo fosse a imagem mais comum do início da Baixa Idade Média.

Tais eventos, no entanto, auxiliaram a ocorrência das crises medievais. Sem os mesmos, muito provavelmente as crises não teriam ocorrido com tamanha intensidade. 

As crises...

O aumento populacional levou a um problema simples: o esgotamento dos feudos. Muitos eram os camponeses marginalizados. Marginalizados literalmente, já que viviam às margens dos feudos. Muitos começavam a roubar para poder sobreviver. Outros, como vimos, viviam dos excedentes, revendendo-os nos burgos e feiras. Estes deram origem aos comerciantes. Aliás, a cidade passou a assumir o sinônimo de liberdade. Por isso, Leo Huberman escreveu o seguinte em seu livro “A história da riqueza do homem”: “A população das cidades queria liberdade. Queria ir e vir quando lhe aprouvesse. Um velho provérbio alemão, aplicável a toda a Europa Ocidental, ‘o ar da cidade torna um homem livre’[5]. Huberman conclui seu raciocínio com uma brincadeira. “Se Lorris e as demais cidades possuíssem a técnica de anúncios de beira de estrada do século XX, poderiam ter usado um letreiro como este:” [6]   

Assim, fica claro que as cidades começaram a colocar em dúvida a figura do feudo e da servidão medieval. Muitos senhores feudais, a princípio, não notaram a influência que os burgos teriam sobre o fim da economia medieval. Só a partir do século XIV isso ficou muito nítido. E daí para a instauração de novas taxas, novos impostos, foi um pulo. Cientes da riqueza dos burgos e buscando manter os seus privilégios, muitos senhores feudais passaram a criar novas obrigações. Alguns reinos, como veremos a seguir, buscando manter o exército e os privilégios da nobreza, aumentaram seus impostos e instituíram outros tantos. Muitas revoltas camponesas começaram a ocorrer. Nessas revoltas, ficava claro que os camponeses já enxergavam a sociedade de uma forma diferente, e as cidades contribuíram muito para isso.  

E quanto aos camponeses marginalizados, como se livrar desse “problema”? Em um texto anterior, lido por nós, apresentamos um documento histórico onde o papa Urbano II dava uma solução prática ao problema: enviar alguns camponeses para lutar nas Cruzadas. Assim, várias situações eram resolvidas: um “exército” era formado praticamente sem custo algum; novas áreas poderiam ser conquistadas, ajudando a resolver o problema da nobreza despossuída, além de impedir que uma massa de camponeses marginalizados tivesse tempo para roubar ou mesmo iniciar uma revolta.

As Cruzadas também auxiliaram na ocorrência das crises da Baixa Idade Média. Com elas, novas rotas comerciais foram abertas. No lugar da economia medieval, assumia a economia com forte apelo comercial, uma economia que daria origem ao capitalismo.

As crises epidêmicas

As crises epidêmicas pelas quais a humanidade já passou tornam-se fatos históricos de tamanha importância que muitos são os filmes, livros e imagens que registram o assunto. Elas mudam a forma como as pessoas encaram a sociedade, a vida. Vamos lembrar um caso próximo: a gripe relacionada ao vírus H1N1 (popularmente conhecida como gripe suína). Originada no México, ela fez com que a capital daquele país ficasse com as ruas vazias no período de surto[7] da doença. Isso porque as pessoas ficaram com medo de contrair a doença.

Aqui no Brasil, aulas foram suspensas, o álcool gel ficou bem conhecido, além de a gente relembrar que, na hora de expirar, a mãozinha deve cobrir o nariz...

E, recentemente, outra doença viral provocou um quadro muito mais grave. A Covid-19 foi responsável por dar início a uma pandemia, e que levou até maio de 2022 à morte de cerca 6.300.000 pessoas 

Na Idade Média muitas foram as crises epidêmicas e algumas vezes as doenças assumiram o (triste) papel de segregação[8] social. Trataremos deste assunto a partir de agora, lembrando que estamos falando de vidas, portanto, algo bastante sério.

Muitos livros de História dão conta de que os surtos de peste foram trazidos do Oriente, com as Cruzadas. Mas vale lembrar que antes das Cruzadas, bem antes, a Europa Medieval era assolada por crises epidêmicas. É fato, no entanto, que o maior surto se iniciou entre os séculos XII e XIV, se estendendo por muitos anos. A forma mais comumente conhecida foi a peste bubônica. A peste bubônica ficou popularmente conhecida como peste negra. Cerca de um terço da população da Europa morreu em virtude dessa doença. Para você ter uma simples ideia, é como se de três pessoas que viviam na época uma tivesse contraído a peste e morrido. No período, todas as explicações partiam da questão religiosa. Assim, Boccacio (citado no início desse texto), buscou justificar a ocorrência da peste como “um justo castigo divino”. E não só ele, mas muitas outras pessoas que viveram no período.

Hoje sabemos que a peste é transmitida pelas pulgas que se alimentam do sangue dos ratos e depois se alimentam do nosso. Elas transmitem uma bactéria que só foi descoberta bem no final do século XIX e recebeu o nome de Yersinia pestis. Muito mais forte do que os soldados medievais, a Yersinia não fazia distinção entre camponeses, senhores feudais e padres. Matou muitas, muitas, pessoas. Como os hábitos de higiene não eram muito comuns (na verdade, não eram praticados), as pessoas constantemente carregavam pulgas nas roupas. Assim, uma passava para a outra e, em poucos dias, o camponês, o senhor feudal, o padre apresentavam um quadro febril, seguido de um inchaço nas juntas (os bulbos), marcado por uma cor rubra (um vermelho bem escuro), indicando a necrose, ou seja, o apodrecimento dos tecidos, vasos sanguíneos e carne. Era a peste se manifestando dias após a picada da pulga.

Mas não foi só a peste bubônica que matou na Idade Média. Tivemos a peste pneumônica, muito pior inclusive. A peste pneumônica, acreditam os cientistas, seria decorrente da bubônica, só que transmitida por gotas de saliva. Se a bubônica era transmitida pela picada da pulga, bastava um doente tossir próximo a alguém sem cobrir a boca que a pneumônica se espalhava. E a doença se manifestava com uma força maior.

Havia outra doença que isolava pessoas e matava na Idade Média: a Hanseníase, popularmente conhecida como lepra. A doença “é infecciosa, de evolução crônica (muito longa) causada pelo Mycobacterium leprae, micro-organismo que acomete principalmente a pele e os nervos das extremidades do corpo. A doença tem um passado triste, de discriminação e isolamento dos doentes, que hoje já não existe e nem é necessário, pois a doença pode ser tratada e curada[9]. Mas, na Idade Média, as pessoas com hanseníase viviam isoladas da sociedade. Eram criados locais onde muitas delas passavam a viver, chamados de leprosários ou gafarias. Quem possuísse a doença deveria andar com objetos de metal pendurados pelo corpo, indicando que estava se aproximando. Talvez este seja o traço mais cruel das doenças na Idade Média: a segregação social.

Com as crises epidêmicas, a morte passou a ser representada com maior ênfase na Idade Média. Muitos foram os registros da doença. A religião também se manifestava na forma como as pessoas entendiam as doenças. Sem os equipamentos e o conhecimento que possuímos, as explicações eram praticamente todas pautadas nos princípios religiosos.


 

 

 

 

 

 

 

 Além do mais

Com a morte de muitos camponeses, várias foram as regiões da Europa que ficaram sem produzir absolutamente nada. Sem alimento a situação ficava cada vez pior. Só para termos uma ideia, muitas foram as regiões que quase viram pequenos reinos e feudos desaparecerem porque não havia gente para trabalhar. Morreu muita gente mesmo. Há um documento histórico que confirma isso: “A fim de que meus escritos não pereçam[10] juntamente com o autor, e este trabalho não seja destruído... deixo meu pergaminho[11] para ser continuado, caso algum dos membros da raça de Adão possa sobreviver à morte e queira continuar o trabalho por mim iniciado” [12].

Ficou claro que o homem medieval que escreveu as linhas acima não acreditava que alguém pudesse sair vivo de tamanha tragédia. E ele tinha motivos para isso. No final do século XIV a peste matava 200 pessoas por dia em Londres e cerca de 800 em Paris. O dado a seguir é ainda mais impressionante. Houve anos onde os índices de morte superaram os 700% de acréscimo, se comparados aos anos onde as crises epidêmicas não se manifestaram[13].

Sem camponeses, o sistema feudal se enfraquecia. Foram as crises epidêmicas uma das principais causas do fim do feudalismo, sem dúvidas.

Exercícios de Revisão

1) Escreva duas características que marcaram a Baixa Idade Média.

2) Como as pessoas contraíam a peste bubônica durante a Idade Média?



[2] Prática agrícola que dividia cultivável em partes (duas no sistema bienal, três no sistema trienal), deixando todo ano, alternadamente, uma dessas áreas sem cultivo, para que a terra naturalmente voltasse a ser fértil

[3] in FRANCO JR., Hilário. A Idade Média – O nascimento do Ocidente. – 6ª. ed. – São Paulo: Brasiliense, 1995. p.44

[4] Lembre-se que já discutimos sobre esse termo.

[5] Huberman, Leo. História da riqueza do homem/ Leo Huberman; tradução de Waltensir Dutra. – 21ª. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. p. 28

[6] Huberman, Leo. História da riqueza do homem/ Leo Huberman; tradução de Waltensir Dutra. – 21ª. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. p. 29

[7] Período onde a doença está se espalhando.

[8] Divisão, isolamento, separação

[9] www.dermatologia.net

[10] do verbo perecer, em nosso texto tem o significado de se perder, desaparecer, “morrer”.

[11] Uma espécie de folha onde se escreviam documentos, textos, cartas. Poderia ser feito de pele de animal. 

[12] in Huberman, Leo. História da riqueza do homem/ Leo Huberman; tradução de Waltensir Dutra. – 21ª. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. p. 49

[13] Braudel, Fernand, 1902 - 1985. Civilização material, economia e capitalismo séculos XV - XVIII/ Fernand Braudel; tradução Telma Costa. - São Paulo: Martins Fones, 1995. p. 71


14º texto - A partir do século XI - 7º ano

 14º Texto - A partir do século XI

Um dos episódios fundamentais para a transição da Alta para a Baixa Idade Média foi a Cisma do Oriente (ou do Oriente-Ocidente).

Sabemos que um dos poucos elementos que era comum entre os reinos bárbaros e o Império Bizantino era a religião cristã. Até o século VII é correto afirmar que a Igreja em ambas as regiões caminhava próxima, mesmo apresentando algumas diferenças. No entanto, em 726, com o imperador bizantino, chamado Leão III, a situação mudou.

Leão III, descontente com o poder crescente dos monges, que fabricavam as representações das figuras religiosas (as estátuas, por exemplo, chamadas de ícones), mandou destruir todas as imagens, inclusive a imagem de Cristo sobre o portão do palácio. Isso gerou inúmeras revoltas e muitas pessoas foram mortas. Mesmo assim, a medida continuou.

Os monges do império Bizantino passaram a ser severamente perseguidos e passaram a liderar revoltas populares. A situação se agravava. O papa Gregório III interveio na disputa excomungando os iconoclastas (os destruidores de imagens religiosas). Depois de vários conflitos, a imperatriz Irene restabeleceu o culto as imagens. No entanto, já havia se iniciado uma clara divisão entre o cristianismo do Ocidente e do Oriente.

As relações entre clérigos e membros do poder bizantino não eram mais tranquilas, e os patriarcas bizantinos (divulgadores do cristianismo no Império Bizantino) não reconheciam muitas vezes o papa como a autoridade suprema da Igreja Católica. E essa rebeldia era, por vezes, apoiada pelo imperador. Em 1054 a situação tornou-se inevitável, e a Igreja se separou em duas partes:

- Igreja Católica Apostólica Romana, liderada pelo papa;

- Igreja Cristã Ortodoxa, liderada pelo patriarca.

Tal divisão já era previsível. O cristianismo bizantino já era bem diferente do ocidental, sendo que a língua dos cultos no Império Bizantino era o grego e não o latim; e a ideia do purgatório não existia para os bizantinos.

Um dos resultados da Cisma do Oriente foram as Cruzadas, assunto abordado há alguns textos. As Cruzadas também eram consequência da influência muçulmana na península Ibérica e nas terras orientais consideradas sagradas pela Igreja Católica (chamada Terra Santa), além de problemas dentro da sociedade medieval, como o crescimento de uma nobreza despossuída e o colapso de algumas regiões feudais.

Imagem representando o papa Gregório III.


Exercícios de Revisão

1) Pesquise o significado da palavra patriarca e escreva nas linhas abaixo.

2) Escreva duas diferenças entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Cristã Ortodoxa.




15º texto - A formação dos Estados Nacionais - 7º ano

 15º Texto - A formação dos Estados Nacionais

Nos últimos textos você pôde perceber como ocorreu o desenvolvimento de uma “classe” social que se diferenciava dos moldes da sociedade medieval. Mais surpreendente é perceber que a burguesia surgiu justamente por fatores ocorridos dentro do mundo medieval. E foi a burguesia uma das maiores responsáveis pela formação de alguns dos Estados Nacionais. Em algumas situações seu poder político (decorrente do crescimento econômico que conquistara) era tão grande que foI ela quem sentou ao lado do rei para decidir algumas leis, discutir algumas medidas que seriam adotadas, algumas regras que deveriam valer, obviamente pensando no fato de que as atividades comerciais deveriam entrar na pauta de reunião do futuro monarca.

O raciocínio era simples: pergunta o burguês “você irá nos ajudar?”. O rei, sem muitas possibilidades de escolha (e também acreditando que lucraria com a troca), respondia que sim. “Pois bem, iremos financiar e apoiar o seu reino” responderiam os burgueses.

Essa questão do apoio da burguesia ao rei derrubou definitivamente a figura do senhor feudal. Leo Huberman, em seu livro a “História da Riqueza do Homem”, nos mostra isso. Acompanhe um trecho que comprova a nossa afirmação:

O rei fora um aliado forte das cidades na luta contra os senhores feudais. Tudo o que reduzisse a força dos senhores feudais fortalecia o poder real. Em recompensa pela sua ajuda, os cidadãos (aqui como habitantes das cidades, os burgueses) estavam prontos a auxiliar o rei com empréstimos em dinheiro. Isso era importante porque, com dinheiro, o rei podia dispensar a ajuda militar de seus vassalos. Podia contratar e pagar um exército pronto, sempre a seu serviço, sem depender da lealdade de um senhor. Seria também um exército melhor, porque tinha uma única ocupação: lutar. Os soldados feudais não tinham preparo nem organização regular que lhes permitisse atuar em conjunto, com harmonia[2].

Neste primeiro trecho fica claro que a frase “uma mão lava a outra” serviu direitinho para explicar a relação entre os burgueses e os reis. Os burgueses queriam união: uma mesma moeda, leis que funcionassem para todo território e impedissem que, a cada feudo que passassem, os comerciantes tivessem que pagar pedágios e trocar moedas. Além disso, queriam exércitos que combatessem ladrões nas estradas e estradas melhores, facilitando as trocas comerciais. Já o rei precisava de dinheiro para equipar o exército, para eliminar os vínculos de dependência com os seus vassalos (que muitas vezes colocavam dificuldades para auxiliar um suserano que estivesse aumentando seu poder). Nasciam os Estados Nacionais. No entanto, outras situações fizeram parte da montagem das nações durante a Baixa Idade Média.

Portugal e Espanha nos ajudam a apresentar essas outras situações. Vamos começar por essas duas nações que ficam na península Ibérica.

A Reconquista da Península Ibérica (a formação da Espanha e Portugal)

Desde o início do século VIII a península ibérica estava quase totalmente dominada pelos muçulmanos. Eram muitos os califados[3]Os cristãos que lá viviam ocupavam os territórios localizados ao norte da península. A partir do século XI, as Cruzadas no Oriente e as lutas internas pelo poder entre os muçulmanos estimularam os cristãos a retomar os territórios ocupados pelos árabes na Europa. A esse processo damos o nome de Reconquista Cristã, fundamental na formação da Espanha e Portugal. Mas não ache que a burguesia não esteve associada a esse processo. Veremos que o “dedinho” burguês aparece aqui também.

Espanha: aos poucos, os territórios que os cristãos iam conquistando deram origem a reinos como Leão, Castela, Navarra e Aragão. Uma vez constituídos, esses reinos travaram inúmeras lutas entre si, gerando, muitas vezes, o desaparecimento de alguns reinos e o surgimento de outros. As alianças pelo matrimônio também contribuíram para as mudanças das fronteiras. Foi o caso do herdeiro do trono de Aragão, Fernando, que se casou com Isabel, irmã do rei de Leão e Castela.

Mais tarde, essa união daria origem à Espanha. A Espanha, a partir do século XV, contou diretamente com a burguesia para iniciar suas conquistas e formar um vasto império.

Portugal: assim como a Espanha, o estado nacional português se originou dentro do processo denominado de Reconquista Cristã, efetuado na Península Ibérica sob a direção dos reinos cristãos de Leão e de Castela. O então rei de Leão, Afonso VI (1072-1109) pretendia garantir a efetiva reconquista de alguns territórios castelhanos – ainda sob o domínio muçulmano –, bem como expandir os domínios cristãos aos territórios que hoje pertencem a Portugal – ou seja, reconquistá-los.  Para levar a cabo seu projeto, D. Afonso VI contou com o apoio de dois franceses. Esses homens – primos -, chamados Henrique de Borgonha e Raimundo de Borgonha, receberiam como pagamento pelos serviços prestados, as mãos das filhas do rei Afonso VI e os territórios do Condado Portucalense e da Galícia, respectivamente, bem como as áreas castelhanas reconquistadas, que também ficariam sob o domínio de Raimundo de Borgonha. No entanto, todas as áreas reconquistadas estariam sujeitas ao rei Afonso VI. Com a unificação dos reinos de Castela e Leão, agora sob o domínio do rei Raimundo de Borgonha, o Condado Portucalense passou a ser de domínio castelhano.

O Condado Portucalense, localizado no litoral oeste da Península Ibérica, se tornou, no entanto, independente de Castela na primeira metade do século XII (1140), sob o comando do filho de Henrique de Borgonha, o rei Afonso Henriques de Borgonha, inaugurando assim a primeira dinastia portuguesa. Vale lembrar que a burguesia apoiou diretamente essa independência.

A separação de Castela obviamente não ocorreu sem a existência de conflitos. Os monarcas portugueses, no intuito de manter o reino, continuaram os processos de expulsão dos mouros e de luta contra os castelhanos, patrocinados pelos burgueses lusitanos. Os conflitos realizados durante uma parte da Baixa Idade Média (entre os séculos XII e XIV) garantiriam a independência portuguesa, transformando o reino e dando o esboço de suas características políticas, institucionais e territoriais – devemos lembrar, no entanto, que o processo que levaria à efetiva independência de Portugal só se completou no final da Revolução de Avis, no século XIV (com auxílio da burguesia lusitana).

França e Inglaterra

Os casos da França e Inglaterra são interessantes para entendermos a influência da burguesia e a crise do Sistema Feudal. Veremos em textos futuros como tais fatores acabaram levando à Guerra dos Cem Anos. Por enquanto, iremos analisar como essas nações se formaram.

Vamos começar pela França.

França: a formação da França teve início no final do século XII, quando o poder real tomou medidas para enfraquecer a nobreza, por exemplo criando um exército assalariado sob domínio real e taxando os bens da Igreja. Além de controlar a Igreja francesa, o rei Felipe, o Belo, que governou a França entre 1285 e 1314, convocou uma assembleia composta pelo clero, nobreza e representantes das cidades (burguesia) para comunicar suas decisões. Essa assembleia ficou sendo conhecida posteriormente como Estados Gerais.

A burguesia na França foi um misto de parceria e criticas aos futuros reis franceses. A situação, iniciada no século XIII, só foi resolvida no final do século XVIII, na Revolução Francesa. O que nos importa aqui é saber que, desde a formação do reino francês, a burguesia influenciou diretamente os rumos da nação francesa.

Inglaterra: alguns historiadores afirmam que a monarquia inglesa foi um dos casos mais interessantes para explicar as crises medievais e a ascensão da burguesia.

Na Inglaterra a centralização do poder originou-se com Henrique II no século XII, mas enfraqueceu-se durante o governo de seu sucessor, o rei Ricardo Coração de Leão, ausente da Inglaterra durante grande parte de seu reinado, lutando nas Cruzadas.

João Sem-Terra[4] sucedeu Ricardo e logo teve de enfrentar a oposição dos nobres, descontentes com as pesadas taxas que pagavam para sustentar os gastos militares. Pressionado pela nobreza, pelo clero e pela burguesia, João Sem-Terra assinou, em 1215, a Magna Carta, cujo principal objetivo era limitar os poderes do rei. Segundo os historiadores, a burguesia pressionou muito o rei inglês para que o mesmo garantisse a adoção de algumas medidas já neste documento (veja que o trecho que abre o nosso texto fala sobre a nação inglesa).

Uma das muitas representações desse importante momento da História Inglesa!

Além do mais

Você já reparou nos nomes das pessoas que viviam na Idade Média? Temos o Adalberon de Laon, o Gilbert de Neville, o Robert de Bedford... Parece que os sobrenomes das pessoas faziam referência a algum lugar, não é mesmo? Pois bem, não só parece. É isso mesmo.

Laon, por exemplo, é hoje uma cidade francesa, que fica a nordeste de Paris. Possui muitas construções medievais, algumas delas erguidas na época em que era apenas uma das muitas regiões feudais, quando certo bispo Adalberon caminhava por lá. Há outros exemplos, mais famosos eu diria. Leonardo da Vinci adivinha por quê? Porque Leonardo nasceu em Vinci, um povoado próximo à Firenze. Interessante, não é?

Seria assim, caso se pegássemos o caso de algumas pessoas que trabalham na escola: André de São Paulo, Pedro de Piracicaba.

Mas não era só o lugar que determinava o sobrenome de uma pessoa na Idade Média. Na verdade, com o aparecimento das corporações de ofício, com as associações comerciais, algumas pessoas recebiam o nome conforme o seu ofício. No caso do sobrenome Schumacher o significado é sapateiro. E nas terras geladas do norte da Europa muitos foram os sapateiros que se consagraram durante a Idade Média. Afinal, um par de sapatos era artigo de luxo nesse período e, sem exageros, decidia se a pessoa manteria os pés aquecidos ou os veria necrosar por causa do frio.

Já na França a figura do cavaleiro foi bem representativa desde o reino franco, quando Carlos Martel venceu os árabes. Por isso, Chevalier tornou-se um sobrenome comum na França. E chevalier é cavaleiro.

Exercícios de revisão

1) Faça uma breve análise da frase abaixo: "a burguesia não ajudou na formação dos Estados Nacionais". A frase está correta ou não? Argumente.

2) Qual foi o primeiro Estado Nacional a ser formado? Escreva duas características do mesmo.



[2] Huberman, Leo. História da riqueza do homem/ Leo Huberman; tradução de Waltensir Dutra. – 21ª. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. pp.72 – 73 (adaptado)

[3] Domínio controlado por um califa. E califa é... Califa: é o soberano, muitas vezes com poderes espirituais e políticos sobre os muçulmanos. Fazendo apenas uma simples comparação corresponderia a um grande chefe do lado ocidental, mas com mais poder do que um senhor feudal.  

[4] sim, João era um nobre despossuído, um nobre sem terras. Era irmão mais novo de Ricardo.