quarta-feira, 25 de maio de 2022

10º texto - Notas sobre as armas e os guerreiros da Idade Média - 7º ano

 10º texto - Notas sobre as armas e os guerreiros da Idade Média

Olá. Nosso primeiro texto é, na verdade, um esforço em trazer dez fragmentos acerca das armas e os guerreiros medievais, usando como base bibliografia que segue nas notas de rodapé. Vamos começar.

1º fragmento: "Os contatos entre romanos e germânicos, remontam ao século I a.C., quando as fronteiras do mundo romano alcançaram as regiões ao longo dos rios Reno e Danúbio" [2].

Para que possamos efetivamente entender as características que marcaram as armas, os guerreiros e os costumes bélicos da sociedade medieval, precisamos partir de um ponto de origem. E esse ponto é o marcante contato dos romanos com os chamados povos germânicos.

Tal contato esteve diretamente relacionado à Expansão Romana, política expansionista iniciada pelos romanos durante o 2º período dessa civilização, o período republicano.

Roma nasceu em meio a outras civilizações, o que a fez adotar, desde o inicio, uma postura defensiva. Por volta de 275 a.C., os romanos já haviam conquistado todas as regiões da península itálica, passando agora para um desafio bem maior: conquistar as regiões ao redor do mar Mediterrâneo. Em "pouco mais de cinquenta anos, Roma conseguira transformar o Mediterrâneo inteiro em mar romano e todo o mundo grego cairá ante as legiões de Roma"[3].

Um século depois os romanos alargavam suas fronteiras, entrando em contato com povos do centro e do norte europeus, dentre os quais os germanos. Mas, afinal, quem eram os germanos?


"Longe de se constituírem em uma unidade política, subdividiam-se em inúmeras tribos e confederações, quase sempre de base étnico-regional" [4]. Havia desde povos que praticavam a agricultura rudimentar, até cavaleiros nômades, vivendo da guerra, da pilhagem e dos ataques. Não seria errado pensar que o exercício da guerra era elemento fundamental para que um homem germânico fosse entendido como um home livre. Aqui, vamos entrar em nosso segundo fragmento.

Um mapa com a localização dos rios citados. Lembrando que o rio que corta Roma é o Tibre. 

2º fragmento: "Desde os primeiros tempos do Império Romano tornou-se comum o alistamento de germanos ocidentais nas unidades da Guarda Pretoriana; e a partir do século II, a presença de contingentes de germânicos alistados como voluntários, nos exércitos imperiais, foi uma constante" [5]

 O que esse segundo fragmento nos indica? Indica a germanização das forças militares de Roma. Por isso, o professor Cyro de Barros Rezende Filho nos mostra que ainda no Império Romano o termo para designar soldado passa a ser bárbaro. E as fábricas de armamento recebem o sugestivo apelido de oficina dos bárbaros.

Reinos bárbaros podem ser considerados resultados das invasões nas áreas do Império Romano e também de uma sociedade que se militarizou de maneira impressionante, sendo que a figura do soldado, do guerreiro, foi muito valorizada. Conjuntamente, as áreas começavam a se isolar, sendo que as cidades passaram a desaparecer e os proprietários rurais ficaram cada vez mais identificados com a figura de chefes militares. Além disso, esses proprietários passaram a “identificar o Estado cada vez mais fiscalista e opressor, procurando furtar-se às novas obrigações que lhes são impostas[6].

Não há dúvidas de que o conceito que irá marcar a ideia de armas e guerreiros na Idade Média é a conciliação de elementos romanos e bárbaros, mais especificamente germânicos.

Um guarda pretoriano. 

Agora, mergulharemos em nosso terceiro fragmento.

3º fragmento: "Houve de fato uma perda de qualidade bélica do exército romano, durante os séculos IV e V, que pode ser vista por vários aspectos: decréscimo no grau de disciplina e adestramento (abandono da posição de batalha em linha escalonada e adoção da posição massiva de falange); adoção da tática de combater o inimigo à distância, com o abandono do combate corpo-a-corpo (...); valorização do emprego das unidades de cavalaria, em detrimento das de infantaria pesada" [7].  

Há vários pontos aqui a serem destacados. E o principal deve partir do entendimento de que manter e montar um exército requer volumosos recursos. Como a civilização romana atravessava uma violenta crise econômica desde o começo do século II d.C., ficou claro que a quantidade de recursos usados para equipar homens e produzir armas caiu muito. E essa será uma característica marcante da sociedade medieval. Além disso, apesar de presente, raros eram os casos de cavalos usados na guerra.

Guerreiros medievais

4º fragmento: "A profissão militar era a única honorável para esses conquistadores; os guerreiros subsistiam pela posse de terras; seu prestígio variava conforme sua influência junto aos vassalos, arrendatários, locatários e servos" [8]

Aqui já estamos efetivamente tratando do contexto de transição do Império Romano para o universo medieval, onde a sociedade se militarizou a tal ponto que passa a ser representada por pequenos reinos e senhores, na maioria das vezes ligados uns aos outros por vínculos de dependência (as relações de suserania e vassalagem). Ainda temos presente a figura do rei guerreiro, característico em muitas civilizações antigas.

Esses chefes guerreiros passaram a viver em construções fortificadas e as armas a serem guardadas com maior cuidado. Disso deriva a palavra armário, local onde se guardam as armas.

5º fragmento: “civilização nascida das grandes migrações era uma civilização da guerra e da opressão” [9].  

A questão militar é tão forte que até em situações onde não existia um conflito, ela estava presente. Dois exemplos básicos ilustram isso: “os casamentos dos filhos dos reis e de aristocratas pressupõem sempre que um contingente de guerreiros faça parte do dote da noiva. E qualquer funcionário leal, quando no exercício de suas funções administrativas, faz-se sempre acompanhar por uma escolta de guerreiros[x].  

Bem, isso nos ajuda a explicar o porquê de conhecermos a sociedade medieval pelas inúmeras guerras, castelos e guerreiros.

6º fragmento: "Os primeiros castelos eram simples fortificações de madeira. Já no século 14 (...) eles eram feitos de pedra" [10]

Começamos aqui a entender que nem tudo o que nos contam sobre os castelos medievais é efetivamente verdade. Extremamente simples em alguns momentos, constituíam-se, em muitos casos, como a última tentativa em salvar os chefes guerreiros e seus vassalos.

Fato é que castelos medievais jamais foram residências marcadas por ambientes agradáveis. Ao contrário! É sabido que muitas dessas construções eram ambientes bem insalubres, palcos de doenças das mais diversas ordens.

A primeira coisa que devemos ter clareza é de que não havia um padrão de tamanho para os castelos. Havia desde os pequeninos, fortificações feitas de madeira, até grandes construções, que chegavam a abrigar cidades em seus interiores. Dentro dos castelos viviam diversas pessoas, de prestadores de serviços aos membros mais poderosos da sociedade medieval.

Um típico castelo medieval

Diante de uma sociedade profundamente militarizada, castelos cumpriam a função de serem áreas mais seguras (ou menos inseguras). Tomá-los não era tarefa fácil. Havia diversos mecanismos impedindo a entrada dos invasores.

A partir do nosso sétimo fragmento vamos começar a conhecer seus mecanismos de defesa.

7º fragmento: “Para chegar ao portão era preciso atravessar uma ponte levadiça, que podia ser erguida em poucos segundos” [11].

Configuradas como as áreas mais vulneráveis de um castelo, para a segurança do mesmo era comum a presença de fossos cheios de água (havia também os fossos secos), criando uma barreira.

Visando dar uma segurança ainda maior havia ainda uma grade levadiça, que poderia ser baixada sobre os inimigos, matando-os.

Os mecanismos de proteção de um castelo não se limitavam as pontes, grades... Havia fendas estreitas nos muros dos castelos, principalmente na área de passeio (áreas onde os soldados circulavam no topo das muralhas), de onde os soldados jogavam pedras, atiravam flechas, água quente, piche...

8º fragmento: “Pelas leis (...), a cabeça de um bispo valia mais do que a cabeça do rei, tamanho era o respeito pelos eclesiásticos" [12].

É indiscutível que a Igreja Católica era a instituição mais poderosa da Europa Medieval. Se a riqueza estava associada ao domínio da terra, a posse dela, não nos causa surpresa o fato de que a Igreja fosse a maior proprietária, direta e indiretamente. Um dado exemplifica isso: na Inglaterra do século XII, dos 60215 feudos, 28015 pertenciam à Igreja[13].  

Assim, conseguimos entender porque somente com auxílio direto da Igreja as Cruzadas foram possíveis. Óbvio que houve o apoio dos reis mais ricos, comerciantes prósperos... Mas muito da ideologia e das estruturas militares foram constituídas graças ao volumoso capital da Santa Sé.

Se há algo que possa lembrar, mesmo que vagamente, expedições militares de grande volume que marcaram a civilização romana durante a sua expansão, não seria errado citar as Cruzadas. Se bem que...

Bem... Voltaremos a tratar das Cruzadas em breve!

9º fragmento: "A besta ou balestra, arma de arremesso manual de difícil manejo (por seu peso) e custoso recarregamento (necessita de apoio dos pés e da ação simultânea das duas mãos), projeta seus dardos de metal, mais longe, mais rápido e com melhor pontaria, do que os arcos convencionais lançam suas setas" [14].  

Se houve uma arma que aterrorizou os guerreiros medievais foi a besta. Aliás, dado o grau de eficiência da mesma, legislações foram criadas para o seu uso, mas, na maioria das vezes tais legislações não eram cumpridas. A guerra medieval se tornou mais mortal.

A besta só irá perder seu papel de enorme destaque com a introdução da pólvora e a popularização da mesma a partir do século XV.

Tínhamos também a presença de canhões a partir do século XIV. No início, eram apenas tubos de metal presos a estruturas de madeira. E as ameias, estruturas protetoras no topo das muralhas, evitando que o que era lançado para dentro do castelo chegasse ao seu objetivo. 

10º fragmento: "A figura do cavaleiro couraçado, peça fundamental das batalhas do período, sem a qual a própria ideia de guerra era inimaginável, continuava, sendo exclusivamente fornecida (com raríssimas exceções: algumas cidades do norte da Itália) pelo feudo" [15].

Sei que é meio frustrante para os anseios daquelxs que se interessam pela figura do cavaleiro medieval, mas... Raríssimos eram os casos onde as guerras e combates poderiam contar com esses guerreiros. Cavalo, armadura, cavaleiro bem treinado... Tudo isso custava e custava muito. Valores indicam que um cavalo valia doze vezes uma ovelha na Inglaterra do século X[16]. Perder um animal na guerra não seria um bom negócio, não é?

Exercícios de Revisão

1) Produza uma pesquisa sobre um dos assuntos abordados nesse texto. A pesquisa pode ser digitada, mas se for plágio, será desconsiderada.



[2] Rezende Filho, Cyro de Barros. Guerra e guerreiros na Idade Média/ Cyro de Barros Rezende Filho. – São Paulo; Contexto, 1996. (Coleção repensando a história geral). p. 16

[3] Leoni, G. D. “A Literatura de Roma” – 6ª ed. – São Paulo: Livraria Nobel S. A., 1961. p. 31

[4] Rezende Filho, Cyro de Barros. Guerra e guerreiros na Idade Média/ Cyro de Barros Rezende Filho. – São Paulo; Contexto, 1996. (Coleção repensando a história geral). p. 17

[5] Rezende Filho, Cyro de Barros. Guerra e guerreiros na Idade Média/ Cyro de Barros Rezende Filho. – São Paulo; Contexto, 1996. (Coleção repensando a história geral). p. 17

[6] Rezende Filho, Cyro de Barros. Guerra e guerreiros na Idade Média/ Cyro de Barros Rezende Filho. – São Paulo; Contexto, 1996. (Coleção repensando a história geral). p. 23. (modificado)

[7] Rezende Filho, Cyro de Barros. Guerra e guerreiros na Idade Média/ Cyro de Barros Rezende Filho. – São Paulo; Contexto, 1996. (Coleção repensando a história geral). p. 23. (modificado) p. 16

[8] Hume, David. 1711 - 1776. História da Inglaterra: da invasão de Júlio César à Revolução de 1688/ David Hume; seleção, tradução, apresentação e notas de Pedro Paulo Pimenta. - 2ª ed. -São Paulo: Editora UNESP, 2017. pp. 33-34 

[9] Duby, G. Guerreiros e camponeses. Trad., Lisboa: Estampa, 1980. In Rezende Filho, Cyro de Barros. Guerra e guerreiros na Idade Média/ Cyro de Barros Rezende Filho. – São Paulo; Contexto, 1996. (Coleção repensando a história geral). p. 27.

[10] Rezende Filho, Cyro de Barros. Guerra e guerreiros na Idade Média/ Cyro de Barros Rezende Filho. – São Paulo; Contexto, 1996. (Coleção repensando a história geral). p. 28. (modificado)

[11] Conhecer por Dentro. São Paulo: Empresa Folha da Manhã S. A., 1995. p. 8

[12] Conhecer por Dentro. São Paulo: Empresa Folha da Manhã S. A., 1995. p. 8

[13] Hume, David. 1711 - 1776. História da Inglaterra: da invasão de Júlio César à Revolução de 1688/ David Hume; seleção, tradução, apresentação e notas de Pedro Paulo Pimenta. - 2ª ed. -São Paulo: Editora UNESP, 2017. p. 51.

[14] Rezende Filho, Cyro de Barros. Guerra e guerreiros na Idade Média/ Cyro de Barros Rezende Filho. – São Paulo; Contexto, 1996. (Coleção repensando a história geral). p. 71.

[15] Rezende Filho, Cyro de Barros. Guerra e guerreiros na Idade Média/ Cyro de Barros Rezende Filho. – São Paulo; Contexto, 1996. (Coleção repensando a história geral). p. 71.

[16] Hume, David. 1711 - 1776. História da Inglaterra: da invasão de Júlio César à Revolução de 1688/ David Hume; p. 58;

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