19º texto - Uma análise histórica sobre a Astronomia – a astronomia na Roma Antiga e na Idade Média
Olá! Só poderemos ter a real compreensão do papel do Renascimento na humanidade analisarmos o que havia antes da Renascença. Por isso, nosso texto aborda o desenvolvimento da Astronomia no decorrer da História.
Iremos conhecer melhor como a Astronomia se
desenvolveu entre os séculos II d.C. até o despertar da Renascença, sem, no
entanto, entrar na análise do Renascimento, o que será feito nos textos
vindouros.
Se existe um período histórico mal compreendido, esse período é a Idade
Média. Vamos ter a oportunidade nesse texto de entender um pouco melhor o que
ocorreu entre os séculos V d.C. – XV d.C.
A figura de Ptolomeu
Cláudio Ptolomeu (90 – 160 d.C.) foi um importante astrônomo, geógrafo e
matemático. Nascido em Alexandria, no Egito, cidade formada a partir da invasão
macedônica sobre as áreas ao redor do mar Mediterrâneo, Ptolomeu sintetizou
muito bem a atmosfera do período. Alexandria exalava cultura, era um centro
cultural e intelectual por excelência[2]! Além disso,
Ptolomeu deixou muito claro a ideia de que no período em que realizou as suas
pesquisas a diferença entre astronomia e astrologia era algo sutil,
inexistente, para ser mais exato. Havia uma mescla constante entre ciência e
misticismo, astronomia e astrologia.
Considerado um pensador grego, Ptolomeu, na verdade, viveu em terras que
estavam sob o domínio romano, consequência de um processo expansionista
iniciado no século III a.C. Roma controlava todas as regiões ao redor do mar
Mediterrâneo, definindo-o inclusive como mare nostrum (nosso
mar). Foi Ptolomeu o primeiro a formular o sistema planetário geocêntrico. Na
primeira versão do seu modelo, admitia que quanto mais distantes estivessem os
astros da Terra, mais tempo levariam para dar uma volta em torno dela. E visando
sanar o problema que aparecia quando se constatava que alguns corpos celestes
parecem ter a sua trajetória freada em determinados momentos, Ptolomeu propôs a
teoria das semiórbitas, chamadas de epiciclos, retomando uma ideia trabalhada
por Hiparco[3].
Em resumo, epiciclos seriam pequenos círculos formados por um astro ao redor de
um ponto imaginário, descrevendo, a partir desse novo ponto, outro círculo.
A ideia dos epiciclos.
O Universo ptolomaico!
Fato é que o triunfo ptolomaico, pelo menos para o
período, esteve associado a ideia de que o pensador de Alexandria utilizou os
princípios e dogmas daquele que era definido como o maior nome até então,
Aristóteles. Partindo das observações aristotélicas, Ptolomeu desenvolveu um
sistema geométrico-numérico, partindo também das observações feitas pelos
mesopotâmicos, para descrever os movimentos celestes. E Ptolomeu só conseguiu
ter acesso a tal gama de informações porque era em Alexandria que se reuniam
obras e escritos vindos do Oriente e de outras partes do mundo conhecido até
então.
“Na construção de seu sistema, Ptolomeu deu continuidade aos
primeiros modelos astronômicos propostos por filósofos gregos, dentre esses
Tales de Mileto, Anaximandro e Aristarco. A maioria desses modelos tinha em
comum o geocentrismo. Os gregos imaginavam a Terra imóvel no centro da esfera celeste
(Universo). Geralmente esses modelos eram difíceis de ser compreendidos pelos
leigos porque as explicações afirmavam que o funcionamento do universo era
composto por esferas concêntricas (possuíam centro comum) e transparentes. O
modelo de Aristarco[5] foi o único que fugia ao geocentrismo e propunha um
funcionamento diferente do universo. Suas ideias caminham na direção do modelo
heliocêntrico” [6].
O que Cláudio Ptolomeu fizera foi sistematizar em um único sistema todo
o conhecimento astronômico que havia sido formulado até então. E, diante disso,
obviamente retomou algumas ideias presentes no período. Entre elas estão a de
que a Terra estaria imóvel no centro do universo e de que a mesma estaria envolvida
por muitas esferas transparentes.
Como vimos, Ptolomeu também explicou que os movimentos dos astros se
devia à esfera correspondente. E que tais esferas estariam organizadas, como já
vimos, a partir da Terra no centro, seguindo a ordem: esfera da Lua, de
Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno, vindo logo em seguida a esfera
das estrelas fixas. “Nesse sistema todos os movimentos aparentes (vistos da
Terra) eram explicados com base em círculos, esferas e movimentos uniformes sem
necessidade de nenhuma comprovação prática” [7].
A ideia do círculo como a expressão máxima da
perfeição (redundante isso!) encontrou campo por toda a História Antiga, bem
como nos períodos vindouros. O desenho feito por Leonardo da Vinci (1452 -
1519), chamado Homem Vitruviano, é uma clara alusão às ideias do arquiteto
romano, Vitruvius Pollio (século I d.C.), um dos homens da Antiguidade Clássica
que mais buscou estruturar suas ideias a partir das relações de simetria e
perfeição. Para Vitruvius o círculo guardava essas duas qualidades.
“Homem Vitruviano”, de Leonardo da Vinci.
Sendo assim, concluímos que, partindo das observações de Ptolomeu, o
funcionamento do universo poderia ser explicado a partir de dois princípios
básicos. Seriam eles: a esfericidade dos céus e da Terra, o chamado
geocentrismo, e o geostatismo, teoria que defendia a ideia de que a Terra
permanecia imóvel. Ptolomeu também se utilizou da ideia de que os corpos
celestes seriam formados por uma substância desconhecida, o chamado éter.
A grande obra de Ptolomeu foi o famoso “Almagesto”,
que significa “a grande coleção”, ou grande síntese. Essa obra era composta por
treze volumes, sendo conhecida no Ocidente a partir de uma versão em árabe.
Ptolomeu criou uma eficiente explicação para o movimento retrógrado dos planetas no modelo geocêntrico.
A maior parte dos trabalhos ptolomaicos estava associada ao campo
da geografia, inclusive com a confecção de mapas. Reconstruções de mapas com as
observações de Ptolomeu.
A Astronomia na Idade Média
Criou-se e popularizou-se nos mais diversos meios de divulgação a ideia
de que a Idade Média foi um período marcado pela ignorância, pela obscuridade,
o abandono do uso da razão e outras coisas do tipo. Tanto que a Idade Média
recebeu o sugestivo termo de “Era das Trevas”. Curioso é pensarmos que o
Renascimento começou a se desenvolver justamente na Idade Média, estando ligado
às indagações que o homem medieval fazia acerca das coisas do mundo. Portanto,
a definição de Idade Média, se adotada de forma literal, cai em erros
consideráveis.
É fato que o desenvolvimento científico durante o período medieval
esteve nas mãos do que determinava as teorias religiosas. “Durante a Idade
Média a Igreja Católica foi gradativamente construindo a autoridade intelectual
fundamentada na teologia. Essa autoridade dominou quase toda a Europa durante
séculos” [8].
Consequência disso foi o fato de que “a relação entre ciência e técnica
praticamente inexistiu. Não havia aplicação prática para o saber científico”
[9]. Daí, o cometer erros, a prática de se formular teorias que
beiram o absurdo se torna mais fáceis de ocorrer.
Posto isso, antes de começarmos a analisarmos o desenvolvimento da
Astronomia nesse período, façamos uma distinção. Iremos falar de Astronomia
Medieval dividindo a mesma em dois momentos: antes (que será tratado nesse
texto) e durante a Renascença, entendendo o Renascimento como um movimento
profundamente e cronologicamente ligado à Idade Média. Vamos começar!
O Teocentrismo fundamentando a Astronomia.
Como vimos, a sociedade feudal tinha como uma das principais
características a cultura teocêntrica, ou seja, “todo o poder político
girava em torno da autoridade religiosa, da fé”[10]. Assim,
o clero possuía um enorme poder.
Tomás de Aquino. A simbiose entre a concepção aristotélica do Universo e as afirmações encontradas em documentos sagrados (Antigo Testamento) foi definida como filosofia escolástica.
Diante disso, o principal nome científico no campo da Astronomia antes
da Renascença foi um clérigo do século XII: Tomás de Aquino (1225 – 1274). O
frade da Ordem dos Pregadores (dominicano) nasceu na península Itálica, em
Roccasecca, tendo desenvolvido extenso trabalho nos campos da teologia e da
filosofia, partindo das análises feitas por Aristóteles, se referindo inclusive
ao grego como “o Filósofo”.
O grande legado de Tomás de Aquino foi a promoção de uma simbiose entre
a ciência grega e a fé católica, confirmando o que a pouco afirmamos. Conciliou
a razão natural com a teologia especulativa, ajudando a fazer permanecer as
ideias geocêntricas e geostáticas pelos séculos seguintes.
No entanto, além de Tomás de Aquino, há outras observações sobre a
Astronomia no decorrer da Idade Média, todas elas diretamente influenciadas
pelas ideias aristotélicas e ptolomaicas. As maiores contribuições para o
desenvolvimento da ciência como Astronomia, no entanto, não vieram dos povos da
Europa, nem daqueles que viveram nos séculos anteriores à Era Cristã. Vieram do
Oriente. Árabes e chineses carregam conhecimento considerável sobre os
fenômenos celestes. E, através dos contatos mais frequentes entre esses povos e
os europeus a partir da Baixa Idade Média (XII – XV), a Europa começou a
assistir um insistente movimento de se repensar a ciência a partir de outros
vieses. É nesse contexto que vemos emergir Giordano Bruno, Nicolau Copérnico,
Galileu Galilei, Johannes Kepler.
Para você ter uma ideia de como as observações realizadas pelos povos
orientais eram muito mais complexas do que as verificadas na Europa Medieval,
leia essa narrativa: “Em 1504, os astrônomos chineses saudaram a aparição de
uma nova estrela no Céu, tão brilhante que era visível à luz do dia. Ela
desapareceu alguns meses depois. Sem saber, haviam observado uma explosão
ocorrida milhares de anos antes. Essas estrelas que explodem são chamadas de
supernovas”[11].
Uma supernova.
[2] Para uma melhor compreensão sobre a importância da cidade de Alexandria para o período, vide http://respirehistoria.blogspot.com.br/2015/01/arquimedes-de-siracusa-2-parte.html
[3] Para conhecer quem foi Hiparco, leia http://respirehistoria.blogspot.com.br/2015/03/uma-analise-historica-sobre-astronomia.html
[4] http://www.fis.unb.br/observatorio/notasdeaula/aula2.pdf
[5] Trabalhado no texto
http://respirehistoria.blogspot.com.br/2015/03/uma-analise-historica-sobre-astronomia.html
[6] Filosofia e
modernidade: reflexão sobre o conhecimento / organização de Daniel Pansarelli,
Suze Piza. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2008. p.
109. Adaptado.
[7] Filosofia e modernidade: reflexão sobre o conhecimento / organização de Daniel Pansarelli, Suze Piza. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2008. pp. 109 -110.
[8] Filosofia e
modernidade: reflexão sobre o conhecimento / organização de Daniel Pansarelli,
Suze Piza. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2008. p.
108.
[9] Filosofia e
modernidade: reflexão sobre o conhecimento / organização de Daniel Pansarelli,
Suze Piza. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2008. p.
107.
[10] PAZZINATO, A L.;
SENISE, M. H. V. - História Moderna e Contemporânea. 6a. Edição. - São Paulo:
Editora Ática, 1997. p. 8.
[11] A Criação do Mundo – mitos e lendas RAGACHE, Claude-Catherine. Marcel Laverdet (ilustrações); Tradução de Ana Maria Machado. São Paulo: Ática, 1994. p. 44.
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