terça-feira, 24 de maio de 2022

18º texto - A Europa do século XIV - 2ª parte

 18º Texto - A Europa do século XIV - 2ª parte

No texto passado você pôde conhecer com maiores detalhes quais fatores levaram à ocorrência de novos processos, a maioria deles transformadores, na Europa. Viu que o Humanismo, uma das bases do Renascimento, se iniciou na península Itálica. E que, dentro desse movimento, os sábios bizantinos auxiliaram na expansão dos estudos humanistas. Pois bem, nessa segunda parte você irá ler e aprender de uma forma mais detalhada como isso ocorreu.

Com a divisão do império Romano em duas partes, em 395 d.C., surgia o Império Romano do Oriente, ou Império Bizantino. O lado ocidental (Império Romano do Ocidente) iria sucumbir em 476 d.C. nas mãos do bárbaro Odoacro. No entanto, o lado oriental aparecia como uma rica e moderna civilização.

Com uma extensa rede urbana (com cidades e estradas as interligando) e intensa atividade marítima-comercial, o Império Bizantino era aclamado como um dos locais mais prósperos. Constantinopla recebeu o título de “grande empório[2] do mundo”. Comerciantes vindos de várias partes do Oriente realizavam trocas comerciais. Árabes tinham um profundo contato com os bizantinos, contribuindo para o progresso cultural e econômico do Império Bizantino. Traziam além de mercadorias e riquezas a prática de guardar os escritos em bibliotecas, o culto à ciência, o estudo das obras clássicas – como as de Platão e Aristóteles – e a busca da compreensão das ações humanas, auxiliados pelo estudo histórico.

Para se ter uma ideia da influência dos escritos greco-romanos no Império Bizantino, no século VI o imperador Justiniano (527-565) encabeçou a organização do Corpus Juris Dominici, ou Código Justiniano, profundamente influenciado pelo direito romano e com claras referências as obras gregas[3]. Com uma rica produção cultural, o Império Bizantino assumia um caráter cosmopolita[4]. Diversos povos, inúmeras culturas, bibliotecas repletas de obras raras, pensadores ilustres, uma riqueza cultural gigantesca.

Constantinopla era o local onde mais se produzia arte durante os séculos VI e XIII. A educação também possuía um papel de destaque na sociedade bizantina. ”Os estudos começavam nas ‘escolas’, com jovens entre 5 e 6 anos. O primeiro contato com as letras era seguido pela gramática e posteriormente pela retórica[5]. Aos 18 anos podia-se ingressar na universidade, onde eram ministrados conhecimentos gerais de filosofia, matemática, geometria, música e astronomia[6].

Na literatura não era diferente. Os bizantinos retomavam os clássicos gregos, seja para produzir obras com profundo teor histórico, seja para trabalhar outros temas. Há historiadores que consideram que a obra literária do Império Bizantino muitas vezes se limitava a uma imitação dos clássicos gregos.

Esse fervor cultural presente no Império Bizantino começou a sofrer quedas consideráveis a partir do século XI. Politicamente podemos considerar que o Império Bizantino não viveu momentos de tranquilidade já a partir do século VIII, situação que piorou com a Cisma do Oriente, em 1054.

A partir desse momento o Império Bizantino confirmava a ideia de separação com a Europa Ocidental e se via cada vez mais pressionado por povos orientais. Entre os séculos XIII e XV o Império Bizantino sofreu sucessivas invasões. Na 4ª. Cruzada venezianos saquearam a cidade de Constantinopla; no século XIV uma série de invasões orientais assolou o Império, até que, em 1453, Constantinopla foi invadida e tomada pelos turcos otomanos.

Diante da situação, os sábios bizantinos buscaram refúgio e proteção na península Itálica, carregando em suas bagagens obras e escritos clássicos, fundamentais para a expansão do Renascimento. Era o tempero que faltava para que o trabalho dos pensadores da península Itálica ganhasse um brilho maior, se tornasse único, histórico!

Imagem de uma biblioteca em Constantinopla. Foram os escritos vindos do Oriente e as pessoas ligadas ao Renascimento que consolidaram entre as culturas ocidentais a imagem do livro como fonte do conhecimento.

Além do mais

Como as pessoas sabiam que estavam passando de um momento histórico para o outro? Como definir uma nova etapa da Humanidade?

Nenhum europeu deitou para dormir em uma noite medieval e acordou no dia seguinte na Idade Moderna. A transição da Europa Medieval para a Moderna demorou bastante para ocorrer. Muitos foram os eventos que, aos poucos, foram ocorrendo: desde as inovações nas técnicas agrícolas até a queda definitiva do Império Bizantino mais de quinhentos anos se passaram. E muita, mas muita coisa mesmo mudou. Não seria errado pensar que ouras características permaneceram ainda por muitos séculos, mas outras tantas fizeram com que a Europa de Leonardo da Vinci, Michelangelo e Miguel de Cervantes (gênios renascentistas) fosse bem diferente da Europa de Carlos Martel, Adalberon de Laon, Joana d’Arc.

Assim, podemos concluir que as pessoas não definiam os períodos da forma que definimos hoje. Isso cabe aos historiadores, com um olhar de mais de quinhentos de História. Os homens que viveram a crise medieval e o início da Idade Moderna sabiam que assistiam e viviam um momento único, inédito, mas não quer dizer que definiam com os rigores técnicos que temos hoje. Até porque entre um período e outro há um considerável momento de transição.

Exercícios de Revisão

1) Pesquise em sua casa informações sobre o Humanismo. Procure escrever um texto indicando as principais características.

2) Afinal, por que chamamos de Renascimento o "Renascimento"? O que renasceu?



[2] Aqui com o significado de um grande mercado, um grande entreposto comercial.

[3] E este Código Justiniano influenciou muitos outros códigos de leis nacionais, inclusive aqueles escritos entre os séculos XVIII e XIX.

[4] Aqui com o significado uma região onde habitavam povos de diferentes culturas e origens

[5] A arte de falar bem

[6] Moraes, J. V. de Caminhos das Civilizações – Da pré-História aos dias atuais – São Paulo: Atual, 1993. p. 114

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