terça-feira, 6 de outubro de 2020

2º texto-base: monarquia e república romanas

 2º texto-base: monarquia e república romanas[i]

A pergunta que abre o nosso 2º texto-base é a seguinte: qual o motivo (ou motivos) para não produzir um texto para cada um dos períodos acima?

Bem, a resposta pode ser dada pelo fato de que, ao falar sobre a monarquia romana, as pesquisas ainda caminham muito pelo campo das incertezas (aquela ideia de fato - mito, lembra?), o que justifica a junção com o 2º período da Roma Antiga, a República. E, sobre a República romana, fique tranquilx! Certamente teremos outros textos.

Para começar, vamos tratar do primeiro período da Roma Antiga, a Monarquia!

A monarquia romana (753 – 509 a.C.)

Vamos reforçar a ideia de que muitas dúvidas ainda permanecem sobre esse primeiro período. Mitos e fatos verídicos se misturam, o que dificulta uma análise histórica mais precisa. “O primeiro período da história romana foi resgatado através de um conjunto de lendas, criadas, na sua maioria, no final do período republicano e primórdios do período imperial, com o intuito de justificar a grandiosidade e a força romanas"[ii].

Aponta-se a existência de cinco principais elementos no período monárquico: 1º a chegada dos povos formadores; 2º a disputa entre Rômulo e Remo, resultando na vitória do primeiro e na formação da Monarquia; 3º os conflitos entre os povos formadores; 4º a consolidação dos etruscos no poder; 5º no final do período monárquico a expulsão dos etruscos do controle político.

No período monárquico a economia estava baseada nas atividades agrícolas e no pastoreio. “A sociedade de caráter estamental e patriarcal, tinha nos patrícios e plebeus seus principais segmentos. Os patrícios eram os grandes proprietários (aristocracia rural) e os plebeus representavam os pequenos proprietários, camponeses, artesãos e estrangeiros[iii].

A monarquia romana, segundo as lendas, possuiu sete reis, sendo que os dois primeiros foram latinos (o primeiro foi Rômulo), em seguida dois reis sabinos e depois três etruscos. Portanto, a ideia de sete reis, representando as sete colinas, parece caminhar muito mais para o campo mitológico do que efetivamente factual.

O domínio dos etruscos ocorreu através da dinastia dos Tarquínios, tendo como monarcas as seguintes pessoas:

Tarquínio Prisco (616-579 a.C.): primeiro rei dessa dinastia. Foi o responsável por introduzir características etruscas à cidade de Roma. Assim, deuses etruscos e os hábitos de interpretar os presságios foram introduzidos no cotidiano das pessoas.

Tarquínio Prisco fez inúmeras obras pela cidade de Roma, dentre as quais a construção dos primeiros sistemas de esgoto do mundo, tendo como obra emblemática a Cloaca Máxima. "Iniciou as obras do Capitólio, o maior templo romano destinado a Júpiter, ampliou a cavalaria e o senado, criou estabelecimentos públicos destinados aos jogos e divertimentos. Foi assassinado pelos descendentes de Anco Márcio"[iv], que fora rei antes dele.

A Cloaca Máxima, um dos primeiros sistemas de esgoto do mundo.

Sérvio Túlio (578-535 a.C.): conhecido  por Mastarna, assim como a história da monarquia, sua vida é marcada por narrativas carentes de confirmação.

Fato é que reorganizou a cidade Roma, construindo muralhas no seu entorno[v], dividiu a sociedade em classes sociais de acordo com  o seu poder aquisitivo.

Sérvio Túlio também foi o responsável por organizar os primeiros censos populacionais, criando um hábito que se tornou comum em Roma. "Foi assassinado pelo seu genro que se tornaria o último rei de Roma, Tarquínio, o Soberbo"[vi].

Chegamos ao último rei romano, Tarquínio, o Soberbo. A história deste rei mistura-se com os eventos que levaram ao fim da monarquia romana.

Governando entre 534 e 510 a.C, Tarquínio era  filho de Tarquínio Prisco, "e teve seu reinado marcado pela não aceitação popular e nem pelo senado. Foi considerado um tirano por todos os historiadores antigos, principalmente pelo fato de ter conseguido o seu trono à força após ter matado o seu sogro Sérvio Túlio"[vii].

Porém, foi em seu reinado que Roma passou a controlar áreas maiores do que a própria cidade e dar início a um pequeno, porém real,  processo de expansão. Sob a liderança de Tarquínio, os romanos dominaram áreas de quase todo o centro da Itália. Também conclui uma série de obras em Roma, dentre as quais o Templo de Júpiter e a Cloaca Máxima, ambas iniciadas pelo seu pai, Tarquínio Prisco.

Mas... Sua impopularidade e algumas das medidas que adotou levaram a um conflito aberto com o Senado. Cada vez mais os reis foram concentrando funções, entre elas executivas, judiciárias e religiosas, o que desagradou o “Conselho de Anciãos” (o Senado), controlado pelos patrícios e que poderia vetar as decisões dos monarcas. Além disso, tínhamos Assembleia Curiata, responsável por executar a lei, sendo formada por todos os cidadãos em idade militar.

 A seguir, uma fantástica imagem da península Itálica durante o domínio dos etruscos. Perceba que havia outras cidades além de Roma, mas foi esta que deu origem à civilização romana.  

O poder do rei assumiu características baseadas no aspecto militar com uma base religiosa muito forte, não se esquecendo das demais funções, fazendo com que a Dinastia Tarquínio ficasse marcada por um forte domínio e centralização política, já que as assembleias populares e o Senado pouco participavam das decisões dos reis etruscos. Isso gerou uma série de revoltas, o que deu início à crise do período monárquico e o aparecimento de uma nova forma de governo: a República. Era o início do segundo período da Roma Antiga.

O início da República Romana (509 - 27 a.C.)

Fundamentar uma opinião é algo muito importante! Escrevo isso porque considero a República Romana o período mais importante da Roma Antiga. E, nos parágrafos vindouros, deste e de textos próximos, você terá a oportunidade de decidir se concorda ou não comigo.  

Considerada como a fase em que o Senado romano assumiu uma grande importância, ou seja, um grande poder político, durante a República os senadores, de origem patrícia, cuidavam das finanças públicas, da administração e da política externa, enquanto que as atividades executivas eram exercidas pelos cônsules e pelos tribunos da plebe. Perceba, portanto, que houve a criação de novos cargos políticos. Roma foi se tornando mais complexa. E os problemas também.

Infelizmente, não poderemos mergulhar em tudo que ocorreu no período republicano. Mas, vamos nos reservar ao direito de entender o porquê do início da prática de se escrever as leis.

As primeiras leis escritas romanas surgiram no século V a.C., momento em que a plebeu começou a ganhar cada vez mais importância, uma vez que estava crescendo e assumindo grande importância econômica. Assim, foi criado o Tribuno da Plebe (Tribunus plebis), focado em uma luta contínua e incansável para diminuir a exploração imposta pelos patrícios.

Fundamental para a conquista desses anseios foi a adoção das leis escritas, uma vez que, sem as mesmas, os patrícios faziam o que bem entendiam.

Vamos a um exemplo.

Uma das formas mais brutais de exploração dos patrícios sobre os plebeus foi quando estes iam obrigados para a guerra e acabavam abandonando as suas terras. Terras abandonadas não produzem nada. Ao voltar, o plebeu era obrigado a pedir ajuda financeira aos patrícios para reativar a sua produção agrícola. Caso não tivesse condições de sanar a dívida (pagar aquilo que emprestou) com o patrício, o plebeu tornava-se escravo (a chamada “escravidão por dívidas”), o que fez com que a escravidão aumentasse muito em Roma.

Diante dessa situação, os plebeus passaram a se revoltar, exigindo o fim da escravidão por dívidas e uma melhor distribuição de terras públicas (aquelas que pertenciam ao Estado). Estas terras, originadas das conquistas, eram propriedade do Estado e deveriam ser distribuídas entre a população romana. Porém, sem o resguardo das leis escritas, as melhores terras acabavam nas mãos dos patrícios, gerando um número expressivo de plebeus sem terras.

Em 494 a.C., tivemos a primeira revolta dos plebeus. Consequentemente, os patrícios perceberam que a coisa estava ficando séria. Foi criado o Triuno da Plebe, visando diminuir as insatisfações. E, graças aos tribunos da plebe, em 461 a. C.  as leis passaram a ser escritas. Foram criadas duas comissões para a realização dos primeiros registros escritos das leis, "e o resultado desse trabalho foi a promulgação das doze tábuas de leis que representam o fundamento do Direito Romano"[viii].

É muito curioso perceber que tais conjuntos de leis NÃO abordavam conteúdos religiosos, tratando diretamente de aspectos socioeconômicos da civilização romana. As doze tábuas de leis também ficaram conhecidas por Lei das Doze Tábuas.

Imagem representando os debates que levaram à criação da Lei das Doze Tábuas. Nesse conjunto de leis estava estabelecida a proibição da escravidão por dívidas. Em 445 a.C. tivemos a Lei Canuleia, permitindo o casamento entre patrícios e plebeus. Voltaremos a falar dessa união. Em 366 a.C. foi eleito o primeiro cônsul plebeu, com direito de ingresso automático no Senado.É interessante observar que tais conquistas partiram de uma movimentação de uma camada social desfavorecida, a plebe. E que no decorrer das conquistas o movimento foi dirigido por uma espécie de “plebe rica”. Essa plebe rica era formada por plebeus que haviam se casado com patrícios. Tal plebe rica se separou socialmente da “plebe pobre”, formando uma nova classe social: a nobilita.

Além do mais

Olá! Sou vidrado em esportes. E um dos esportes que mais venero é o futebol. É certo que nem gregos e nem romanos jogavam bola na Antiguidade Clássica, até porque o futebol, tal qual o conhecemos, só surgiu por volta de cem anos. Mas quem disse que a Antiguidade Clássica não deu uma mãozinha? Veja só.

Dias atrás eu comprei uma caixinha com seis times de futebol de botão. Convidei meu amigo, Pedro Duque, para jogar. Abri a caixa, preparei os dois times: ele jogou com o Olympiakos, um time grego, e eu com a Roma.

Espia na imagem ao lado o que tem no símbolo da equipe do Roma! Isso porque o time faz referência à cidade. E a cidade teria sido fundada, segundo o mito, por Rômulo e Remo. Está provado: esporte é conhecimento. Futebol é cultura!



[i] Pedro Henrique Maloso Ramos

[ii] CIÊNCIAS HUMANAS – Pré Vestibular: Volume 1 – São Paulo, Editora COC, 1999. p. 144

[iii] CIÊNCIAS HUMANAS – Pré Vestibular: Volume 1 – São Paulo, Editora COC, 1999. p. 144

[iv] https://www.infoescola.com/historia/monarquia-romana/

[v] eis o motivo para o nome das muralhas que você viu no mapa do texto http://respirehistoria.blogspot.com/2018/12/1-texto-magazine-historico-do-setimo.html

[vi] https://www.infoescola.com/historia/monarquia-romana/

[vii] https://www.infoescola.com/historia/monarquia-romana/

[viii] Leoni, G. D. “A Literatura de Roma” – 6ª ed. – São Paulo: Livraria Nobel S. A., 1961. p. 21

1º texto-base: as raízes históricas e mitológicas de Roma

 1º texto-base: as raízes históricas e mitológicas de Roma[i]

Olá! A partir de agora, mergulharemos nos fundamentos que originaram a Roma Antiga.

Estudar Roma é de extrema importância, e, isso por inúmeros motivos. Listemos alguns.

Muitos dos idiomas atuais possuem sua língua-mãe, ou seja, a que deu início a sua formação, no latim. E o latim foi uma dos idiomas falados na Roma Antiga. Outro aspecto é que algumas das nossas características culturais são heranças diretas da Roma Antiga. Sendo assim, dos “romanos, herdamos uma série de características culturais. O direito romano, até os dias de hoje está presente na cultura ocidental, assim como o latim,  que deu origem a língua portuguesa, francesa, italiana e espanhola[ii].

Roma também deu continuidade às características culturais da Grécia Antiga. Não à toa, a “literatura romana é, portanto, a mais direta continuadora da literatura grega, a sua maior e melhor herdeira[iii]. No entanto, compete escrever que os romanos não se limitaram a copiar as características e estruturas gregas, mas sim adaptá-las as suas necessidades, muitas vezes inovando.

O ponto de origem

Antes de dividir a História da Roma Antiga em períodos, algo que é costumeiramente feito pelos historiadores, vamos analisar seu processo de formação, fazendo duas abordagens: mitológica e histórica. Ambas misturam-se, ficando difícil definir onde termina uma e começa a outra. Aliás, a mistura de mitos e fatos é algo bem típico na história das civilizações, principalmente as da Antiguidade.

Comecemos pela análise mitológica.

O mito de Rômulo e Remo

As origens da civilização romana estão muito ligadas a um mito: o mito de Rômulo e Remo.

Diz a lenda que Roma foi fundada no ano 753 a.C. por Rômulo e Remo, filhos gêmeos do deus Marte e da mortal Rea Sílvia. Ao nascer, os dois irmãos foram abandonados junto ao rio Tibre e salvos por uma loba, que os amamentou e os protegeu. Por fim, um pastor os recolheu e lhes deu os nomes de Rômulo e Remo. Depois de matar Remo numa discussão, Rômulo deu o seu nome à cidade[iv].

Escultura remetendo ao mito de Rômulo e Remo. 

É válido dizer que a escolha da figura da loba dentro da narrativa desse mito não foi uma escolha aleatória. A loba remete à força, a astúcia, retomadas como fundamentos pelos romanos, principalmente quando estes se dispuseram a contar a sua história, as suas origens.

As raízes históricas

Impressiona saber que a civilização romana teve seu início como uma mera aldeia de agricultores, tornando-se posteriormente uma cidade-estado para que, nos primeiros séculos da Era Cristã, passasse ser um império com território em três continentes.

Além dessa incrível expansão geográfica, o curso da História romana interferiu diretamente em quase todos os campos dos períodos vindouros, principalmente quando abordamos a chamada civilização ocidental.

Mas, o começo da civilização não teve nada de grandioso.

Tribos de origem sabina e latina estabeleceram-se um povoado no monte Capitolino, junto às margens do rio Tibre, a partir do século VIII a. C.. E, já aqui, temos o primeiro enrosco fato-mito (seria uma paródia ao fato-fake?).

As áreas circunvizinhas ao Monte (Colina) Capitolino eram formadas por outros montes (ou colinas), totalizando, junto com o Capitolino, sete colinas. Segundo as raízes mitológicas, cada colina era controlada por um chefe, uma espécie de rei. Mas não há comprovações fidedignas de que isso de fato ocorreu.

E essa situação de incertezas percorreu toda a análise histórica acerca da monarquia romana.

Além de sabinos e latinos, umbros, oscos, etruscos e gregos compuseram os primeiros povos da Roma Antiga.

Frente a esse quadro, o que é inquestionável é o fato de que o início de Roma não foi marcado por nenhuma unidade política e social, muito menos cultural. Aliás, o que talvez mais dificulte conhecer as origens da Roma Antiga seja exatamente essa pluralidade dos povos, uma vez que, rotineiramente, um povo chegava e entrava em conflito com o povo residente, promovendo, muitas vezes, a destruição de elementos que nos ajudariam a compreender o nascimento de Roma.

Além do mais

O texto a seguir trará um olhar mais aprofundado sobre o início da história da Roma Antiga. Vamos começar

A região onde se localiza o rio Tibre e a civilização romana é a península Itálica, área importante já na Antiguidade devido à proximidade com diversos povos e culturas, além de estar inserida no espaço do mar Mediterrâneo. Ao passo de que essa pluralidade cultural dificultou uma união, ela deu início a uma cultura muito singular.  

Os povos que mais contribuíram para o processo inicial de formação da civilização romana foram os etruscos e os latinos. A maioria da população era formada por agricultores. Com o passar dos anos, esses povos começaram a invadir as regiões vizinhas. 

As conquistas passaram a moldar a política romana, fazendo triunfar um povo sobre o outro, em especial os etruscos, povos vindos da Ásia Menor[v] para a Itália, antes mesmo da formação do primeiro povoado romano.

Segundo o professor Leoni[vi], as raízes culturais orientais dos etruscos deram os primeiros modelos culturais à civilização romana. O que isso quer dizer? Quer dizer que os etruscos estão diretamente associados às características religiosas, mitológicas, políticas e artísticas da Roma Antiga. No 2º texto você saberá que a presença dos etruscos foi marcante no primeiro período da civilização romana, a monarquia.

A esse processo inicial de formação da cultura romana devemos incluir os gregos. E isso desde o século VII a. C. até o século II a. C. Não à toa, muitos deuses gregos ganharam novos nomes e passaram a ser deuses romanos. Eis o porquê das primeiras manifestações culturais da Roma Antiga serem profundamente religiosas.



[i] Pedro Henrique Maloso Ramos

[ii] www.suapesquisa.com

[iii] Leoni, G. D. “A Literatura de Roma” – 6ª ed. – São Paulo: Livraria Nobel S. A., 1961. p. 13

[iv] paginas.terra.com.br/arte/mundoantigo/Roma

[v] A região da Ásia Menor é atualmente representada em grande parte pela Turquia.

[vi] Leoni, G. D. “A Literatura de Roma” – 6ª ed. – São Paulo: Livraria Nobel S. A., 1961. p. 18

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

25º Texto - Expansão Ultramarina em Portugal - 7ºs anos

 25º Texto - Expansão Ultramarina em Portugal


Podemos iniciar esse texto afirmando que o interesse português pelo continente africano durante a Expansão Ultramarina foi muito grande.

Isso ocorreu devido as intensas e ricas atividades realizadas principalmente na faixa litorânea do continente africano (norte/noroeste), com possíveis centros auríferos no continente, e com o posterior intuito em capturar escravos. Havia também o objetivo em combater os muçulmanos no norte da África, caracterizando uma evidente continuação da Reconquista Cristã, além de tentar reabrir os caminhos para o Oriente, facilitando assim as trocas comerciais. O grande incentivador da expansão ultramarina portuguesa foi D. Henrique (1394 – 1460), infante de Portugal, não à toa denominado de patrono da expansão portuguesa.

Conquistadas as áreas, os portugueses estabeleciam feitorias (entrepostos comerciais) e fortalezas. Tais estruturas asseguravam para os portugueses o controle da região. Das áreas eram comercializados marfim, ouro e escravos.

Imagem representando a expedição de Vasco da Gama.

A partir de 1453, com a conquista da cidade de Constantinopla (hoje Istambul) pelos turcos otomanos, as nações europeias passaram a ter significativos problemas para realizar as atividades comerciais com o Oriente, já que os muçulmanos impediram a passagem dos europeus pela região. A descoberta de um novo caminho para as Índias tornou-se essencial para a retomada das atividades comerciais. Com o rei D. João II, Portugal passou a iniciar o processo que levaria as conquistas pelo continente asiático (Índias). Entre 1497 e 1498 Portugal, com Vasco da Gama, consolidou a possibilidade de contornar o continente africano e chegar às Índias, estabelecendo uma importante rota comercial. Vasco chegou à Calicute e o sucesso de sua expedição levou a organização de uma nova viagem para a região. Esta era a expedição comandada pelo capitão-mor Pedro Álvares Cabral, que partiu de Portugal com 1200 homens e 13 embarcações. Seria essa expedição que chegaria às terras brasileiras, no dia 22 de abril de 1500[ii].

Você já percebeu como a nação portuguesa estava voltada as atividades marítimas? Acompanhe esse texto de aprofundamento e veja que interessante!

 Portugal e o “Mar Oceano”

Na passagem entre os séculos XIII e XIV, sob o reinado de D. Dinis (1279 – 1325), as técnicas de navegação foram aprimoradas. Seu sucessor, o rei Afonso IV (1325 – 1357), apoiou diretamente as atividades marítimas, em especial a pesca, transformando esse setor em um dos mais importantes da economia portuguesa. Essas atividades que Portugal realizou em águas marítimas propiciaram o aparecimento e o desenvolvimento das cidades litorâneas, possibilitando a ascensão de uma poderosa burguesia.

Sabemos que a opção de Portugal pela realização das atividades marítimas não foi de modo algum aleatória. Cercado por reinos e povos senão inimigos, ao menos com claras intenções de conquistar o reino português, o mar se colocou como a saída mais viável e promissora para a conquista definitiva de uma economia rentável.

Além do mais...

Nos textos sobre o Renascimento você pôde perceber que os homens desse período passaram a buscar retratar em seus quadros elementos que se aproximassem cada vez mais do real, do plano físico.

Foi assim que muitos dos viajantes tiveram que fazer para contar para o pessoal lá da Europa o que estavam vendo, o que haviam encontrado. Desde a curiosa descrição do bicho-preguiça, feita pelo padre jesuíta José de Anchieta - segue a descrição: “mais vagaroso que o caracol. Tem o corpo grande, de cor cinzenta, cara que se assemelha um tanto a rosto de mulher, longos braços munidos de unhas também compridas e recurvadas”[iii] -, até o desenho que o renascentista Albrecht Dürer (1471 – 1528) fez de um rinoceronte sem jamais ter visto um. Tudo foi feito a partir de descrições feitas por aqueles que haviam tido contato com o animal. Impressionante, não é mesmo?

Muitas dessas descrições, feitas por navegadores, renascentistas, estudiosos ou intrépidos viajantes tentava aproximar mundos até então muito distantes. Era a experiência da troca e do contato com coisas que abriram os olhos e as mentes europeias.

A seguir, o desenho de Dürer.

Exercícios de revisão

1) Explique o porquê do interesse português pelo continente africano.



[ii] Há registros que indicam que Vasco da Gama comentou a possibilidade de existirem  terras abaixo daquelas descobertas por Colombo (em 1492) com Pedro Álvares Cabral. Alguns aventam a possibilidade de que Vasco tenha avistado o arquipélago de Fernando de Noronha, distante cerca de 500 km da costa brasileira.

[iii] Minhas Cartas, por José de Anchieta. p. 39

 A Expansão Ultramarina pela Europa
É fato que a Expansão Ultramarina não se limitou à Portugal. Outras nações também passaram a realizar expedições além-mar. O processo, no entanto, teve Portugal como nação pioneira, em 1415. Nesse texto você irá conhecer outras três nações que empreenderam esforços e participaram da expansão ultramarina.
Espanha: os espanhóis só iniciaram a Expansão Ultramarina cerca de 60 anos após os portugueses terem conquistado Ceuta. Tal atraso ocorreu porque a Espanha só conseguiu sua unidade política em 1469, quando ocorreu o casamento de Isabel, irmã do rei de Leão e Castela, e Fernando, herdeiro do trono de Aragão. A partir dessa união a coroa espanhola pôde concentrar esforços em prol da expansão ultramarina. Em 1492 o navegante genovês Cristóvão Colombo (imagem) fez uma proposta aos reis espanhóis: chegar às Índias navegando pelo Ocidente. Seus objetivos eram pôr fim ao monopólio português, possibilitar o comércio com o Oriente sem a presença dos intermediários e comprovar uma teoria que havia gerado diversas discussões: a de que a Terra era esférica.
Em parte, os planos de Colombo obtiveram sucesso. Colombo encontrou no meio do caminho (literalmente) um novo continente, um Novo Mundo: a América. No entanto, acreditou ter chegado às Índias (e por isso chamou os habitantes desta terra de índios). E, de fato, a teoria sobre o formato esférico da Terra procedia, tanto que entre 1519 e 1522 outro navegador, agora Fernão de Magalhães, empreendeu a primeira viagem de navegação ao redor do mundo.
Na imagem, La Pinta, uma das três caravelas usadas por Colombo em sua viagem à América.


Inglaterra: a expansão marítima (ou ultramarina) inglesa demorou a ocorrer devido à existência de conflitos internos e externos e esteve diretamente associada à formação do Estado Absolutista (que falaremos a seguir). O grande feito do rei Henrique VIII (imagem) foi a modernização da marinha inglesa, quadruplicando a quantidade de embarcações. “A partir de 1579, os galeões da frota real passaram a ser equipados com canhões de longo alcance, fato que lhes permitia 'acertar os navios inimigos a uma grande distancia. Além de servirem ao comércio, os navios passaram a servir também à guerra, favorecendo a expansão marítima inglesa.


Em 1588, os ingleses enfrentaram e venceram a ‘Invencível Armada’ de Filipe II, aplicando um sério golpe no prestígio da Espanha, considerada então o mais poderoso país europeu. A partir daí, intensificaram-se as viagens de navegadores e de corsários à América, com o objetivo de saquear as embarcações espanholas carregadas de ouro e de empreender contrabando com as Antilhas[2].
Absolutismo, o que é isso?
Pode ser resumidamente definido como um sistema político e administrativo que prevaleceu na Europa entre os séculos XVI e XVIII. Tal sistema possibilitou uma grande centralização do poder nas mãos do rei. Nesse processo o rei contou com o apoio da burguesia, pois era interessante para a mesma um governo forte e capaz de direcionar os recursos para a realização da expansão ultramarina. O rei concentrava praticamente todos os poderes.
França: a nação francesa esteve envolvida em inúmeros conflitos que prejudicaram o início de sua expansão. Somente a partir da consolidação do estado nacional francês, no final do século XVI, foi possível iniciar a expansão ultramarina.
Exercícios de revisão - para entregar no dia:___/_____

Escolha uma das nações trabalhadas neste texto e produza uma pesquisa sobre seus principais navegadores e regiões exploradas.




24º Texto - A Expansão Ultramarina - 7ºs anos

 24º texto - A Expansão Ultramarina

Nas últimas atividades e textos você ouviu sobre as inovações trazidas com o Renascimento, não é mesmo? Mas talvez o que tenha causado maior impacto na sociedade europeia entre os séculos XIV e XVI foi um processo que foi modificando (literalmente) a percepção do homem quanto ao mundo e as diversas concepções que possuía. Tal processo recebeu o nome de Expansão Marítima, Expansão Ultramarina, Expansão Marítima-Comercial...

Introdução

Como vimos, a sociedade europeia que viveu os séculos XIV e XV presenciou grandes mudanças, sendo que a atividade comercial passou a desempenhar um importante papel. Buscando novos produtos para comercializar, além de novas terras, algumas nações começaram a incentivar a atividade marítima, contando com um forte apoio da burguesia. O maior objetivo era, no entanto, chegar ao Oriente (as Índias) para adquirir as especiarias e produtos de luxo. Poderíamos citar o gengibre, a seda, porcelanas e louças etc. O comércio que era controlado pelas cidades e principados italianos começou a ser dominado pelas recém-formadas nações europeias (lembre que isso configurou um dos fatores que levaram à crise da Renascença). Veremos que foi a nação portuguesa a pioneira nessa expansão marítima.

As Grandes Navegações alargaram o mundo do comércio. Entre os séculos XV e XVIII, os comerciantes europeus transportaram, venderam e compraram produtos pelo mundo inteiro, obtendo lucros inimagináveis: seda e especiarias da China e do Japão; escravos; ouro e marfim da África; produtos agrícolas, ouro e prata da América.

Toda essa atividade comercial criava novas exigências para as nações. Acreditava-se, na época, que a medida da riqueza de um país estava na quantidade de metais preciosos (ouro e prata) que ele acumulava. Se uma nação não contava com reservas desses metais precisava obtê-los através do comércio. Por isso, os economistas achavam que uma nação precisava vender mais a outras nações do que comprar, ou seja, ter uma balança comercial favorável.

Essa política econômica que dá tanto valor aos metais preciosos acumulados no país e à necessidade de exportar mais do que importar chama-se mercantilismo[ii]

Astrolábio, instrumento que ajudou os intrépidos navegadores europeus.

Análises

Os problemas que surgiram durante a crise do sistema feudal foram, de certa forma, superados com a consolidação dos Estados nacionais. No entanto, é inegável afirmar que outros problemas ainda buscavam solução no quadro político e econômico da Europa. Um dos maiores problemas estava ligado ao desequilíbrio da balança comercial das nações europeias (que, na maioria das vezes, estava em déficit[iii]). Com a crise, houve um aumento significativo na procura pelas mercadorias do Oriente. As nações europeias, ao adquirirem tais produtos, faziam com que as suas reservas de metais preciosos fossem para as economias orientais, não havendo, em alguns casos, o retorno necessário. Isso levava ao enfraquecimento das nações europeias.

Portugal vivia o mesmo drama, já que, assim como em outras áreas da Europa, houve sensível diminuição no consumo interno de mercadorias, ocasionando graves consequências às economias nacionais. As populações europeias, cada vez mais mal remuneradas, sofriam com os aumentos constantes de preços dos produtos, fazendo com que as atividades comerciais sofressem consideráveis quedas. Em muitos casos a situação era tão grave que o Estado Nacional corria sério risco de “desaparecer”.

Para contornar esses problemas as monarquias nacionais tomaram medidas visando: à garantia do fluxo de moedas, a expansão de seus mercados e o acesso a produtos cujo consumo fosse assegurado (ou seja, que possuíam compradores e mercado para serem vendidos). Para aumentar os lucros, os Estados Nacionais buscaram eliminar os intermediários (ou seja, os homens que iam buscar as mercadorias no Oriente), inclusive pelo fato desses homens monopolizarem[iv] a distribuição de alguns gêneros do Oriente. Os dois grandes objetivos eram baratear o custo das mercadorias e ampliar o comércio das especiarias (as mercadorias que vinham do Oriente).

Podemos, portanto, apontar que a escassez de metais preciosos, a necessidade de novos mercados e a consolidação da burguesia dentro das monarquias europeias fizeram necessária a expansão ultramarina.

Para que esse projeto desse certo somente os Estados Nacionais cuja centralização estava consolidada (ou seja, a nação estava definitivamente formada) poderiam realmente fazê-lo; isso se deve ao fato de que a realização de tal projeto (a expansão marítimo-comercial ou expansão ultramarina) exigia capital volumoso, aplicado exclusivamente para a sua realização.

Devido às suas características, que atendiam em certa medida aos pré-requisitos para uma bem sucedida expansão, além da experiência nas atividades marítimas, Portugal foi a primeira nação europeia a iniciar a Expansão Ultramarina.

Além do mais...

Olá gente, tudo bem?

Eu adoro criar narrativas. E elas tornam-se ainda mais interessantes quando são fruto de intensa e séria pesquisa.

Nas linhas vindouras simulo que sou um marujo em uma das viagens pelos mares e oceanos durante a Expansão Ultramarina. Comecemos.

Segui rumo à Portugal, lá pelo início do século XV, me apresentei para o capitão-mor de um frota portuguesa que navegaria pelas águas do Oceano Atlântico e pronto, me fiz um intrépido marujo.

No porto da cidade de Lisboa havia três tipos de embarcação: uma nau, usada para viagens de longo percurso, tratando-se de uma embarcação para transporte de carga; uma caravela, mais leve e mais ágil, podendo inclusive entrar em águas fluviais (em rios). Serve para as viagens de descobrimento; e, por fim, um galeão, embarcação voltada aos combates, com a presença de canhões e com uma capacidade de locomover-se com mais agilidade do que uma nau. Também transportava cargas, as mais valiosas.

Embarquei em uma caravela, que seguiu à frente de uma frota composta por algumas naus e galeões, além de uma ou duas mais caravelas. Foi aí que o negócio começou a complicar.

Primeiro que depois de algumas semanas a comida ficou ruim demais (já não era muito boa desde o início da viagem). Faltavam legumes, as frutas, bem como a água, estavam exalando um cheirinho meio estranho e as condições de higiene eram mínimas. Eu mesmo fui pegar um pedaço de pão sobre um tambor e aconteceu uma coisa meio indelicada. Um rato havia escolhido o mesmo pão. Também pude perceber que os pontinhos verdes no pãozinho não eram ervas que haviam sido colocadas pelo padeiro. Eram pontos de bolor mesmo.

Depois de um tempo, os membros da tripulação discutiam entre si para ver quem ficava com o resto, do resto, do resto da comida. As carnes eram salgadas para que não apodrecessem. Logo, comendo aquela carne dava uma sede danada. E a água, como vimos... Ouvi relatos, é sério, de alguns marujos desesperados que bebiam a própria urina! Quando chovia, era uma festa.

O problema era quando chovia muito. Aí o negócio complicava. Eu, que não sou muito acostumado a essas viagens, confesso que tive problemas com o que eu havia comido. Nossa, foi “brabo” o negócio. A caravela balançava tanto que eu tinha certeza que iria virar. O que impressionava era a habilidade dos marujos em manobrá-la. Inacreditável mesmo.

Durante a viagem bati um papo com alguns marujos mais experientes. E eles me disseram coisas bem interessantes. Falaram que no início da Expansão Ultramarina faziam-se apenas navegações margeando a costa,  chamadas de “navegação de cabotagem”. Isso porque as embarcações não eram ainda preparadas para enfrentar áreas de mar aberto distantes do litoral. Há regiões do oceano onde as ondas ultrapassam facilmente cinco, seis metros.

Também porque os equipamentos não eram muito modernos e a costa servia mesmo como uma referência, do tipo, “a terra firme fica para lá, não está vendo?”. Poeticamente, seria navegar “beijando” a costa. Seguir rumo ao mar aberto foi algo realmente inovador e incrível. E conquistado com a adoção de equipamentos que auxiliaram a navegação. Um desses equipamentos foi o astrolábio, permitindo que os europeus navegassem guiados pelas estrelas. Em um céu forrado delas, muitas estradas apareciam. Bastava seguir a correta e desvendar um mundo que parecia ter crescido de tamanho. Navegar pelo oceano foi a “viagem à Lua” que o homem da Idade Moderna fez!

Quanto à minha expedição, bem, algumas coisas aconteceram e me deixaram bastante impressionado. Ficamos parados por mais de 10 dias em uma região distante alguns quilômetros da costa africana. Era uma calmaria tão grande que dava vontade de descer da caravela e ajudar o pessoal a empurrar. Os marujos falaram que existem regiões no oceano onde os ventos simplesmente não batem. Logo, uma caravela, movida à energia eólica, simplesmente ficava parada!

Percebi que alguns marujos passaram a apresentar lábios inchados, sangramento nas gengivas que só fazia aumentar, dentes que começavam a cair... Bem complicado. É o escorbuto, resultado da falta de ingestão de vitamina C, presente nas frutas cítricas. E as frutas há tempos já não apareciam no cardápio.

Navegamos até as regiões orientais, contornando o Cabo da Boa Esperança, e voltando para Portugal, carregados de mercadoria. Lucro significativo, viagem inesquecível. Em todos os sentidos!

Ao lado, os tipos de embarcações usadas na Expansão Ultramarina. Na sequência, um galeão, uma caravela e uma nau.

Exercícios de revisão

1)    Por que as nações europeias iniciaram a Expansão Ultramarina? Explique.


[i] Pedro Henrique Maloso Ramos

[ii] Quevedo, Júlio. A escravidão no Brasil: trabalho e resistência – São Paulo: FTD, 1996 – (Para conhecer melhor). p. 22

[iii] quando uma nação gasta mais do que possui (arrecada).

[iv] Monopólio – privilégio que uma nação, um comerciante ou um grupo possuem na exploração de determinada mercadoria.