segunda-feira, 5 de outubro de 2020

24º Texto - A Expansão Ultramarina - 7ºs anos

 24º texto - A Expansão Ultramarina

Nas últimas atividades e textos você ouviu sobre as inovações trazidas com o Renascimento, não é mesmo? Mas talvez o que tenha causado maior impacto na sociedade europeia entre os séculos XIV e XVI foi um processo que foi modificando (literalmente) a percepção do homem quanto ao mundo e as diversas concepções que possuía. Tal processo recebeu o nome de Expansão Marítima, Expansão Ultramarina, Expansão Marítima-Comercial...

Introdução

Como vimos, a sociedade europeia que viveu os séculos XIV e XV presenciou grandes mudanças, sendo que a atividade comercial passou a desempenhar um importante papel. Buscando novos produtos para comercializar, além de novas terras, algumas nações começaram a incentivar a atividade marítima, contando com um forte apoio da burguesia. O maior objetivo era, no entanto, chegar ao Oriente (as Índias) para adquirir as especiarias e produtos de luxo. Poderíamos citar o gengibre, a seda, porcelanas e louças etc. O comércio que era controlado pelas cidades e principados italianos começou a ser dominado pelas recém-formadas nações europeias (lembre que isso configurou um dos fatores que levaram à crise da Renascença). Veremos que foi a nação portuguesa a pioneira nessa expansão marítima.

As Grandes Navegações alargaram o mundo do comércio. Entre os séculos XV e XVIII, os comerciantes europeus transportaram, venderam e compraram produtos pelo mundo inteiro, obtendo lucros inimagináveis: seda e especiarias da China e do Japão; escravos; ouro e marfim da África; produtos agrícolas, ouro e prata da América.

Toda essa atividade comercial criava novas exigências para as nações. Acreditava-se, na época, que a medida da riqueza de um país estava na quantidade de metais preciosos (ouro e prata) que ele acumulava. Se uma nação não contava com reservas desses metais precisava obtê-los através do comércio. Por isso, os economistas achavam que uma nação precisava vender mais a outras nações do que comprar, ou seja, ter uma balança comercial favorável.

Essa política econômica que dá tanto valor aos metais preciosos acumulados no país e à necessidade de exportar mais do que importar chama-se mercantilismo[ii]

Astrolábio, instrumento que ajudou os intrépidos navegadores europeus.

Análises

Os problemas que surgiram durante a crise do sistema feudal foram, de certa forma, superados com a consolidação dos Estados nacionais. No entanto, é inegável afirmar que outros problemas ainda buscavam solução no quadro político e econômico da Europa. Um dos maiores problemas estava ligado ao desequilíbrio da balança comercial das nações europeias (que, na maioria das vezes, estava em déficit[iii]). Com a crise, houve um aumento significativo na procura pelas mercadorias do Oriente. As nações europeias, ao adquirirem tais produtos, faziam com que as suas reservas de metais preciosos fossem para as economias orientais, não havendo, em alguns casos, o retorno necessário. Isso levava ao enfraquecimento das nações europeias.

Portugal vivia o mesmo drama, já que, assim como em outras áreas da Europa, houve sensível diminuição no consumo interno de mercadorias, ocasionando graves consequências às economias nacionais. As populações europeias, cada vez mais mal remuneradas, sofriam com os aumentos constantes de preços dos produtos, fazendo com que as atividades comerciais sofressem consideráveis quedas. Em muitos casos a situação era tão grave que o Estado Nacional corria sério risco de “desaparecer”.

Para contornar esses problemas as monarquias nacionais tomaram medidas visando: à garantia do fluxo de moedas, a expansão de seus mercados e o acesso a produtos cujo consumo fosse assegurado (ou seja, que possuíam compradores e mercado para serem vendidos). Para aumentar os lucros, os Estados Nacionais buscaram eliminar os intermediários (ou seja, os homens que iam buscar as mercadorias no Oriente), inclusive pelo fato desses homens monopolizarem[iv] a distribuição de alguns gêneros do Oriente. Os dois grandes objetivos eram baratear o custo das mercadorias e ampliar o comércio das especiarias (as mercadorias que vinham do Oriente).

Podemos, portanto, apontar que a escassez de metais preciosos, a necessidade de novos mercados e a consolidação da burguesia dentro das monarquias europeias fizeram necessária a expansão ultramarina.

Para que esse projeto desse certo somente os Estados Nacionais cuja centralização estava consolidada (ou seja, a nação estava definitivamente formada) poderiam realmente fazê-lo; isso se deve ao fato de que a realização de tal projeto (a expansão marítimo-comercial ou expansão ultramarina) exigia capital volumoso, aplicado exclusivamente para a sua realização.

Devido às suas características, que atendiam em certa medida aos pré-requisitos para uma bem sucedida expansão, além da experiência nas atividades marítimas, Portugal foi a primeira nação europeia a iniciar a Expansão Ultramarina.

Além do mais...

Olá gente, tudo bem?

Eu adoro criar narrativas. E elas tornam-se ainda mais interessantes quando são fruto de intensa e séria pesquisa.

Nas linhas vindouras simulo que sou um marujo em uma das viagens pelos mares e oceanos durante a Expansão Ultramarina. Comecemos.

Segui rumo à Portugal, lá pelo início do século XV, me apresentei para o capitão-mor de um frota portuguesa que navegaria pelas águas do Oceano Atlântico e pronto, me fiz um intrépido marujo.

No porto da cidade de Lisboa havia três tipos de embarcação: uma nau, usada para viagens de longo percurso, tratando-se de uma embarcação para transporte de carga; uma caravela, mais leve e mais ágil, podendo inclusive entrar em águas fluviais (em rios). Serve para as viagens de descobrimento; e, por fim, um galeão, embarcação voltada aos combates, com a presença de canhões e com uma capacidade de locomover-se com mais agilidade do que uma nau. Também transportava cargas, as mais valiosas.

Embarquei em uma caravela, que seguiu à frente de uma frota composta por algumas naus e galeões, além de uma ou duas mais caravelas. Foi aí que o negócio começou a complicar.

Primeiro que depois de algumas semanas a comida ficou ruim demais (já não era muito boa desde o início da viagem). Faltavam legumes, as frutas, bem como a água, estavam exalando um cheirinho meio estranho e as condições de higiene eram mínimas. Eu mesmo fui pegar um pedaço de pão sobre um tambor e aconteceu uma coisa meio indelicada. Um rato havia escolhido o mesmo pão. Também pude perceber que os pontinhos verdes no pãozinho não eram ervas que haviam sido colocadas pelo padeiro. Eram pontos de bolor mesmo.

Depois de um tempo, os membros da tripulação discutiam entre si para ver quem ficava com o resto, do resto, do resto da comida. As carnes eram salgadas para que não apodrecessem. Logo, comendo aquela carne dava uma sede danada. E a água, como vimos... Ouvi relatos, é sério, de alguns marujos desesperados que bebiam a própria urina! Quando chovia, era uma festa.

O problema era quando chovia muito. Aí o negócio complicava. Eu, que não sou muito acostumado a essas viagens, confesso que tive problemas com o que eu havia comido. Nossa, foi “brabo” o negócio. A caravela balançava tanto que eu tinha certeza que iria virar. O que impressionava era a habilidade dos marujos em manobrá-la. Inacreditável mesmo.

Durante a viagem bati um papo com alguns marujos mais experientes. E eles me disseram coisas bem interessantes. Falaram que no início da Expansão Ultramarina faziam-se apenas navegações margeando a costa,  chamadas de “navegação de cabotagem”. Isso porque as embarcações não eram ainda preparadas para enfrentar áreas de mar aberto distantes do litoral. Há regiões do oceano onde as ondas ultrapassam facilmente cinco, seis metros.

Também porque os equipamentos não eram muito modernos e a costa servia mesmo como uma referência, do tipo, “a terra firme fica para lá, não está vendo?”. Poeticamente, seria navegar “beijando” a costa. Seguir rumo ao mar aberto foi algo realmente inovador e incrível. E conquistado com a adoção de equipamentos que auxiliaram a navegação. Um desses equipamentos foi o astrolábio, permitindo que os europeus navegassem guiados pelas estrelas. Em um céu forrado delas, muitas estradas apareciam. Bastava seguir a correta e desvendar um mundo que parecia ter crescido de tamanho. Navegar pelo oceano foi a “viagem à Lua” que o homem da Idade Moderna fez!

Quanto à minha expedição, bem, algumas coisas aconteceram e me deixaram bastante impressionado. Ficamos parados por mais de 10 dias em uma região distante alguns quilômetros da costa africana. Era uma calmaria tão grande que dava vontade de descer da caravela e ajudar o pessoal a empurrar. Os marujos falaram que existem regiões no oceano onde os ventos simplesmente não batem. Logo, uma caravela, movida à energia eólica, simplesmente ficava parada!

Percebi que alguns marujos passaram a apresentar lábios inchados, sangramento nas gengivas que só fazia aumentar, dentes que começavam a cair... Bem complicado. É o escorbuto, resultado da falta de ingestão de vitamina C, presente nas frutas cítricas. E as frutas há tempos já não apareciam no cardápio.

Navegamos até as regiões orientais, contornando o Cabo da Boa Esperança, e voltando para Portugal, carregados de mercadoria. Lucro significativo, viagem inesquecível. Em todos os sentidos!

Ao lado, os tipos de embarcações usadas na Expansão Ultramarina. Na sequência, um galeão, uma caravela e uma nau.

Exercícios de revisão

1)    Por que as nações europeias iniciaram a Expansão Ultramarina? Explique.


[i] Pedro Henrique Maloso Ramos

[ii] Quevedo, Júlio. A escravidão no Brasil: trabalho e resistência – São Paulo: FTD, 1996 – (Para conhecer melhor). p. 22

[iii] quando uma nação gasta mais do que possui (arrecada).

[iv] Monopólio – privilégio que uma nação, um comerciante ou um grupo possuem na exploração de determinada mercadoria.


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