sábado, 28 de fevereiro de 2015

Uma análise histórica sobre a astronomia - 1ª parte

Uma análise histórica sobre a astronomia – 1ª parte[1]
Desde os primórdios da História humana o céu despertou olhares fascinados, seja pelas estrelas, pelo Sol, pela Lua ou pelos seres que voam. Dependente do meio natural, os hominídeos durante a chamada pré-História, e também em outros períodos históricos,  viveram e direcionaram suas ações a partir do sol e da chuva. A relação com o céu e os fenômenos que estavam atrelados a esse espaço obrigou os seres humanos a entenderem e buscarem compreender melhor o que se passava. Afinal, a água que caia das nuvens, o Sol que aparecia mais forte em um período do que em outro eram fundamentais para a prática da agricultura. Assim, conhecer melhor os astros, as estrelas, bem como o nosso satélite natural, a Lua, determinava uma sobrevivência mais tranquila e um maior domínio dos recursos naturais.
E quantas vezes não olhamos para imensidão e nos lançamos às mais diversas perguntas?

Fato é que a história da relação humana com o espaço sideral se mistura com inúmeras outras histórias. O espaço é muito mais do que a junção de galáxias, planetas, astros e estrelas. Determina eventos primordiais do nosso planeta. Os ciclos da Lua, por exemplo, são fundamentais para determinar o ciclo das marés; e esses, por sua vez, devem ser rigorosamente conhecidos e entendidos por aqueles que navegam. Os povos pré-colombianos[2] determinavam suas colheitas e plantações pela incidência solar em marcos. Se a luz do Sol estivesse em um determinado lugar era hora de plantar. Se estivesse em outro era a hora de colher. Poderíamos aqui listar um número enorme de interferências dos astros e da astronomia na vida humana.
Porta do Sol, em Tiwanaku, Bolívia. Construída por uma civilização anterior aos incas (teriam vivido na região entre os séculos IV e III a.C.), a porta estava ligada a uma série de finalidades. Em determinado dia do ano (e só neste dia), o Sol aparecia exatamente no meio da porta. Era o início de algumas festividades em homenagem ao Sol, e, acreditam os historiadores, de iniciar a colheita ou plantio de determinados gêneros agrícolas. O dia? Hoje sabemos que se trata do dia 24 de junho[3].

Vamos, em nosso primeiro texto dessa série, analisar o despertar da observação humana na compreensão dos fenômenos astrológicos. Partiremos primeiramente de uma breve análise da humanidade na pré-História e depois conheceremos as primeiras investigações astronômicas na Mesopotâmia e no Egito Antigo.
A astronomia e a pré-História
A existência dos primeiros hominídeos em nosso planeta data de 2,5 milhões de anos, quando teria surgido o primeiro ancestral direto da espécie atual, o Homo habilis. Já a história do nosso planeta é muito, muito mais antiga. Cerca de 4,5 bilhões de anos. E se fossemos analisar a história do nosso universo nos reportaríamos a um passado que se aproxima dos 14 bilhões de anos[4]. Portanto, a existência humana é algo recente, tanto na história do planeta Terra, quanto mais na história do Universo. Mas, é fato, desde que abriu os olhos e passou a adquirir a consciência do espaço onde vivia, os seres humanos começaram a tentar desvendar os mistérios de uma imensidão por vezes azul, outras tantas negra.
Para uma melhor compreensão de como somos recentes na história, foi criado um sistema de representação da história do Universo em um ano. Veja a ilustração abaixo, bem como as informações.

“Esta imagem é baseada no Calendário Cósmico de Carl Sagan, que condensa a História do Universo em 1 ano, sendo o Big Bang às 0h0m0s de dia 1 de Janeiro e o momento em que estão a ler estas palavras é às 23h59m59s do dia 31 de Dezembro
(cada dia representa cerca de 40 milhões de anos).
1 de Janeiro, 0:00 = Big Bang
1 de Janeiro, 2:30 = Formação da Radiação Cósmica de Fundo
8 de Setembro = Formação do Sol
11 de Setembro = Formação da Terra
30 de Dezembro = Extinção dos Dinossauros
31 de Dezembro, 23:39 = primeiros Hominídeos
31 de Dezembro, 23:59:30 = primeira Civilização Humana
No próximo ano, o Sol irá tornar-se numa gigante vermelha e a Galáxia de Andrômeda vai colidir com a Via Láctea em 2 de Maio.”[5]
Ponto fundamental para a compreensão dos fenômenos naturais do nosso planeta, os primeiros que passaram a observar o que ocorria acima de suas cabeças notaram períodos relativamente cíclicos, como o são o dia e noite. Com o fim da última era glacial o solo se tornava propício para a prática da agricultura. Não é nosso intuito nesse texto detalhar como surgiu a agricultura, mas fato é que a mesma só se tornou possível porque havia findado os fenômenos glaciares.
Surgia daí, em diversas partes do planeta, a necessidade em associar o plantio com os períodos corretos. Quando seria ideal para plantar? Quando ocorreriam as chuvas mais regulares? Quando as águas dos rios iriam transbordar e quando ocorriam os períodos de estiagem? Apareciam os primeiros calendários, representações ainda pouco precisas dos ciclos ocorridos em nosso planeta. Nasce, mesmo que de maneira bem amadora, os estudos associados à astronomia.
Ainda no campo das incertezas, a construção de Stonehenge atenderia provavelmente a essa necessidade em compreender os fenômenos astronômicos, além de deixar claro o fascínio que os mesmos causavam nos seres humanos.
Stonehenge, do inglês arcaico Stone: pedra, hencg: eixo[6], se trata de uma obra da Idade do Bronze, iniciada por volta de 3100 anos a.C., portanto há mais de 5000 anos, dando à astronomia o titulo da ciência mais antiga já criada! Seria “capaz de prever os equinócios e solstícios e também os nascentes e poentes do Sol da Lua. Cada pedra pesa em média 26 toneladas e a avenida principal que parte do centro do monumento aponta para o local no horizonte em que o Sol nasce no dia mais longo do verão. Nessa estrutura, algumas pedras estão alinhadas com o nascer e o pôr do Sol no início do verão e do inverno” [7].

Outra imagem de Stonehenge. Localizado na planície de Salisbury, próximo a Amesbury, no condado de Wiltshire, no sul da Inglaterra[8].

Muito provavelmente a construção remetia a diversos propósitos, dentre os quais os estudos astronômicos, religiosos, além de elementos ligados à astrologia. Aliás, essa relação entre astronomia e astrologia permeou e ainda permeia muito a compreensão do que ocorre no espaço sideral, como veremos adiante e em outros textos.
Portanto, as primeiras representações que fariam menção à astronomia teriam ocorrido ainda no período anterior ao que definimos como História. Mas foi a partir do surgimento das primeiras civilizações que os estudos astronômicos ganharam significativa importância.
A Mesopotâmia e o Egito Antigo: avanços no campo da astronomia
A organização desses grupos humanos possibilitou que os mesmos utilizassem parte do dia para compreender e registrar o que estavam observando. E esse exercício do registro só foi possível graças ao desenvolvimento da escrita, fenômeno ocorrido primeiramente na Mesopotâmia (4000 – 539 a.C.), também considerada a primeira civilização. Assim, com o passar dos anos e como resultado direto do desenvolvimento da agricultura, houve a especialização do trabalho nos povoados, fazendo com que a sociedade ficasse dividida em camponeses, soldados, artesãos, caçadores, escribas, os primeiros astrônomos... Com uma maior oferta de alimentos, graças a agricultura e a domesticação dos animais, tivemos um aumento populacional considerável. E para atender ao crescente aumento da população, houve a necessidade de ampliar as áreas cultivadas e desenvolver novas técnicas para aumentar a produtividade do solo. Era a especialização que levaria a construção de obras para dominar e controlar os recursos naturais.
A escrita cuneiforme surgiu há cerca de 3500 anos[9].

Os primeiros astrônomos mesopotâmicos passaram então a registrar as primeiras efemérides, os acontecimentos astronômicos. Eram eclipses lunares e solares, bem como a passagem de cometas. E tais eventos estavam diretamente associados ao campo da astrologia. Por isso, os estudos astronômicos nesse período ocupavam o campo das pseudociências. Havia uma mistura, quase que homogênea, entre astronomia e astrologia.
A civilização do Crescente Fértil existiu em grande parte devido aos rios Tigre e Eufrates. E assim como no Antigo Egito (que veremos logo a seguir), os ciclos de cheia de ambos os rios eram determinados pela ação dos astros em nosso planeta Terra. O plantio ocorria em épocas determinadas a partir da análise da incidência solar e dos ciclos da Lua. Então, conhecer quando e como ocorreriam as cheias era de suma importância.
Rio Eufrates[10]

Os astrônomos da Mesopotâmia estudaram com rigor e análise os movimentos de Mercúrio, Vênus, o Sol e a Lua. O estudo era detalhado e, segundo registros, teria ocorrido de maneira mais regular a partir de 1.900 a.C. Veja esse trecho de um texto sobre a civilização mesopotâmica: “o calendário babilônio era lunar e, por essa razão, os astrônomos estavam particularmente interessados em prever o aparecimento da Lua em quarto crescente, e se o mês teria 29 ou 30 dias. E porque sabiam que tudo isso dependia da posição relativa entre o Sol e a Lua, os astrônomos babilônios foram impelidos a abordar o movimento aparente dos astros – uma nova e gigantesca aventura na mecânica celeste.
O mais antigo registo de um eclipse total do Sol na região da Mesopotâmia reporta-se a um eclipse observado em Ugarit, 1375 a.C. que documentos posteriores identificam como tendo na verdade ocorrido em 1063 a.C”[11]. E, junto com o desenvolvimento da astronomia, houve o desenvolvimento da matemática astronômica, possibilitando o estabelecimento dos primeiros cálculos que poderiam prever eventos ocorridos além de nossas cabeças.
Um astrônomo mesopotâmico. “Das civilizações da Antiguidade Oriental os mesopotâmicos foram provavelmente os mais importantes no campo da Astronomia, não só pela quantidade mas também pela qualidade de suas observações e trabalhos astronômicos”[12].

O Egito Antigo foi outra civilização que trouxe inúmeros avanços para a astronomia. Ainda conciliando a astronomia com a astrologia, os egípcios fizeram dos céus um espaço de investigação constante. Assim, a história dessa civilização africana, bem como sua cultura e sociedade, foram diretamente determinadas pela análise astronômica, ou seja, pelo estudo dos astros, entre eles o Sol.
Vivendo em uma região árida, os egípcios tiveram que desenvolver de imediato uma profunda relação com o rio, no caso o rio Nilo. E o rio, logo de início, se mostrou, ao mesmo tempo, uma fonte de vida e de destruição. As cheias do Nilo ainda assolam muitas regiões africanas. Não são poucos os registros da fúria do Nilo. E isso não foi diferente durante a existência do Antigo Egito.
O poderoso rio Nilo[13].

Como então determinar quando o rio sofreria uma enchente? Os egípcios logo perceberam que os ciclos naturais do rio estavam intimamente ligados com a interferência dos astros. Muitos dos temporais ocorriam em uma determinada época do ano. E tal época do ano era conhecida pela posição do Sol. No verão, quando a incidência do Sol é maior, é quando ocorrem as cheias. As cheias serviam para depositar matéria orgânica no solo e, assim, torna-lo fértil.  “Sua cheia chega mais forte no Egito quando é verão, carregada de aluviões pelo vento que desce dos altos planaltos da Abissínia. A prosperidade do Egito nasce da ação conjunta do Nilo e do Sol, todos os dois elevados pelos habitantes à categoria de deuses. O rio, em cheia das mais fortes do verão, impregna os campos de uma água carregada de aluviões extremamente férteis” [14]. Como mostra esse fragmento de texto, o Sol, assim como o Nilo eram tratados pelos antigos egípcios como deuses. Mais uma vez a astronomia se funde e se confunde com a astrologia.
“Segundo Heródoto (historiador grego), ‘O Egito é um dom do Nilo’. Sem o Nilo e a cheia, o Egito seria apenas a parte oriental do Saara. O sol apressa a vazante, e o renascimento da vegetação. Uma cheia muito fraca não alimenta bem a terra; muito forte, devasta os campos - tanto uma quando outra levam à fome: sem a cheia, o sol seria devastador; sem o sol, a cheia seria inútil. O importante é que o equilíbrio (Maát) seja mantido entre os dois”[15].
Aliás, o maior deus do Antigo Egito foi o deus Sol, Rá. O deus Rá era a representação do poder e da energia do povo egípcio. E essa associação veio a partir da forte relação entre o Sol e a agricultura. E a agricultura, como vimos, foi o que possibilitou a formação e construção dessas civilizações, como foi o caso da civilização do Antigo Egito. Assim, a figura de Rá passou a ser adorada pelo povo egípcio e a fazer parte da realeza faraônica.
Rá não foi a única divindade egípcia ligada aos astros e estrelas. A figura do deus Atum remete a criação do Universo. Seria ele o pai de todos os deuses e o criador do Universo. Também aparece representado como o Sol durante o entardecer.
Rá. Observe o desenho do Sol sobre a sua cabeça.

A representação do deus Atum. Repare nos dois desenhos a presença da cruz ansata (imagem à direita), representando a regeneração e a vida eterna. A ideia do ciclo com certeza influenciou a figura do círculo, tão presente nas representações astronômicas que se perpetuaram além das duas civilizações que estudamos nesse texto.  





[1] RAMOS, Pedro Henrique Maloso.
[2] Povos pré-colombianos, como os incas e maias, são povos que habitavam a América antes da descoberta de Cristóvão Colombo (ocorrida em 1492) e a chegada dos europeus. A maioria desses povos foi exterminada pelos conquistadores europeus. 
[3] Imagem extraída do sítio http://www.mirabolivia.com/muestra_img.php?id_imgbol=233&pag=3
[4] Informação extraída do sítio http://hypescience.com/se-o-universo-tem-14-bilhoes-de-anos-porque-vemos-coisas-a-32-bilhoes-de-anos-luz/
[5] Imagem e textos extraídos do sítio http://www.astropt.org/2013/10/31/historia-do-universo-em-1-ano/
[6] Informações extraídas do sítio http://pt.wikipedia.org/wiki/Stonehenge
[7] Imagem e texto extraídos do sítio http://www.fis.unb.br/observatorio/notasdeaula/aula2.pdf (adaptado)
[8] Imagem extraída do sítio http://pt.wikipedia.org/wiki/Stonehenge#mediaviewer/File:Stonehenge_back_wide.jpg
[9] Imagem extraída do sítio http://www.infoescola.com/civilizacoes-antigas/escrita-cuneiforme/
[10] Imagem extraída do sítio http://looklex.com/e.o/euphrates.htm
[11] zapper.xitizap.com/xitizap%2026/index_files/Page360.htm
[12] www.professormario.com.br/curiosidades
[13] Imagem extraída do sítio http://www.longdin.co.uk/case-study-13.asp

Atividade Corsária no Litoral da América Portuguesa: os franceses na baía de Guanabara – 2ª parte

Atividade Corsária no Litoral da América Portuguesa: os franceses na baía de Guanabara – 2ª parte
A França Antártica – Precedentes internos à colônia[1]
No texto passado[2] abordamos assuntos ligados às beligerâncias marítimas no tocante à invasão dos franceses na América Portuguesa. No presente texto, faremos uma análise pormenorizada dos precedentes internos à colônia.
 O interesse dos franceses pelo sul da colônia deu-se após 1530, quando seus navios corsários e piratas passaram a agir no litoral do Rio de Janeiro, onde as relações entre esses e os indígenas eram pacíficas. Max Fleiuss, em sua História da Cidade do Rio de Janeiro, descreve trocas comerciais que confirmam tal passividade: “Avisados da chegada de um navio francez, por disparos das peças de bórdo, acudiram á praia dos selvagens para faze troca de pau-brasil (...) e outros produtos da terra por (...) utensílios domésticos”[3].
A baía de Guanabara em 1828. Ilustração de Félix Taunay.

Os franceses nunca concordaram propriamente com a divisão do mundo entre Portugal e Espanha, não permitindo a seu reino nenhum aproveitamento das colônias descobertas no ultramar. Assim, praticavam o corso e a pirataria na América, principalmente na parte pertencente a Portugal, desde o começo do século XVI. “A corte francesa nunca aceitara de bom grado a doutrina do ‘mare clausurum’, custando a reconhecer que a rota do Atlântico estivesse barrada aos seus navios, enquanto as duas metrópoles ibéricas continuavam a alargar as suas áreas de dominação ultramarina” [4].
O questionado e questionável Tratado de Tordesilhas.

Durante os reinados de D. João III, em Portugal, concomitante ao de D. Francisco I, na França, as relações entre os dois reinos não estavam tão tensionadas, em decorrência de um tratado de paz e aliança assinado pelas mesmas, em 14 de julho de 1536, no condado de Lyon, o que explica o porquê, entre 1540 e 44, “haja poucas notícias de navios franceses nas águas do Brasil, o que também se compreende perante as dificuldades de Francisco I na luta acesa que então mantinha, ao longo das fronteiras da França, com o imperador Carlos V” [5]; em tal luta, a França procurava evitar o envolvimento de Portugal, o que propiciou vários acordos diplomáticos que acalmaram, em parte, as relações entre portugueses e franceses, tanto no continente quanto no ultramar.
Contudo, a represália que navios mercantes franceses e portugueses exerciam entre si agravavam novamente as relações entre os respectivos reinos, no final da década de 40, situação que fez renascer na França a política de infiltração ao litoral da colônia, que fora suspensa após a repressão portuguesa por meio das expedições de Cristóvão Jacques, em 1527, e de Martin Afonso de Souza, em 1532, contra os corsários e piratas franceses na região colonial. Assim, os corsos e a pirataria foram estimulados na França, desta vez com maior intensidade, sendo a região do Rio de Janeiro, principalmente o Cabo Frio, alvo de constantes ataques por parte destes.
Região de Cabo Frio, alvo dos franceses nos primórdios da colonização[6].

Outro fator agravante, que preocupava muito os colonos, era o fato de as capitanias do sul ter parcos recursos de defesa. As capitanias do norte, que por terem se estabelecido primeiro e por fazerem parte do centro produtor da colônia, já gozavam de uma infra-estrutura muito mais elaborada que as do sul, o que permitia que melhor se defendessem dos contrabandistas; assim, a organização defensiva das capitanias do norte incitava os corsários e piratas a agirem no sul, onde a chance de sucesso era relativamente maior em função da precária estrutura defensiva da região.
“Enquanto a ameaça se dirigia somente para as capitanias do norte, tinham podido os capitães, com maior ou menor dificuldade, proteger a terra; mas redobrando a audácia dos corsários para o sul do Cabo de Santo Agostinho, onde eram mais precárias as condições de defesa, essas capitanias ficavam à mercê dos atacantes” [7].
As cartas dos colonos à D. João III eram constantes e numerosas, em que pediam seu auxílio, colocando o risco de perda da terra: “... se com tempo e brevidade Vossa Alteza não socorre a estas capitanias e costa do Brasil que ainda que nós percamos as vidas e fazendas Vossa Alteza perderá a terra...” [8].
Quando da chegada de Tomé de Souza, em 29 de março de 1549, para a instalação do Governo Geral, a prioridade do primeiro governador da colônia era a defesa do litoral e expulsão dos corsários; para tal empresa, Tomé de Souza procurava estimular o povoamento da região do Rio de Janeiro, dando autorização aos mercadores portugueses para explorarem pau-brasil da região, fazendo com que a presença destes afastasse os contrabandistas franceses. Mas não foi apenas com relação ao Rio de Janeiro que o governador tomou providências para a defesa, “teve uma visão unitária do Brasil, não se poupando a esforços na guarda de toda a linha da costa” [9]. Contudo, os interesses da coroa portuguesa pareciam estar voltados apenas à defesa das capitanias do norte, apesar dos esforços do governador em conscientizar o rei a respeito da defesa das capitanias do sul.
A tensão na colônia sofreu forte acréscimo com a chegada do segundo governador, Duarte da Costa, em cujo governo se deu a invasão dos franceses à baía de Guanabara e sua consequente instalação; a falta de competência administrativa do governador, somada à escassez de recursos de defesa por parte da metrópole permitiram aos franceses a invasão e fixação sem grandes dificuldades.
Pau-brasil, procurado por portugueses e franceses[10].



[1] RAMOS, Juliana Maria de Carvalho
[2] http://respirehistoria.blogspot.com.br/2015/02/atividade-corsaria-no-litoral-da.html
[3] FLEIUSS, Max. História da Cidade do Rio de Janeiro (Distrito Federal) – Resumo Didático, p. 24  
[4] SERRÃO, Joaquim Veríssimo. O Rio de Janeiro no século XVI – I – Estudo Histórico; p. 45
[5] SERRÃO, Joaquim Veríssimo. O Rio de Janeiro no século XVI – I – Estudo Histórico; p. 45
[6] Imagem extraída do sítio http://loucosporpraia.com.br/praia-das-conchas-cabo-frio/
[7] SERRÃO, Joaquim Veríssimo. O Rio de Janeiro no século XVI – I – Estudo Histórico; p. 46
[8] http://historia.abril.com.br/gente/tome-souza-salvador-patria-480973.shtml
[9] SERRÃO, Joaquim Veríssimo. O Rio de Janeiro no século XVI – I – Estudo Histórico; p. 47
[10] Imagem extraída do sítio
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiL-Kii9Z-a9JojxO4I9wnzJVrJxOGOxrLoiDlkSaB_lb3DChQFFzQ9JiiUDja4MB1bxbGUObldi40BuB5DvNfDyllcVL6wXuJLBVza7ra15RTQaZW_IMcghlpB9Ub-eI5Xthw_gkneCA/s400/pb.jpg

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Olhares sobre o Brasil do século XIX: o lazer

O lazer no século XIX[1]
A ideia do lazer como parte do nosso cotidiano mudou muito, muito mesmo nos últimos duzentos, cem anos. Assim, se você for parar para pensar haverá de concluir que o lazer no século XIX se restringia como atividade cotidiana dos grupos mais ricos da sociedade, os setores mais aburguesados. Não que os mais pobres não se divertissem, não é isso. Mas é que a quantidade de registros sobre tal ação, remetendo às camadas populares, é relativamente pequena.
Fato é que a história do lazer no Brasil do século XIX pode ser apresentada como o momento em que as classes sociais se distinguiam. Enquanto os mais ricos realizavam as caminhadas pelos passeios públicos (o conhecido footing), andando nas praças das poucas cidades brasileiras, ostentando roupas e estilos europeus, a população mais pobre se concentrava nos espaços abertos ou de uso comum dos cortiços e nas vielas.
Um cartaz indica as roupas adequadas para o footing na rua da Praia, na cidade do Rio de Janeiro (1930).

 E daí, dessa população mais pobre, apareciam as raízes do povo brasileiro, a enorme miscigenação cultural existente em nosso país. A guitarra (não, não vá pensando na guitarra elétrica, mas sim no violão, na viola) ajudava o português e seus descendentes a cantar tristes fados, lembrando-se da terra a muito deixada. Normalmente as letras relatavam a saudade, a tristeza e a esperança em um dia voltar a ver o rio Tejo, famoso por banhar a cidade de Lisboa, capital portuguesa. Acompanhe esses versinhos:

“Terra minha, que te adoro,
Quando é que eu te torno a ver?
Leva-me deste desterro;
Basta já de padecer.”[2]
Ao passo que o fado parecia algo meio baixo astral, as rodas de samba, com seus barulhos envolventes e o pessoal dançando, caracterizavam a cultura brasileira profundamente influenciada pelos africanos. Aluísio Azevedo, em sua obra “O Cortiço” narra a transformação que a música causava, propiciando momentos de lazer para as pessoas mais pobres do nosso país.
“E aquela música de fogo doidejava no ar como um aroma quente de plantas brasileiras, em torno das quais se nutrem, girando, moscardos[3] sensuais e besouros venenosos, freneticamente, bêbados do delicioso perfume que os mata de volúpia.
E à viva crepitação[4] da música baiana calaram-se as melancólicas toadas dos de além-mar”.[5].
                                                              Sambistas paulistas no início do século XX (1920).
Voltando às classes mais ricas, era costume também fazer piqueniques, passeios de bicicleta e ir aos banhos, às termas, locais apropriados para banhar-se. Tal costume foi presente inclusive na família imperial portuguesa, sendo que D. Pedro II tinha como prática fazê-lo em alguns dos locais em que visitava. Cabe ressaltar que a elite fazia enorme esforço para se diferenciar das camadas mais pobres justamente pelo lazer que praticava, definindo a prática de se ouvir samba ou frequentar rodas de música como usos e costumes das populações mais pobres, do populacho, não “pegando bem” para as camadas mais ricas.
Citado anteriormente, as rodas de conversa, essas sim, eram comuns nos mais variados grupos sociais. Óbvio que as classes mais abastadas sentavam-se com os mais abastados, e os mais pobres com os mais pobres. Enquanto que os ricos se reuniam nas salas dos grandes casarões, bebericando chás e vinhos, os mais pobres encontravam nas vendas, bem como nas portas e pátios dos cortiços os espaços para a interação social, degustando uma cachacinha. Jogar conversa fora, colocar a prosa em dia, bebendo alguma coisa era uma das atividades de lazer mais comuns do século XIX.
Agora, um dos eventos que reunia os mais variados setores da sociedade, concentrava desde ricos a pobres, era a rinha de galo, a briga entre as aves, com apostas pomposas e plateias entusiasmadas. Tão comuns no século XIX, bem como no início do XX, as rinhas de galo no Brasil foram proibidas em 1934, pelo então presidente Getúlio Vargas. Em 1941 passaram a ser considerados crimes, porém de menor gravidade. De fato, um lazer bastante inadequado.




[1] RAMOS, Pedro Henrique Maloso
[2] AZEVEDO, Aloísio. O Cortiço. São Paulo: Ática, 1997. p. 71.
[3] Tapas.
[4] Estalar como as faíscas que pulam da madeira que está pegando fogo.
[5] AZEVEDO, Aloísio. O Cortiço. São Paulo: Ática, 1997. p. 71.

Capítulo 3: a viagem

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domingo, 8 de fevereiro de 2015

Capítulo 2: a vida de um servo medieval...

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1 - DO ORIENTE SURGIU A LUZ
Primeiro capítulo: http://respirehistoria.blogspot.com.br/2015/02/in-memorian-lembrancas-da-iv-cruzada.html