terça-feira, 27 de janeiro de 2015

James Cook – 1ª. Parte

James Cook – 1ª. Parte[1]
Que lugar a História da Civilização Atlântica (ocidental também poderia ser utilizado desde que não englobássemos a Austrália, marcadamente influenciada por valores ocidentais) ao navegante inglês James Cook? Recentemente, folheando livros e revistas de História, me surpreendi com a ausência de informações a respeito desse importante e notável navegante que viveu no século XVIII, momento em que a Inglaterra passou por um ciclo de transformações – ciclo que se estendeu por toda a Europa, suas colônias na América e, graças às navegações realizadas por Cook, também para as regiões do Pacífico.
A pergunta ganhou ainda mais volume quando percebi que no livro “A CIVILIZAÇÃO ATLÂNTICA – A História da Civilização Mundial” [2] não há nenhuma citação ao navegante inglês, apesar da Inglaterra ser abordada no período em que Cook realizou suas viagens[3]. A resposta mais óbvia seria a de que Cook fora um explorador do Pacífico e não do Atlântico e, portanto, não caberia abordar suas viagens nos livros que tratam do comércio e navegações entre o leste do continente americano e a Europa. Mas tal resposta elimina de maneira errônea o papel de Cook como o principal explorador do Pacífico, com passagens em cidades banhadas pelo Atlântico – como o Rio de Janeiro. Como veremos, Cook foi muito mais do que um explorador do Pacífico.
Nascido em uma família de lavradores no ano de 1728, James Cook não tinha, a princípio, um futuro promissor, nem condições ímpares de galgar uma carreira de prestígio e reconhecimento. Cook nasceu em um pequeno vilarejo, em Marton-in-Cleveland, Yorkshire, em uma Inglaterra que vivia os resultados das Revoluções Inglesas (1642-1689) e entrara nos acontecimentos que levariam à Revolução Industrial. Retrato do navegador James Cook, feito por Nathaniel Dance-Holland, em 1775[4]

A queda do Antigo Regime foi a marca do período em que viveu Cook. “Antigo Regime foi a denominação surgida na época da Revolução Francesa para indicar o sistema político-social vigente até 1789. Caracterizava-se pela monarquia absolutista baseada no direito divino dos reis, pelos privilégios aristocráticos e pelo mercantilismo”[5]. Na Inglaterra, em 1707, os parlamentos escocês e inglês se unificaram, o que resultou na criação do Reino Unido da Grã-Bretanha. Em 1713, através do Tratado de Ultrech[6], o Reino Unido obteve o controle de importantes regiões, como Menorca, Gibraltar e a Nova Escócia. A “Grã-Bretanha, desde a união de 1707, estava isenta de problemas internos. Isso possibilitava a livre circulação de homens e bens, garantindo a ampliação do mercado interno.
A ligação com as colônias americanas foi reforçada durante a dinastia Hannover de forma a garantir a obtenção de matérias-primas e a exportação dos manufaturados, segundo o princípio de comprar barato e vender caro. Ao mesmo tempo, as guerras contra a França possibilitaram a expansão do império britânico e dos mercados ultramarinos na Índia e no Canadá”[7]. Em 1733 fora inventada a lançadeira volante[8], por John Kay, dando início a um ciclo de inovações possibilitada pela Revolução Industrial. Essa era a Inglaterra, agora Reino Unido da Grã-Bretanha, de Cook, que também pôde observar os primeiros movimentos de rebelião das 13 colônias inglesas, iniciados após o aumento dos impostos através da Lei do Selo (1765).   
“Aos 16 anos Cook foi encaminhado para ser aprendiz de um merceeiro e negociante de secos e molhados. Sua passagem pela escola foi breve, dos 8 aos 12 anos de idade. A carreira marítima só teria início aos 18 anos, em uma época na qual era normal que meninos de 11 ou 12 anos se fizessem ao mar”[9]. A entrada na Marinha ocorreu anos depois. Aos 27 anos Cook era marinheiro formado; e somente aos 40 anos foi promovido a oficial, servindo como tal por uma década. Esse período foi de grande importância para Cook, como veremos à frente.
Deve ser lembrada também a importância da navegação de cabotagem na vida de Cook, que começara nessas embarcações que singravam pelo mar do Norte. “Esses pequenos brigues-barcas, do tamanho aproximado de um rebocador atual, faziam o transporte de carvão para Londres. Na época dos barcos a vela, a navegação de cabotagem era bem mais arriscada do que as travessias de alto-mar, pois o próprio litoral era a maior ameaça. Marés, ventos contrários, tempestades – tudo podia arremessar os barcos contra a terra. Quase sempre com conseqüências fatais” [10].   Há que se mencionar aqui o fato de que a navegação de cabotagem também foi uma importante escola para os navegantes e descobridores ibéricos. Com Cook, não foi diferente. Uma escola que forneceu inúmeros subsídios e experiências impares, aproveitados com maestria pelo jovem britânico. Tanto que 1755 foi ofertado ao imediato o comando de uma embarcação. Mas Cook recusou, engajando-se na Marinha, aos 27 anos, como marinheiro. 
Foi durante a sua carreira na marinha britânica que o oficial James Cook fez uma exploração sem precedentes pelo vasto oceano Pacífico. O trabalho de Fernão de Magalhães foi, sem dúvidas, importante, porém estava longe de ser completado. Outros haviam contribuído – como o espanhol Núñez de Balboa – mas o “mar do Sul” ainda permanecia envolto em atmosfera de mistérios e incertezas. Foi à bordo do Endeavour que Cook começou a mudar essa situação. No total foram três viagens, sendo a última a expedição que custou a vida do navegante inglês. Réplica do Endeavour[11].

  A carreira de Cook na Marinha foi, de fato, espantosa. A Marinha Real não era o sonho de todo o navegante inglês, nem de longe.  Mas, no caso de Cook, foi a escolha que o permitiu sagrar-se como um dos maiores navegantes do mundo. “Com extraordinária rapidez – pelos padrões da Marinha -, Cook chegou ao posto de mestre, ou seja, um suboficial que, ao contrário do oficial pleno, podia assumir o comando do barco, mas não engajá-lo em combate. Assim, aos 29 anos, ele foi nomeado mestre do Pembroke, um barco com 64 bocas-de-fogo baseado na América do Norte.
No Canadá ele se destacou ao mapear o turbulento rio São Lourenço até a altura de Quebec. Foi essa expedição que se tornou possível a bem-sucedida operação anfíbia, liderada pelo general James Wolfe, que pôs fim a hegemonia francesa no Canadá[12]. Em seguida, por cinco anos, Cook encarregou-se de traçar os mapas da costa da Terra Nova, produzindo cartas náuticas tão precisas que continuavam em uso séculos depois”[13].
Em nosso próximo texto veremos os acontecimentos da vida de Cook desde 1766 até 1770,  momento em que já está ocorrendo a exploração das águas e terras da Oceania. Abaixo, uma visão do Endeavour por dentro[14]!
    



[1] RAMOS, Pedro Henrique Maloso.
[2] A CIVILIZAÇÃO ATLÂNTICA – A História da Civilização Mundial – Max Savelle (coord.) – vol. 2. Belo Horizonte: Villa Rica, 1990.
[3] A abordagem é, de fato, breve (capítulo 27 – A Civilização Atlântica no Novo Mundo, páginas 502 a 509), porém em nenhum momento o nome de Cook é citado. 
[4] Imagem extraída do sítio http://en.wikipedia.org/wiki/James_Cook
[5] PAZZINATO, A. L.; SENISE, M. H. V. “História Moderna e Contemporânea” São Paulo: Editora Ática, 1997. 6ª. Edição. p. 88
[6] Resultado da participação na Guerra de Sucessão Espanhola (1702 – 1714)
[7] PAZZINATO, A. L.; SENISE, M. H. V. “História Moderna e Contemporânea” São Paulo: Editora Ática, 1997. 6ª. Edição. p. 92
[8] “Peça do tear manual, que possibilitou fabricar mais rapidamente tecidos mais largos” in  PAZZINATO, A. L.; SENISE, M. H. V. “História Moderna e Contemporânea” São Paulo: Editora Ática, 1997. 6ª. Edição. p. 93
[9] Revista National Geographic Brasil – Grandes exploradores - Edição de colecionador . São Paulo: Editora Abril, 2003. p. 104.
[10] Revista National Geographic Brasil – Grandes exploradores - Edição de colecionador . São Paulo: Editora Abril, 2003. p 114
[11] Imagem extraída do sítio http://de.wikipedia.org/wiki/Endeavour_(Schiff)
[12] Tal fato ocorrera em 1759, durante a Guerrados Sete Anos. Aqui se reitera a importância de Cook para a História da Civilização Atlântica.
[13] Revista National Geographic Brasil – Grandes exploradores - Edição de colecionador . São Paulo: Editora Abril, 2003. p. 116
[14] Imagem extraída do sítio http://www.australiangeographic.com.au/topics/history-culture/2010/05/building-history-the-endeavour-replica/

Nenhum comentário:

Postar um comentário