A Igreja e a Idade Média
professor
Pedro Henrique Ramos
Imaginemos
que você recebeu a seguinte tarefa: fazer uma pesquisa sobre as características
culturais, sociais, políticas e econômicas da Idade Média. Ou seja, pesquisar
os principais elementos que formavam a sociedade medieval. É fato que, além de
muito trabalho, você chegaria a uma conclusão: em todos os itens pesquisados
por você iria aparecer a Igreja Cristã, posteriormente definida como Igreja Católica
Apostólica Romana. Sem dúvidas. E para que você comece a se convencer disso,
segue um documento histórico: “Deus
quis que, entre os homens, uns fossem senhores e outros servos, de tal maneira
que os senhores estejam obrigados a venerar e amar Deus, e que os servos
estejam obrigados amar e venerar o seu senhor” [1].
A sociedade
feudal tinha como uma das principais características a cultura teocêntrica, ou seja, “todo o poder político girava em torno da
autoridade religiosa, da fé” [2].
Assim, o clero possuía um enorme poder. Dentro dos feudos era muito comum a
presença de pequenas capelas e os membros do clero tinham trânsito livre por
essas regiões (nos feudos mais ricos existiam grandes construções religiosas). Só
para você ter uma ideia, o historiador brasileiro Hilário Franco Júnior faz a
análise de que a Igreja era quem mais possuía terras em uma sociedade que vivia
a partir da atividade agrária.
Veja a imagem
da estrutura de um feudo. Note a presença da construção religiosa.
Agora façamos
um novo desafio, uma nova tarefa! Partindo dos documentos históricos que lemos,
você conseguiria preencher a pirâmide social da Idade Média? Antes que você
considere impossível preencher os espaços, leia novamente aquelas antigas
palavras, proferidas pelo bispo Adalberon de Laon.
Bem, agora que você já preencheu os
espaços[3],
vamos fazer algumas considerações MUITO
importantes:
- muitos
padres eram senhores feudais, controlando extensas e grandiosas áreas. Os papas
católicos poderiam ser considerados como grandes senhores feudais;
- por
controlar muitas terras, a maioria das relações de suserania e vassalagem
estava sob o controle da Igreja Católica;
- o fato de o
casamento ser proibido entre os membros da Igreja Católica tinha sim uma
explicação. Implantado no século XII, pelo papa Gregório VII (1020/1025 – 1080),
o celibato clerical foi instituído sob o discurso de que, ao se
casarem, os padres acabavam se distanciando da vida clerical e dos exemplos de
Cristo. No entanto, a Igreja Católica buscava principalmente evitar que os
filhos dos padres, através de herança, passassem a controlar terras e, assim,
diminuíssem os territórios da instituição;
- a pirâmide
social que apresentamos acima sofrerá algumas alterações a partir do século
XIII, como veremos em textos futuros.
A divisão
social que você acabou de conhecer obedecia a um rígido padrão, sendo que a
condição social de um indivíduo era determinada pela ordem social em que este
nascia. Portanto, mesmo que um servo trabalhasse muito, nunca seria um nobre. Os
membros do clero, na maioria das vezes, eram nobres que possuíam grande poder
político.
“O princípio de estratificação era privilégio
de nascimento. Cada indivíduo permanecia preso à sua posição na sociedade, o
que caracterizava uma imobilidade social e estabelecia um regime de
desigualdade” [4].
Isso deu ao Sistema Feudal a característica de uma sociedade sem mobilidade
social.
A maioria dos
clérigos tinha sua origem na nobreza feudal, no “sangue de reis”, o que
fortalecia as relações dos nobres e dos clérigos. A figura da nobreza,
justamente por estar ligada a formação dos clérigos, recebia um caráter
sagrado.
Já tratamos
dos senhores feudais e dos clérigos! Falta abordar a vida dos camponeses medievais!
Além do mais
Começo
afirmando que o universo do camponês (servo) era muito ligado à Igreja e sua
vida no feudo. Um servo vivia conforme as determinações religiosas e as do seu
senhor. “A sociedade medieval era
profundamente religiosa. Era comum a celebração de ritos para fazer as plantas
crescerem, para conseguir boa
colheita, para pedir a chuva etc.” [5].
Vimos também
que os camponeses eram a força de trabalho da Idade Média. Mas como será que
viviam essas pessoas?
Andei pesquisando e descobri que não era uma
vida muito fácil não, aliás, era difícil mesmo. Os servos trabalhavam por
longos períodos e muito daquilo que produziam iria para as mãos dos senhores
feudais e da Igreja. O que restava (e pode apostar, não era muito) era para
alimentar a sua família. As crianças, desde cedo, trabalhavam, seja auxiliando
os pais no plantio e colheita, seja realizado serviços domésticos.
A carência de
alimentos ocorria também em virtude de que muitas vezes a colheita sofria com
as geadas, temporais, chuvas ou a falta delas. E aí, grande parte do que fora
plantado era perdido, e a maior parte do que sobrava iria para pagar as
obrigações servis.
Dado o fato, era comum que os servos
ingerissem uma quantidade mínima de alimentos. Carne? Se caçasse um coelho no
manso comunal, beleza. Caso contrário, legumes, trigo e o caldo daquilo que
sobrou da janta passada. Não à toa, veja
o registro feito por um cronista do século XII sobre essa questão:
“Se ele (o servo) tiver ganso ou galinha gorda
Bolo de farinha de trigo em seu
armário
A casa do
camponês era feita de pedra, com o chão de terra batida (quando chovia virava
lama batida!) e o telhado de feno e pedaços de madeira. Cama? Não, as pessoas
dormiam sobre pedaços de couro de animais e feno. Banheiro? A moita mais
próxima, por favor.
Já
conversamos sobre o trabalho de um servo em um feudo, mas não custa revisar.
O trabalho era, como vimos, regulado pelas
relações servis de produção, tendo os costumes a mesma função das leis,
costumes esses muitas vezes idealizados, implantados e mantidos pela principal
instituição do período: a Igreja Católica.
Perceba que a
lógica posta na sociedade medieval determina que a massa campesina é quem
trabalha, enquanto os nobres e clérigos vivem às custas do trabalho dos
camponeses. Essa sociedade profundamente hierarquizada denota que o nascimento
era fator crucial na vida do indivíduo, ideia básica e central trabalhada nesse
texto.
Assim, a
segmentação social colocava de maneira bem evidente servos de um lado, nobres e
clérigos de outro.
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Exercícios de Revisão
1) Resumidamente,
escreva duas diferenças entre a vida dos servos e dos senhores feudais.
2) É correto
afirmar que, se um servo trabalhasse muito, viraria um senhor feudal? Explique
sua resposta.
[1] Freitas, Gustavo de. 900 textos e
documentos de História. Lisboa: Editora Plátano, 1976. p. 145
[2] Pazzinato, A L.; SENISE, M. H. V. - História Moderna e Contemporânea. 6a.
Edição. - São Paulo: Editora Ática, 1997. p. 8.
[3] clérigos ou membros da Igreja Católica = responsáveis por rezar;
nobres ou os senhores feudais = responsáveis por guerrear; servos ou os
camponeses = responsáveis por trabalhar
[4] Pazzinato, A L.; Senise, M. H. V. - História Moderna e Contemporânea. 6a. Edição. - São
Paulo: Editora Ática, 1997. p. 8.
[5] Pazzinato, A L.; Senise, M. H. V. - História Moderna e Contemporânea. 6a. Edição. - São
Paulo: Editora Ática, 1997. p. 8.
[6] citado in Huberman, Leo. História
da riqueza do homem/ Leo Huberman; tradução de Waltensir Dutra. – 21ª. ed. –
Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. p 6.
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