sábado, 13 de abril de 2019

15º Texto - Magazine Histórico do 7º Ano - EMEF Leandro Klein


15º Texto - A formação dos Estados Nacionais
professor Pedro Henrique Ramos
Nos últimos textos você pôde perceber como ocorreu o desenvolvimento de uma “classe” social que se diferenciava dos moldes da sociedade medieval. Mais surpreendente é perceber que a burguesia surgiu justamente por fatores ocorridos dentro do mundo medieval. E foi a burguesia uma das maiores responsáveis pela formação de alguns dos Estados Nacionais. Em algumas situações seu poder político (decorrente do crescimento econômico que conquistara) era tão grande que foI ela quem sentou ao lado do rei para decidir algumas leis, discutir algumas medidas que seriam adotadas, algumas regras que deveriam valer, obviamente pensando no fato de que as atividades comerciais deveriam entrar na pauta de reunião do futuro monarca.
O raciocínio era simples: pergunta o burguês “você irá nos ajudar?”. O rei, sem muitas possibilidades de escolha (e também acreditando que lucraria com a troca), respondia que sim. “Pois bem, iremos financiar e apoiar o seu reino” responderiam os burgueses.
Essa questão do apoio da burguesia ao rei derrubou definitivamente a figura do senhor feudal. Leo Huberman, em seu livro a “História da Riqueza do Homem”, nos mostra isso. Acompanhe um trecho que comprova a nossa afirmação:
O rei fora um aliado forte das cidades na luta contra os senhores feudais. Tudo o que reduzisse a força dos senhores feudais fortalecia o poder real. Em recompensa pela sua ajuda, os cidadãos (aqui como habitantes das cidades, os burgueses) estavam prontos a auxiliar o rei com empréstimos em dinheiro. Isso era importante porque, com dinheiro, o rei podia dispensar a ajuda militar de seus vassalos. Podia contratar e pagar um exército pronto, sempre a seu serviço, sem depender da lealdade de um senhor. Seria também um exército melhor, porque tinha uma única ocupação: lutar. Os soldados feudais não tinham preparo nem organização regular que lhes permitisse atuar em conjunto, com harmonia[1].
Neste primeiro trecho fica claro que a frase “uma mão lava a outra” serviu direitinho para explicar a relação entre os burgueses e os reis. Os burgueses queriam união: uma mesma moeda, leis que funcionassem para todo território e impedissem que, a cada feudo que passassem, os comerciantes tivessem que pagar pedágios e trocar moedas. Além disso, queriam exércitos que combatessem ladrões nas estradas e estradas melhores, facilitando as trocas comerciais. Já o rei precisava de dinheiro para equipar o exército, para eliminar os vínculos de dependência com os seus vassalos (que muitas vezes colocavam dificuldades para auxiliar um suserano que estivesse aumentando seu poder). Nasciam os Estados Nacionais. No entanto, outras situações fizeram parte da montagem das nações durante a Baixa Idade Média.
Portugal e Espanha nos ajudam a apresentar essas outras situações. Vamos começar por essas duas nações que ficam na península Ibérica.
A Reconquista da Península Ibérica (a formação da Espanha e Portugal)
Desde o início do século VIII a península ibérica estava quase totalmente dominada pelos muçulmanos. Eram muitos os califados[2]. Os cristãos que lá viviam ocupavam os territórios localizados ao norte da península. A partir do século XI, as Cruzadas no Oriente e as lutas internas pelo poder entre os muçulmanos estimularam os cristãos a retomar os territórios ocupados pelos árabes na Europa. A esse processo damos o nome de Reconquista Cristã, fundamental na formação da Espanha e Portugal. Mas não ache que a burguesia não esteve associada a esse processo. Veremos que o “dedinho” burguês aparece aqui também.
Espanha: aos poucos, os territórios que os cristãos iam conquistando deram origem a reinos como Leão, Castela, Navarra e Aragão. Uma vez constituídos, esses reinos travaram inúmeras lutas entre si, gerando, muitas vezes, o desaparecimento de alguns reinos e o surgimento de outros. As alianças pelo matrimônio também contribuíram para as mudanças das fronteiras. Foi o caso do herdeiro do trono de Aragão, Fernando, que se casou com Isabel, irmã do rei de Leão e Castela.
Mais tarde, essa união daria origem à Espanha. A Espanha, a partir do século XV, contou diretamente com a burguesia para iniciar suas conquistas e formar um vasto império.

Portugal: assim como a Espanha, o estado nacional português se originou dentro do processo denominado de Reconquista Cristã, efetuado na Península Ibérica sob a direção dos reinos cristãos de Leão e de Castela. O então rei de Leão, Afonso VI (1072-1109) pretendia garantir a efetiva reconquista de alguns territórios castelhanos – ainda sob o domínio muçulmano –, bem como expandir os domínios cristãos aos territórios que hoje pertencem a Portugal – ou seja, reconquistá-los.  Para levar a cabo seu projeto, D. Afonso VI contou com o apoio de dois franceses. Esses homens – primos -, chamados Henrique de Borgonha e Raimundo de Borgonha, receberiam como pagamento pelos serviços prestados, as mãos das filhas do rei Afonso VI e os territórios do Condado Portucalense e da Galícia, respectivamente, bem como as áreas castelhanas reconquistadas, que também ficariam sob o domínio de Raimundo de Borgonha. No entanto, todas as áreas reconquistadas estariam sujeitas ao rei Afonso VI. Com a unificação dos reinos de Castela e Leão, agora sob o domínio do rei Raimundo de Borgonha, o Condado Portucalense passou a ser de domínio castelhano.
O Condado Portucalense, localizado no litoral oeste da Península Ibérica, se tornou, no entanto, independente de Castela na primeira metade do século XII (1140), sob o comando do filho de Henrique de Borgonha, o rei Afonso Henriques de Borgonha, inaugurando assim a primeira dinastia portuguesa. Vale lembrar que a burguesia apoiou diretamente essa independência.
A separação de Castela obviamente não ocorreu sem a existência de conflitos. Os monarcas portugueses, no intuito de manter o reino, continuaram os processos de expulsão dos mouros e de luta contra os castelhanos, patrocinados pelos burgueses lusitanos. Os conflitos realizados durante uma parte da Baixa Idade Média (entre os séculos XII e XIV) garantiriam a independência portuguesa, transformando o reino e dando o esboço de suas características políticas, institucionais e territoriais – devemos lembrar, no entanto, que o processo que levaria à efetiva independência de Portugal só se completou no final da Revolução de Avis, no século XIV (com auxílio da burguesia lusitana).
França e Inglaterra
Os casos da França e Inglaterra são interessantes para entendermos a influência da burguesia e a crise do Sistema Feudal. Veremos em textos futuros como tais fatores acabaram levando à Guerra dos Cem Anos. Por enquanto, iremos analisar como essas nações se formaram.
Vamos começar pela França.
França: a formação da França teve início no final do século XII, quando o poder real tomou medidas para enfraquecer a nobreza, por exemplo criando um exército assalariado sob domínio real e taxando os bens da Igreja. Além de controlar a Igreja francesa, o rei Felipe, o Belo, que governou a França entre 1285 e 1314, convocou uma assembleia composta pelo clero, nobreza e representantes das cidades (burguesia) para comunicar suas decisões. Essa assembleia ficou sendo conhecida posteriormente como Estados Gerais.
A burguesia na França foi um misto de parceria e criticas aos futuros reis franceses. A situação, iniciada no século XIII, só foi resolvida no final do século XVIII, na Revolução Francesa. O que nos importa aqui é saber que, desde a formação do reino francês, a burguesia influenciou diretamente os rumos da nação francesa.
Inglaterra: alguns historiadores afirmam que a monarquia inglesa foi um dos casos mais interessantes para explicar as crises medievais e a ascensão da burguesia.
Na Inglaterra a centralização do poder originou-se com Henrique II no século XII, mas enfraqueceu-se durante o governo de seu sucessor, o rei Ricardo Coração de Leão, ausente da Inglaterra durante grande parte de seu reinado, lutando nas Cruzadas.
João Sem-Terra[3] sucedeu Ricardo e logo teve de enfrentar a oposição dos nobres, descontentes com as pesadas taxas que pagavam para sustentar os gastos militares. Pressionado pela nobreza, pelo clero e pela burguesia, João Sem-Terra assinou, em 1215, a Magna Carta, cujo principal objetivo era limitar os poderes do rei. Segundo os historiadores, a burguesia pressionou muito o rei inglês para que o mesmo garantisse a adoção de algumas medidas já neste documento (veja que o trecho que abre o nosso texto fala sobre a nação inglesa).
Uma das muitas representações desse importante momento da História Inglesa!

Além do mais
Você já reparou nos nomes das pessoas que viviam na Idade Média? Temos o Adalberon de Laon, o Gilbert de Neville, o Robert de Bedford... Parece que os sobrenomes das pessoas faziam referência a algum lugar, não é mesmo? Pois bem, não só parece. É isso mesmo.
Laon, por exemplo, é hoje uma cidade francesa, que fica a nordeste de Paris. Possui muitas construções medievais, algumas delas erguidas na época em que era apenas uma das muitas regiões feudais, quando certo bispo Adalberon caminhava por lá. Há outros exemplos, mais famosos eu diria. Leonardo da Vinci adivinha por quê? Porque Leonardo nasceu em Vinci, um povoado próximo à Firenze. Interessante, não é?
Seria assim, caso se pegássemos o caso de algumas pessoas que trabalham na escola: André de São Paulo, Pedro de Piracicaba.
Mas não era só o lugar que determinava o sobrenome de uma pessoa na Idade Média. Na verdade, com o aparecimento das corporações de ofício, com as associações comerciais, algumas pessoas recebiam o nome conforme o seu ofício. No caso do sobrenome Schumacher o significado é sapateiro. E nas terras geladas do norte da Europa muitos foram os sapateiros que se consagraram durante a Idade Média. Afinal, um par de sapatos era artigo de luxo nesse período e, sem exageros, decidia se a pessoa manteria os pés aquecidos ou os veria necrosar por causa do frio.
Já na França a figura do cavaleiro foi bem representativa desde o reino franco, quando Carlos Martel venceu os árabes. Por isso, Chevalier tornou-se um sobrenome comum na França. E chevalier é cavaleiro.
Exercícios de revisão
1) Faça uma breve análise da frase abaixo: "a burguesia não ajudou na formação dos Estados Nacionais". A frase está correta ou não? Argumente.
2) Qual foi o primeiro Estado Nacional a ser formado? Escreva duas características do mesmo.


[1] Huberman, Leo. História da riqueza do homem/ Leo Huberman; tradução de Waltensir Dutra. – 21ª. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. pp.72 – 73 (adaptado)
[2] Domínio controlado por um califa. E califa é... Califa: é o soberano, muitas vezes com poderes espirituais e políticos sobre os muçulmanos. Fazendo apenas uma simples comparação corresponderia a um grande chefe do lado ocidental, mas com mais poder do que um senhor feudal.  
[3] sim, João era um nobre despossuído, um nobre sem terras. Era irmão mais novo de Ricardo

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