segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

9º Texto - 7º Ano - 2022 - A Igreja e a Idade Média


 A Igreja e a Idade Média

professor Pedro Henrique Ramos
Imaginemos que você recebeu a seguinte tarefa: fazer uma pesquisa sobre as características culturais, sociais, políticas e econômicas da Idade Média. Ou seja, pesquisar os principais elementos que formavam a sociedade medieval. É fato que, além de muito trabalho, você chegaria a uma conclusão: em todos os itens pesquisados por você iria aparecer a Igreja Cristã, posteriormente definida como Igreja Católica Apostólica Romana. Sem dúvidas. E para que você comece a se convencer disso, segue um documento histórico: Deus quis que, entre os homens, uns fossem senhores e outros servos, de tal maneira que os senhores estejam obrigados a venerar e amar Deus, e que os servos estejam obrigados amar e venerar o seu senhor” [1].
A sociedade feudal tinha como uma das principais características a cultura teocêntrica, ou seja, “todo o poder político girava em torno da autoridade religiosa, da fé” [2]. Assim, o clero possuía um enorme poder. Dentro dos feudos era muito comum a presença de pequenas capelas e os membros do clero tinham trânsito livre por essas regiões (nos feudos mais ricos existiam grandes construções religiosas). Só para você ter uma ideia, o historiador brasileiro Hilário Franco Júnior faz a análise de que a Igreja era quem mais possuía terras em uma sociedade que vivia a partir da atividade agrária.
Veja a imagem da estrutura de um feudo. Note a presença da construção religiosa.
Agora façamos um novo desafio, uma nova tarefa! Partindo dos documentos históricos que lemos, você conseguiria preencher a pirâmide social da Idade Média? Antes que você considere impossível preencher os espaços, leia novamente aquelas antigas palavras, proferidas pelo bispo Adalberon de Laon.    

Bem, agora que você já preencheu os espaços[3], vamos fazer algumas considerações MUITO importantes:
- muitos padres eram senhores feudais, controlando extensas e grandiosas áreas. Os papas católicos poderiam ser considerados como grandes senhores feudais;
- por controlar muitas terras, a maioria das relações de suserania e vassalagem estava sob o controle da Igreja Católica;
- o fato de o casamento ser proibido entre os membros da Igreja Católica tinha sim uma explicação. Implantado no século XII, pelo papa Gregório VII (1020/1025 – 1080), o celibato clerical foi instituído sob o discurso de que, ao se casarem, os padres acabavam se distanciando da vida clerical e dos exemplos de Cristo. No entanto, a Igreja Católica buscava principalmente evitar que os filhos dos padres, através de herança, passassem a controlar terras e, assim, diminuíssem os territórios da instituição;
- a pirâmide social que apresentamos acima sofrerá algumas alterações a partir do século XIII, como veremos em textos futuros.
A divisão social que você acabou de conhecer obedecia a um rígido padrão, sendo que a condição social de um indivíduo era determinada pela ordem social em que este nascia. Portanto, mesmo que um servo trabalhasse muito, nunca seria um nobre. Os membros do clero, na maioria das vezes, eram nobres que possuíam grande poder político.
O princípio de estratificação era privilégio de nascimento. Cada indivíduo permanecia preso à sua posição na sociedade, o que caracterizava uma imobilidade social e estabelecia um regime de desigualdade[4]. Isso deu ao Sistema Feudal a característica de uma sociedade sem mobilidade social.
A maioria dos clérigos tinha sua origem na nobreza feudal, no “sangue de reis”, o que fortalecia as relações dos nobres e dos clérigos. A figura da nobreza, justamente por estar ligada a formação dos clérigos, recebia um caráter sagrado.
Já tratamos dos senhores feudais e dos clérigos! Falta abordar a vida dos camponeses medievais!
Além do mais
Começo afirmando que o universo do camponês (servo) era muito ligado à Igreja e sua vida no feudo. Um servo vivia conforme as determinações religiosas e as do seu senhor. “A sociedade medieval era profundamente religiosa. Era comum a celebração de ritos para fazer as plantas crescerem, para conseguir boa colheita, para pedir a chuva etc.” [5].
Vimos também que os camponeses eram a força de trabalho da Idade Média. Mas como será que viviam essas pessoas?
  Andei pesquisando e descobri que não era uma vida muito fácil não, aliás, era difícil mesmo. Os servos trabalhavam por longos períodos e muito daquilo que produziam iria para as mãos dos senhores feudais e da Igreja. O que restava (e pode apostar, não era muito) era para alimentar a sua família. As crianças, desde cedo, trabalhavam, seja auxiliando os pais no plantio e colheita, seja realizado serviços domésticos.
A carência de alimentos ocorria também em virtude de que muitas vezes a colheita sofria com as geadas, temporais, chuvas ou a falta delas. E aí, grande parte do que fora plantado era perdido, e a maior parte do que sobrava iria para pagar as obrigações servis.
Dado o fato, era comum que os servos ingerissem uma quantidade mínima de alimentos. Carne? Se caçasse um coelho no manso comunal, beleza. Caso contrário, legumes, trigo e o caldo daquilo que sobrou da janta passada.  Não à toa, veja o registro feito por um cronista do século XII sobre essa questão:
“Se ele (o servo) tiver ganso ou galinha gorda
Bolo de farinha de trigo em seu armário
Tudo isso terá que ser do senhor” [6]
A casa do camponês era feita de pedra, com o chão de terra batida (quando chovia virava lama batida!) e o telhado de feno e pedaços de madeira. Cama? Não, as pessoas dormiam sobre pedaços de couro de animais e feno. Banheiro? A moita mais próxima, por favor.
Já conversamos sobre o trabalho de um servo em um feudo, mas não custa revisar.
trabalho era, como vimos, regulado pelas relações servis de produção, tendo os costumes a mesma função das leis, costumes esses muitas vezes idealizados, implantados e mantidos pela principal instituição do período: a Igreja Católica.
Perceba que a lógica posta na sociedade medieval determina que a massa campesina é quem trabalha, enquanto os nobres e clérigos vivem às custas do trabalho dos camponeses. Essa sociedade profundamente hierarquizada denota que o nascimento era fator crucial na vida do indivíduo, ideia básica e central trabalhada nesse texto.
Assim, a segmentação social colocava de maneira bem evidente servos de um lado, nobres e clérigos de outro.

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Portanto, concluindo a nossa análise acerca da sociedade medieval, é fato que estamos tratando de uma sociedade essencialmente agrária, com tendência a autossuficiência, ou seja, produzindo apenas para o consumo imediato.
Exercícios de Revisão
1) Resumidamente, escreva duas diferenças entre a vida dos servos e dos senhores feudais.
2) É correto afirmar que, se um servo trabalhasse muito, viraria um senhor feudal? Explique sua resposta.



[1] Freitas, Gustavo de. 900 textos e documentos de História. Lisboa: Editora Plátano, 1976. p. 145
[2] Pazzinato, A L.; SENISE, M. H. V. - História Moderna e Contemporânea. 6a. Edição. - São Paulo: Editora Ática, 1997. p. 8.
[3] clérigos ou membros da Igreja Católica = responsáveis por rezar; nobres ou os senhores feudais = responsáveis por guerrear; servos ou os camponeses = responsáveis por trabalhar
[4] Pazzinato, A L.; Senise, M. H. V. - História Moderna e Contemporânea. 6a. Edição. - São Paulo: Editora Ática, 1997. p. 8.
[5] Pazzinato, A L.; Senise, M. H. V. - História Moderna e Contemporânea. 6a. Edição. - São Paulo: Editora Ática, 1997. p. 8.
[6] citado in Huberman, Leo. História da riqueza do homem/ Leo Huberman; tradução de Waltensir Dutra. – 21ª. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. p 6.

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