A Guerra dos
Cem Anos [1]
Afirmamos que a formação dos Estados Nacionais foi um dos elementos mais
marcantes da Baixa Idade Média. A crise do feudalismo foi agravada por
conflitos locais e, após a formação das nações, por conflitos nacionais. E
foram as guerras entre a França e a Inglaterra, conhecidas como Guerra dos Cem
Anos (1337 – 1453), que tornaram a Europa Medieval palco de uma série de
eventos que facilitaram o fim do Sistema Feudal.
Consideramos que os conflitos entre franceses e ingleses ocorreram em
grande parte por iniciativa militar inglesa e estiveram exclusivamente ligados
ao território francês (palco das disputas militares e políticas). A Inglaterra,
momentos antes de iniciar os conflitos, apresentava vantagens em relação à
nação francesa. “Com a cobrança de impostos já regulamentada, os exércitos
ingleses puderam ser adequadamente formados"[2]. Na realidade, não tivemos
cem anos de conflitos. Períodos de guerras eram muitas vezes entremeados[3] por
períodos de paz e armistícios[4].
Mas, afinal, por que a Guerra dos Cem Anos começou? Existem várias
explicações, entre elas problemas de sucessão (quem iria substituir um rei
morto?), as antigas disputas territoriais (afinal, aquela terra é de quem?) e
as divergências[5] políticas.
Dois itens foram marcas gerais dos conflitos:
“- A disputa entre os monarcas dos dois países pela região de
Flandres, que era uma rica região comercial e grande produtora de manufaturas
têxteis cuja matéria prima, a lã, era importada da Inglaterra[6];
- A sucessão do trono francês. Com a morte do rei Carlos IV,
em 1328, a dinastia dos capetíngios terminou, pois ele não havia
deixado descendentes diretos. Apresentaram-se como candidatos Filipe de Valois,
sobrinho do ex-rei Filipe, o Belo (1285 – 1314) da dinastia dos capetíngios; e
Eduardo III, rei da Inglaterra, neto por parte de mãe de Filipe, o Belo. A
nobreza francesa coroou Filipe de Valois (Filipe IV), baseando-se em uma lei
medieval (a lei Sálica) que impedia qualquer descendência real através da mulher”[7]
A região de Flandres.
Obviamente que Eduardo III não concordou com a coroação de Filipe IV,
recorrendo às armas. A nobreza da França era contrária à coroação de Eduardo
III, justamente porque, caso este chegasse ao trono francês, a Inglaterra
dominaria a rica região de Flandres. Começava a Guerra dos Cem Anos.
Dividimos a guerra em quatro fases distintas. Observe que o conflito
muda conforme as “fases”:
1ª. Fase (1337-1360): marcada por vitórias inglesas. A Inglaterra
controlou quase toda a faixa litorânea noroeste da França;
2ª. Fase (1360-1380): foi uma fase de recuperação da França, que
reconquistou boa parte dos territórios ocupados pelos franceses;
3ª. Fase (1380-1420): novamente a França sofre uma série de derrotas. A
figura de Henrique V, rei inglês, se destaca. Nesse momento o rei inglês chegou
a ser considerado herdeiro do trono francês;
4ª. Fase (1420-1453): foi o momento em que ocorreu a lenta recuperação
francesa. Tivemos a presença da francesa Joana D’Arc, que com um discurso
nacionalista liderou um exército popular contra os ingleses. Joana foi
derrotada na região de Borgonha, sendo então entregue as tropas inglesas. Foi
morta na fogueira. No entanto, foi essa francesa quem liderou a França rumo à
vitória. Os ingleses foram finalmente expulsos do território francês em 1453.
A vitória francesa ainda não estava consolidada em 1453.
A nobreza de Borgonha (região francesa) impôs a paz ao rei francês, Carlos
VII, buscando impedir que o soberano controlasse os nobres. No entanto, o rei
Luis XI (1461-1483), percebendo a manobra da nobreza, consolidou o poder do rei
e finalmente confirmou a monarquia francesa.
Se forem observados os resultados dos conflitos para ambas as nações
podemos encontrar situações diferentes (quase opostas). Comecemos pela
Inglaterra.
Os historiadores consideram que a reorganização econômica e militar
francesas (a partir do governo de Carlos VII) dificultaram a presença dos
ingleses em território inimigo, levando finalmente a derrota da Inglaterra. “A
derrota na Guerra dos Cem Anos coincidiu com o fim da dinastia reinante na
Inglaterra e com o aumento de rivalidades entre os nobres. A autoridade real
não era mais capaz de manter essa camada unida. Dois anos depois eclodiu uma
guerra civil, conhecida como Guerra das Duas Rosas (1455-1485), entre as duas
maiores famílias proprietárias de terras – os York e Lancaster. Após
trinta anos de lutas, ascenderam ao trono os Tudor, responsáveis pele efetiva
centralização na Inglaterra”[8]
Como dito, os resultados franceses foram bem diferentes. Apesar de
vitimar um grande número de trabalhadores e causar prejuízos materiais, o
conflito permitiu a confirmação do poder da dinastia Valois sobre a nobreza
feudal, com a ajuda e o apoio do exército nacional. O processo de consolidação
da monarquia francesa foi concluído no reinado de Francisco I (1515-1547).
Conclui-se assim que devido ao longo “período de guerras, da peste
negra e das inúmeras revoltas camponesas, a situação da Europa agravou-se,
indicando o esgotamento do sistema feudal. Além disso, as guerras entre a
França e Inglaterra produziram um forte sentimento de nacionalidade que, de
certa forma, ameaçaram os interesses e o poder da nobreza, uma vez que ela
teria de reconhecer uma autoridade central representando a nação, ou seja, o
rei”[9]
[1] professor Pedro Henrique Ramos
[2] Pazzinato, A. L.;
Senise, M. H. V. – História Moderna e Contemporânea – São Paulo: Ática, 1997.
p. 22
[3] alternado, entre os períodos de guerra existiram períodos de paz
[4] pode ser definido
como a ocasião em que as partes envolvidas no conflito concordam com o fim
definitivo das hostilidades – o que inclui os ataques. Pode ser definido também
como o momento anterior ao tratado de paz. A palavra deriva do latim: arma
(arma) e stitium (parar).
[5] diferenças,
discordância em relação a algum ponto ou assunto.
[6] sim, se você está
pensando que a burguesia teve um dedinho de responsabilidade nessa história,
está correto! Há quem diga que a Inglaterra foi a guerra por pressão da
burguesia inglesa, interessada em tomar conta de Flandres
[7] Moraes, J. G. V.
Caminhos das Civilizações – São Paulo: Atual, 1993. p. 129.
[8] Pazzinato, A. L.;
Senise, M. H. V. – História Moderna e Contemporânea – São Paulo: Ática, 1997.
p. 22
[9] Moraes, J. G. V. Caminhos das Civilizações – São Paulo: Atual, 1993. p. 129