16º Texto - A Guerra
dos Cem Anos
professor
Pedro Henrique Ramos
Em nosso último texto pudemos
observar a formação dos Estados Nacionais como um dos elementos mais marcantes
da Baixa Idade Média. A crise do feudalismo foi agravada por conflitos locais
e, após a formação das nações, por conflitos nacionais. E foram as guerras
entre a França e a Inglaterra, conhecidas como Guerra dos Cem Anos (1337 –
1453), que tornaram a Europa Medieval palco de uma série de eventos que
facilitaram o fim do Sistema Feudal.
Consideramos que os conflitos entre
franceses e ingleses ocorreram em grande parte por iniciativa militar inglesa e
estiveram exclusivamente ligados ao território francês (palco das disputas
militares e políticas). A Inglaterra, momentos antes de iniciar os conflitos,
apresentava vantagens em relação à nação francesa. “Com a cobrança de impostos já regulamentada, os exércitos ingleses
puderam ser adequadamente formados"[1].
Na realidade, não tivemos cem anos de conflitos. Períodos de guerras eram
muitas vezes entremeados[2]
por períodos de paz e armistícios[3].
Mas, afinal, por que a Guerra dos Cem
Anos começou? Existem várias explicações, entre elas problemas de sucessão
(quem iria substituir um rei morto?), as antigas disputas territoriais (afinal,
aquela terra é de quem?) e as divergências[4]
políticas. Dois itens foram marcas gerais dos conflitos:
“- A disputa entre os monarcas dos dois países pela região de Flandres,
que era uma rica região comercial e grande produtora de manufaturas têxteis
cuja matéria prima, a lã, era importada da Inglaterra[5];
- A
sucessão do trono francês. Com a morte do rei Carlos IV, em 1328, a dinastia dos
capetíngios terminou, pois ele não havia deixado descendentes diretos.
Apresentaram-se como candidatos Filipe de Valois, sobrinho do ex-rei Filipe, o
Belo (1285 – 1314) da dinastia dos capetíngios; e Eduardo III, rei da
Inglaterra, neto por parte de mãe de Filipe, o Belo. A nobreza francesa coroou
Filipe de Valois (Filipe IV), baseando-se em uma lei medieval (a lei Sálica)
que impedia qualquer descendência real através da mulher”[6]
A região de Flandres ao
lado.
Obviamente que Eduardo
III não concordou com a coroação de Filipe IV, recorrendo às armas. A nobreza
da França era contrária à coroação de Eduardo III, justamente porque, caso este
chegasse ao trono francês, a Inglaterra dominaria a rica região de Flandres.
Começava a Guerra dos Cem Anos.
Dividimos a guerra em
quatro fases distintas. Observe que o conflito muda conforme as “fases”:
1ª. Fase (1337-1360):
marcada por vitórias inglesas. A Inglaterra controlou quase toda a faixa
litorânea noroeste da França;
2ª. Fase (1360-1380): foi
uma fase de recuperação da França, que reconquistou boa parte dos territórios
ocupados pelos franceses;
3ª. Fase (1380-1420):
novamente a França sofre uma série de derrotas. A figura de Henrique V, rei
inglês, se destaca. Nesse momento o rei inglês chegou a ser considerado
herdeiro do trono francês;
4ª. Fase (1420-1453): foi
o momento em que ocorreu a lenta recuperação francesa. Tivemos a presença da
francesa Joana D’Arc, que com um discurso nacionalista liderou um exército
popular contra os ingleses. Joana foi derrotada na região de Borgonha, sendo
então entregue as tropas inglesas. Foi morta na fogueira. No entanto, foi essa
francesa quem liderou a França rumo à vitória. Os ingleses foram finalmente
expulsos do território francês em 1453.
A vitória francesa ainda
não estava consolidada em 1453.
A nobreza de Borgonha (região francesa) impôs a paz ao
rei francês, Carlos VII, buscando impedir que o soberano controlasse os nobres.
No entanto, o rei Luis XI (1461-1483), percebendo a manobra da nobreza,
consolidou o poder do rei e finalmente confirmou a monarquia francesa.
Se forem observados os
resultados dos conflitos para ambas as nações podemos encontrar situações
diferentes (quase opostas). Comecemos pela Inglaterra.
Os historiadores
consideram que a reorganização econômica e militar francesas (a partir do
governo de Carlos VII) dificultaram a presença dos ingleses em território
inimigo, levando finalmente a derrota da Inglaterra. “A derrota na Guerra dos Cem Anos coincidiu com o fim da dinastia
reinante na Inglaterra e com o aumento de rivalidades entre os nobres. A
autoridade real não era mais capaz de manter essa camada unida. Dois anos
depois eclodiu uma guerra civil, conhecida como Guerra das Duas Rosas
(1455-1485), entre as duas maiores famílias proprietárias de terras – os York e Lancaster. Após trinta anos de lutas,
ascenderam ao trono os Tudor, responsáveis pele efetiva centralização na
Inglaterra”[7]
Como dito, os resultados
franceses foram bem diferentes. Apesar de vitimar um grande número de
trabalhadores e causar prejuízos materiais, o conflito permitiu a confirmação
do poder da dinastia Valois sobre a nobreza feudal, com a ajuda e o apoio do
exército nacional. O processo de consolidação da monarquia francesa foi
concluído no reinado de Francisco I (1515-1547).
Conclui-se assim que
devido ao longo “período de guerras, da
peste negra e das inúmeras revoltas camponesas, a situação da Europa
agravou-se, indicando o esgotamento do sistema feudal. Além disso, as guerras
entre a França e Inglaterra produziram um forte sentimento de nacionalidade
que, de certa forma, ameaçaram os interesses e o poder da nobreza, uma vez que
ela teria de reconhecer uma autoridade central representando a nação, ou seja,
o rei”[8]
Além do mais
Um conto de fadas que
busca justamente dar uma “solução mágica” ao problema da imobilidade social
registrado na Idade Média: um gato esperto, que através de um plano consegue
tornar o seu mestre, um camponês, em um senhor feudal.
O conto foi escrito
quando o homem já vivia na Idade Moderna, em 1697, pelo escritor francês
Charles Perrault, porém está profundamente ligado (tanto o conto quanto o autor
dele) aos princípios medievais. Como o senhor feudal é retratado? Como um ogro,
que subjuga e domina os camponeses. Para o pobre camponês, que depois se torna
Marquês de Carabaz, as palavras cidades e comprar eram “proibidas”, faziam
parte de um mundo distante.
Sentindo-se prejudicado,
o camponês, que herdou o gato, conseguiu sair da condição servil e se tornar um
nobre. O conto retrata algo mágico, improvável para a Idade Média (por isso mesmo é um conto de
fadas!). Mas mistura elementos da Baixa Idade Média e características comuns ao
universo medieval. Assim, um conto com História, que ajuda a entender a
História Medieval.
A figura do gato nos faz
lembrar um animal esperto, capaz de se safar de problemas, rápido e furtivo.
Neste conto de Perrault o gato foi além: conseguiu mudar a condição social de
seu dono em uma sociedade marcada pela imobilidade social.
Exercícios de Revisão
1) Escreva duas
características da Guerra dos Cem Anos
[1] Pazzinato, A. L.; Senise, M. H. V. – História Moderna
e Contemporânea – São Paulo: Ática, 1997. p. 22
[2] alternado, entre os períodos de guerra existiram
períodos de paz
[3] pode ser definido como a ocasião em que as partes
envolvidas no conflito concordam com o fim definitivo das hostilidades – o que
inclui os ataques. Pode ser definido também como o momento anterior ao tratado de
paz. A palavra deriva do latim: arma (arma) e stitium (parar).
[4] diferenças, discordância em relação a algum ponto ou
assunto.
[5] sim, se você está pensando que a burguesia teve um
dedinho de responsabilidade nessa história, está correto! Há quem diga que a
Inglaterra foi a guerra por pressão da burguesia inglesa, interessada em tomar
conta de Flandres
[6] Moraes, J. G. V. Caminhos das Civilizações – São Paulo:
Atual, 1993. p. 129
[7] Pazzinato, A. L.; Senise, M. H. V. – História Moderna
e Contemporânea – São Paulo: Ática, 1997. p. 22
[8] Moraes, J. G. V. Caminhos das Civilizações – São Paulo:
Atual, 1993. p. 129
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