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sábado, 3 de setembro de 2022

29º Texto - A Contrarreforma - 7ºs anos

 29º texto - A Contrarreforma (ou reação católica)

Antes de começarmos a ler este texto vamos fazer a seguinte pergunta: houve uma Reforma dentro da Igreja Católica? Sim, houve. Mas ela foi muito mais uma reação do que propriamente uma Reforma. No entanto, não estranhe se você encontrar em livros de História a definição “Reforma Católica”. É o sinônimo para Contrarreforma.

Vamos começar a entender sobre o assunto lendo um fragmento de texto. “O aparecimento das igrejas protestantes no século XVI provocou a imediata reação da Santa Sé, que somente a partir de então começou a tomar medidas mais efetivas para reafirmar os princípios fundamentais da moral católica. O papado reconheceu a Companhia de Jesus (seu Joaquim nos preparou uma coluna sobre essa tal Companhia de Jesus), fundada nessa época na Espanha, aproveitando-se para colocá-la a seu serviço na expansão da fé e na obtenção de novos adeptos.


A fim de assegurar a unidade da doutrina católica, o papa Paulo III convocou o Concílio de Trento
(imagem ao lado representando a realização do Concílio) que se reuniu em 1545 e encerrou seus trabalhos em 1563. O concílio organizou a Contrarreforma Católica, definindo quatro pontos principais:

1)        Contra os protestantes, que consideravam as Escrituras como única autoridade, afirmou que a Tradição – ou seja, as interpretações dos padres da Igreja, papas e concílios – constituía, junto com as Escrituras, um dos fundamentos da fé (...);

2)        Confirmou e definiu com precisão os dogmas e práticas rituais católicas, tais como: a presença real de Cristo na eucaristia, a salvação pela fé e pelas obras, os sete sacramentos (batismo, crisma, eucaristia, penitência, unção dos enfermos, ordem e matrimônio), o culto à Virgem e aos santos etc.

3)        Procurou corrigir os abusos da Igreja, adotando as medidas necessárias para assegurar um clero mais instruído e com moral mais firme, mantendo a proibição do casamento dos padres, criando seminários para a formação de sacerdotes etc.

4)        Fortaleceu a hierarquia e, portanto, a unidade da Igreja Católica, ao confirmar a supremacia do papa, 'pastor universal de toda a Igreja'”[2].

Sabemos também do papel da Santa Inquisição, “que ficou encarregada de combater a Reforma. Em 1543, o papa Paulo III mandou redigir o INDEX – catálogo de livros de leitura proibida aos fiéis, por serem considerados perniciosos à fé.

 Assim, embora de maneira mais repressiva do que renovadora, a Igreja Católica se equipou para enfrentar os desafios de uma Europa agora reestruturada sob o impacto da cultura humanista, que apontava novos caminhos para a relação entre o homem e Deus[3]. Uma sociedade que vivia ares burgueses

A Companhia de Jesus

A Companhia de Jesus foi fundada em 1534 por Inácio de Loyola, sendo reconhecida pelo papa Paulo III, em 1534. Tornou-se a mais importante ordem contrarreformista, sendo considerada como uma “verdadeira milícia a serviço do papa”. Os jesuítas passaram a utilizar todos os meios de ação para ensinar e divulgar os princípios católicos. O resultado de tamanho esforço foi bastante interessante. Acompanhe:

- algumas regiões como a Baviera e os domínios da Casa da Áustria, que haviam aderido ao protestantismo, foram reconquistadas para o catolicismo. Mérito dos jesuítas;

- os jesuítas divulgaram o catolicismo para regiões que haviam sido dominadas pelos europeus: povos asiáticos e americanos se tornaram católicos.

- sabe São Paulo, capital do estado onde se localiza São Caetano do Sul? Pois bem, foi fundada a partir da instituição de um colégio jesuíta, no dia 25 de janeiro de 1554, não à toa, dia de São Paulo.

- os jesuítas chegaram a agir em regiões do Japão! E as ações foram bem brutais. Relatos dão conta de extermínios dos japoneses que não aceitavam o catolicismo – assim como ocorreu no Brasil.


Padre jesuíta em pleno século XXI. A ordem existe até hoje.

 




[2] PAZZINATO, A L SENISE, M H V.  História Moderna e Contemporânea. São Paulo: Editora ÁTICA, 1997. 6ª EDIÇÃO. pp. 68-69

[3] PAZZINATO, A L SENISE, M H V.  História Moderna e Contemporânea. São Paulo: Editora ÁTICA, 1997. 6ª EDIÇÃO. pp. 68-69

28º Texto - As Reformas Protestantes - 7ºs anos

 28º Texto - As Reformas Protestantes

Vamos tratar das três reformas protestantes, começando pela Reforma Luterana.

A Reforma Luterana

A primeira reforma protestante foi a Reforma Luterana, iniciada por Martinho Lutero, em 1517, dentro das regiões do Sacro Império Romano-Germânico (território que compõe atualmente a Alemanha). Primeiramente vamos conhecer quem foi Lutero.

Nascido em 1483, no que hoje é a cidade alemã de Eisleben, Lutero teve uma formação muito religiosa e uma educação extremamente rígida. De família pobre, Lutero sempre teve o incentivo dos pais para que estudasse o que fez quando saiu de casa aos 14 anos para estudar latim em uma escola na cidade de Magdeburg. Em 1501 Lutero ingressou na Universidade de Erfurt para estudar direito, tornando-se um leitor contumaz e um freqüentador assíduo das bibliotecas. Logo no início de sua vida acadêmica passou a se interessar pelo estudo da Bíblia, levantando uma questão que o incomodava profundamente: a ideia da salvação eterna. Assim, não nos é estranho o fato de Lutero ter trocado o curso de Direito pelo de Teologia e culminar sua aproximação ao campo religioso quando ingressou em um convento agostiniano. Buscando fazer tudo para salvar a sua alma, Lutero jejuava, orava e lia a Bíblia com grande regularidade. Todo esse trajeto culminou com o doutoramento de Lutero em teologia pela Universidade de Wittenberg, em 1512, fazendo com que o mesmo fosse indicado para lecionar.   

Envolvido com questões religiosas Lutero protestou contra a venda de indulgências e contra as estruturas eclesiásticas. Passou a ser “perseguido” pelo papa Leão X, sendo condenado pelo imperador Carlos V, na Dieta de Worms, à execução. Escapou porque fugiu para a Saxônia, recebendo abrigo do duque Frederico, o Sábio.

Buscando impedir que as idéias de Lutero se propagassem, Carlos V exigiu, na Assembléia reunida, em Spira (em 1529), que todos os príncipes aderissem ao catolicismo romano. Alguns desses príncipes protestaram, e, 1530, a doutrina luterana que fora exposta em Augsburgo, por Melanchton, através da Confissão de Augsburgo, constituindo a base de uma nova religião. Em resumo, para o luteranismo a salvação da alma vinha do seu contato direto com Deus, sem a necessidade de alguém que o representasse perante Ele. Isso colocava em xeque o papel da Igreja. Lutero conservou apenas alguns sacramentos, entre eles o batismo e a eucaristia. Politicamente, os príncipes protestantes organizaram a Liga de Smalkalde contra o imperador Carlos V. Os conflitos entre luteranos e católicos só diminuíram em 1555, com a Paz (ou Dieta) de Augsburgo, determinado que ficasse à escolha de cada príncipe a religião a ser adotada.

A Reforma Calvinista

A Reforma Calvinista esteve ligada ao humanista francês João Calvino (1509-1564). Sabemos que na França a Igreja Católica tinha grande influência no poder real. Através da Concordata, de 1516, foi transferido para o monarca francês o direito de nomear bispos e abades. A partir da Concordata, o soberano francês passou a distribuir abadias e bispados, não se preocupando com a religião em si.

Os reformadores franceses se inspiraram na corrente humanista trazida por Erasmo de Rotterdam, surgindo pensadores e humanistas cristãos admiráveis, que propunham uma reforma interior e progressiva da Igreja. Calvino surgiu no momento em que a França vivia um fervor humanista. Fortemente influenciado por Lutero, o pensamento calvinista foi consolidado com a publicação de “Instituição Cristã”, base da reforma calvinista, de 1534.

Calvino se instalou na Suíça em 1536, a convite de Guilherme Farel (outro humanista), instaurando uma base reformista radical. A burguesia da cidade suíça de Genebra “havia adotado os princípios da Reforma para lutar contra seu governante, o católico Duque de Savóia, o que favoreceu a atuação do reformador.

Embora baseado nas idéias protestantes, Calvino divergia de Lutero em alguns pontos, principalmente na questão da salvação. Enquanto os luteranos acreditavam que o homem se salvava pela fé, Calvino defendia a ideia de que a fé não era suficiente, uma vez que o homem já nascia predestinado, ou seja, escolhido por Deus para a vida eterna ou para a condenação. A riqueza material era um sinal da graça divina sobre o indivíduo. Essas ideias foram prontamente assimiladas pela burguesia de Genebra, pois justificavam não só o comércio, como também as atividades financeiras e o lucro a elas associado.

No aspecto moral, a doutrina calvinista se caracterizou pela extrema rigidez de costumes imposta aos seus fiéis. A cidade de Genebra passou a ser governada pela Igreja Calvinista, através de uma assembléia e um órgão de vigilância que impunha severa disciplina, proibindo jogos e danças, suprimindo as imagens e os altares dos templos e adotando uma liturgia[2] extremamente simplificada, concentrada no sermão, na oração e na leitura da Bíblia. O calvinismo propagou-se rapidamente, atingindo a França, a Inglaterra e a Escócia e contribuindo para a cisão definitiva entre a Igreja Católica e as Igrejas Reformadas”[3]. A figura de João Calvino.

A Reforma Anglicana

As reformas religiosas na Inglaterra estiveram diretamente ligadas ao rei Henrique VIII (1509-1547).  Católico, tido como defensor da fé pelo papado, Henrique VIII chegou a entrar em conflito com os luteranos. Entretanto, em 1527, devido ao episódio com Ana Bolena e Catarina de Aragão, rompeu com o papado. O que foi o dito episódio?

Durante o seu governo, Henrique VIII enfrentou forte pressão da burguesia, que desejava maior participação do Parlamento. A principal ideia da burguesia era acabar com as taxas que a Igreja andava cobrando, e que impediam o avanço comercial, além dos burgueses terem interesse em acabar com a ideia da usura.

Henrique VIII, necessitando aumentar as riquezas do Estado, aproveitou-se dessa situação para confiscar os bens da Igreja. Isso gerou desentendimentos com o papa, agravados quando o monarca solicitou a anulação de seu casamento com Catarina de Aragão. A anulação foi pedida porque, não tendo sucessores masculinos com a princesa espanhola, Henrique VIII temia que, em caso de sua morte, o trono inglês passasse para o controle da Espanha. Esse temor era compartilhado por toda a nação, que apoiou o rei, diante da negativa do papa em conceder-lhe o divórcio.

O rei então rompeu com o papado e promoveu uma reforma na Igreja inglesa, obrigando seus membros a reconhecê-lo como chefe supremo e a jurar-lhe fidelidade e obediência. Assim, Henrique VIII obteve do clero inglês o divórcio de Catarina de Aragão e pôde desposar Ana Bolena”[4]. O casamento com Ana Bolena foi feito com o apoio do bispo de Canterburg.

A doutrina anglicana foi a mais próxima à católica. A salvação, no entanto, também era pela predestinação. Houve a conservação de dois sacramentos (o batismo e a eucaristia[5]).                 

 

[2] a ordem e as cerimônias no ritual eclesiástico.

[3] Pazzinato, A. L.; Senise, M. H. V. – História Moderna e Contemporânea – São Paulo: Ática, 1997. p. 55

[4] Pazzinato, A. L.; Senise, M. H. V. – História Moderna e Contemporânea – São Paulo: Ática, 1997. p. 56

[5] sacramento em que, segundo o dogma católico, o corpo e o sangue de Jesus Cristo estão presentes sob as espécies do pão e do vinho.

27º Texto - A Igreja e a Reforma Protestante - 7ºs anos

 27º Texto - A Igreja e a Reforma Protestante

Como estudamos durante este ano letivo, a Igreja durante a Idade Média era uma instituição rica e poderosa, sendo que muitos membros do clero possuíam feudos e servos. Os papas possuíam enorme poder e representação política, algo que pode ser comprovado pela organização e realização das Cruzadas e pela participação direta e influente da Igreja na formação dos Estados nacionais. No entanto, com as experiências renascentistas e a consolidação da burguesia como classe influente (principalmente a partir do século XV, com a realização da Expansão Ultramarina) a sociedade era diferente daquela marcada pelos laços servis de produção. E para agravar a situação a Igreja praticava notórios abusos. Alguns membros se afastavam da missão clerical e dos ensinamentos de Jesus, realizando atividades incompatíveis com a vida de um membro da Igreja. Muitos compravam cargos eclesiásticos importantes, vendiam relíquias religiosas e cobravam os fiéis pela absolvição dos pecados.

Era notório também que vários papas só haviam chegado ao cargo mais alto da hierarquia religiosa por pertencerem a grupos riquíssimos e influentes da Europa. A situação era tão grave que ocorreram casos de padres que não possuíam se quer instrução para orientar os fiéis e devido a questões políticas e sociais estavam exercendo a carreira religiosa. Ocorria também (e não em menor escala) um comércio fraudulento e ilegal realizado pela Igreja, com a proteção dos fiéis que faziam as maiores doações (maiores quantias de dinheiro) para a Igreja. 

Nesse sentido, a instituição passava por uma considerável crise, já que muitas pessoas estavam insatisfeitas com os abusos da Igreja (veja o texto sobre a Santa Inquisição), desejando uma religião mais acessível e próxima à realidade de seus fiéis (o que adiantaria uma instituição rica e a grande parcela de seus fiéis vivendo na pobreza?).

Acima, “A nave dos loucos”, de H. Bosch, pintado em 1470. Trata-se de uma crítica à Igreja Católica, já que é possível ver um monge e uma freira participando de uma festa em uma taverna.

Consideramos, portanto, que havia o interesse em se reformar a doutrina católica, eliminar os abusos cometidos pelos clérigos, bem como a corrupção. Ou seja, reformar!

As primeiras análises

Podemos concluir, portanto, que a Reforma Protestante está encaixada no ciclo de transformações trazidas pelo Renascimento, pela Expansão Ultramarina e pela consolidação da classe burguesa. A Reforma promoveu mudanças além do campo religioso, envolvendo questões políticas, econômicas e sociais. Tivemos uma incontestável reformulação das doutrinas religiosas, resultado de um movimento ligado ao aparecimento e expansão da classe burguesa. Os princípios que norteavam as atividades da burguesia foram discutidos e trabalhados durante a Reforma, já que a burguesia, ao realizar a acumulação de capital, entrava em choque com as doutrinas eclesiásticas da Igreja Católica (basta lembrarmos que a usura era considerada um pecado).

A própria montagem da acumulação de capital como um pecado vinha do interesse (também) da Igreja Católica Apostólica Romana em manter a hegemonia sócio-econômica na Europa que vivenciava inúmeras transformações. Portanto, dentro da Reforma temos a necessidade em se “montar” uma religião (ou doutrinas religiosas) que legitimassem e estimulassem a acumulação de capital – em outras palavras, que as atividades burguesas não fossem tidas como heréticas ou pecaminosas. Tal processo contou com o apoio (intencional ou não) dos humanistas, que passaram a ler os escritos bíblicos, buscando questionar as doutrinas católicas. A ideia também era divulgar a leitura da Bíblia para que ela pudesse assim ser comentada e analisada individualmente (associamos aqui a questão do homem que faz a leitura da realidade de uma maneira mais particular, postura trabalhada pelos humanistas através do individualismo). Nesse aspecto, Erasmo de Rotterdam publicou, em 1516, uma edição em latim e grego dos evangelhos, sendo seguido por outros, como Lefévre d´Etaples (humanista protegido pela rainha de Navarra, Margarida D´Angoulême), que publicou uma edição francesa do Novo Testamento, em 1521.

Os humanistas cristãos também desenvolveram um papel importantíssimo, buscando reformar “internamente” alguns princípios da Igreja Católica (ou seja, percebemos aqui que alguns membros da Igreja Católica desejavam uma mudança de dentro para fora), mas não obtiveram sucesso. O maior entrave era que para a realização dessas mudanças pretendidas pelos humanistas cristãos era necessária a convocação de um Concílio que as autorizassem, o que não ocorreria já que no momento havia uma intensa disputa de poder dentro da Igreja.

A partir do nosso próximo texto veremos que não houve uma reforma e sim várias, um movimento heterogêneo, por vezes ligado a interesses burgueses, por vezes atendendo interesses estatais, ou mesmo interpretações pessoais. Aguarde.

O humanista Erasmo de Rotterdam foi muito influente no movimento reformista.

A Santa Inquisição

Façamos aqui uma introdução sobre a Santa Inquisição. Em textos posteriores discutiremos seu papel na Contrarreforma.

Primeiramente, vamos definir o que é inquisição. Podemos definir como a ação de inquirir, pesquisar. Em uma abordagem histórica remete ao “tribunal onde se julgavam os crimes em matéria de religião, também designado por Tribunal do Santo Ofício”[2]. Seria, portanto, o ato de investigar judicialmente aqueles que, de um modo ou de outro, se opusessem aos princípios da Igreja Católica.

A Igreja entendia que os pagãos representavam uma ameaça considerável à manutenção do poder e autoridade exercidos pela instituição. Assim, a Santa Inquisição funcionava como um meio de coibir a expansão de doutrinas diferentes daquelas defendidas pela Igreja Católica. Criada oficialmente na Baixa Idade Média, pelo Gregório IX, no chamado Concílio de Toulosse, a Santa Inquisição teve como um dos seus objetivos exterminar os hereges. Em 1320, a Igreja declarou oficialmente que a Bruxaria, e a Antiga Religião dos pagãos constituíam um movimento e uma ameaça considerável ao cristianismo.  

Os inquisidores, então, passaram a investigar e denunciar aqueles que desrespeitassem as doutrinas católicas. Os denunciantes recebiam ajuda financeira da Igreja para indicarem atos de heresia. Alguns fiéis faziam a denúncia para ganhar riquezas ou chegarem mais próximo a Deus (como prometia a Igreja), o que fez com que o movimento de caça às bruxas se tornasse uma atividade lucrativa. O julgamento era relativamente rápido e os acusados, quando considerados culpados, poderiam receber a pena de morte como sentença. Agora repara na imagem acima como o julgamento era super imparcial. Ou o camarada confessava ou as pedrinhas quentes iam para a sola do pé.

Exercícios de revisão

1) Procure informações sobre Erasmo de Rotterdam.

[2] www.priberam.pt

quarta-feira, 25 de maio de 2022

12º texto - Os Renascimentos Comercial e Urbano na Europa Medieval - 7º ano

 12º Texto - Os Renascimentos Comercial e Urbano na Europa Medieval

O homem medieval viveu durante seiscentos anos (do século V ao início do XI) uma fase de atividade comercial e vida urbana quase insignificante em partes consideráveis da Europa. Mesmo com as rotas comerciais incríveis dos 
Vikings, é bem verdade que a maior parte da Europa mantinha uma economia agrária de subsistência.

Além disso, grande parte das pessoas vivia nos feudos. As cidades eram poucas e pouquíssimo povoadas. Praticamente não havia uma população urbana. Até que novas técnicas agrícolas surgiram, os invernos acabaram se tornando menos rigorosos, houve um recuo das invasões e, consequentemente, paz nos campos. A Europa Feudal se transformava, tendo início os renascimentos comercial e urbano.

Vamos tratar primeiramente do Renascimento Comercial, até porque ele foi o agente que possibilitou a ocorrência do Renascimento Urbano.

Podemos afirmar que o Renascimento Comercial ocorreu devido à expansão das áreas produtivas. Isso significa dizer que a produção foi além dos feudos e que muitas áreas de floresta se tornaram campos produtivos, levando à produção de excedentes e ao reaparecimento do sistema monetário. Com o excesso da produção, alguns camponeses que viviam nas chamadas villas começaram a comprar e revender o que fora produzido. Passaram a viver da troca de mercadoria. É destacável para a ocorrência de todo esse processo o papel fundamental das Cruzadas e a decadência do Império Bizantino. O Renascimento Comercial foi o elemento que levou ao fim do do Feudalismo e o início do Capitalismo. 

Já o Renascimento Urbano foi um processo que variou muito na Europa Medieval. O que é comum é o fato de que o desenvolvimento das cidades esteve ligado à expansão das atividades comerciais.

As cidades passaram a se tornarem mais comuns no final do século XI, sendo que algumas surgiram e outras tantas foram repovoadas. As inovações agrícolas também permitiram que parte da população que morava nos campos fosse para as cidades em busca de outras atividades, tais como comércio e o artesanato.

 As cidades fortificadas que surgiram passaram a ser chamadas de burgos e seus habitantes foram denominados de burgueses. As cidades cresceram com o aumento das atividades mercantis, realizadas nas ruas pelos mercadores e em feiras que eram realizadas periodicamente. Nas feiras, urbanas ou rurais, eram vendidos tecidos, couros, peles e artigos dos mais variados tipos. Nas feiras também ocorriam apresentações teatrais.

Abaixo, um típico burgo medieval.

Os comerciantes, desde o início, buscaram se associar. Essas associações ficaram conhecidas por:

- Guildas (associação de mercadores de uma mesma cidade) ou;

- Hansas (quando comerciantes de várias cidades estavam associados).

O propósito dessas associações era garantir proteção a seus associados contra a concorrência de outros comerciantes. A maior das associações foi a Liga Hanseática, ou a Hansa Teotônica, que contava com a presença de cerca de oitenta cidades do norte europeu.

Façamos aqui uma ressalva muito importante! Essa ideia de Renascimento não deve ser confundida com os eventos que ocorreram na Europa entre os séculos XIV e XVI primordialmente e estiveram ligados ao renascimento dos valores da cultura greco-romana na sociedade medieval. “O termo Renascimento é comumente aplicado à civilização europeia que se desenvolveu entre 1300 e 1650. Além de reviver a antiga cultura greco-romana, ocorreram nesse período muitos progressos e incontáveis realizações no campo das artes, da literatura e das ciências, que superaram a herança clássica[2].

É inegável que os renascimentos comercial e urbano foram determinantes para a ocorrência do Renascimento, definido muitas vezes como Renascimento Cultural. A sociedade europeia estava em constante transformação surgindo, mesmo que primariamente, o pré-capitalismo europeu.

Esse pré-capitalismo, bem diferente da economia feudal, tinha como características básicas a produção que passou a se destinar ao mercado, indo além dos feudos, as trocas que se tornaram preponderantemente monetárias e o aparecimento gradual da mobilidade social.

Além disso, e talvez o fato mais transformador desse período, foi o desenvolvimento de uma nova classe social, que começou a enxergar o mundo e as suas relações de uma maneira bastante diferente: a BURGUESIA!

Por fim, podemos concluir que o que renasceu em um primeiro momento foram as atividades comerciais; as cidades vieram logo em seguida. Daí para frente o mundo medieval vai se tornar diferente.

Em comum, sejam os Renascimentos Comercial e Urbano, seja o Renascimento Cultural, foi a presença marcante da burguesia, que se fortalecia. Do comércio, vieram as cidades. As cidades abriram espaço para um novo modo de se enxergar o mundo e as relações nele presentes. Eis o nascimento da Renascença (o Renascimento) e suas inovações.

Um comerciante medieval e suas mulas. Mais resistentes que os cavalos, eram ideais para carregarem as mercadorias de um burgo a outro.


As Cruzadas foram fundamentais para a ocorrência do Renascimento Comercial. A 4ª. “Cruzada (1202-04) é considerada a mais importante, pois foi responsável pela ‘reabertura’ do Mar Mediterrâneo. Foi a primeira cruzada marítima, financiada pelo mercadores de Veneza, que passaram a monopolizar o comércio com Constantinopla[3]. Na imagem, uma feira medieval.


Exercícios de revisão

1) E em São Caetano do Sul existe alguma associação que represente os comerciantes da cidade? Pesquise e coloque as principais informações nas linhas abaixo.

2) Quais as principais diferenças que você percebe entre um burgo e um feudo? Escreva ao menos duas.

13º texto - A Baixa Idade Média - 7º ano

 13º Texto - A Baixa Idade Média

Muitos foram os fatos que mostraram que a Baixa Idade Média já apresentava características muito diferentes da Alta Idade Média. Se tivéssemos uma máquina do tempo e pudéssemos visitar o século VII, na Alta Idade Média, e depois o século XIV, já na Baixa Idade Média, voltaríamos com a certeza de que a sociedade não era a mesma, isso é fato. Nos cabe agora comprovar essa afirmação.   

Conforme visto no texto passado, a produção agrícola aumentou de maneira significativa entre os séculos X e XI. E muitos fatores contribuíram para que isso ocorresse. Vale lembrar que a produção agrícola, em algumas áreas da Europa Medieval, obedecia a um sistema conhecido por bienal. Isso significa dizer que a terra era dividida em dois lotes, sendo que um produzia e outro ficava em descanso (em pousio[2]). Assim, a área em descanso voltava a ser fértil. O problema era que se em um ano as áreas com cultivo fossem atingidas por geadas, certamente as populações passariam fome. Além do fato de se produzir menos, já que 50% das terras estavam em descanso.

  Porém, a partir do século VIII, algumas áreas centrais da Europa começaram a utilizar o sistema trienal. A terra agora era dividida em três lotes. Isso, segundo o historiador Charles Parain, pode ser compreendido “como a maior inovação agrícola da Idade Média[3]. E ele tem motivos de sobra para afirmar isso. Acompanhe a tabela abaixo:

Sistema Trienal

Campo A

Campo B

Campo C

Ano 1

Trigo e centeio

Descanso (pousio)

Aveia

Ano 2

Aveia

Trigo e centeio

Descanso (pousio)

Ano 3

Descanso (pousio)

Aveia

Trigo e centeio

Com o sistema trienal apenas 1/3 da terra ficava sem produzir, o que aumentou a produção em cerca de 30%, se compararmos com o sistema bienal. O aumento na produção dos alimentos levou a uma queda nas taxas de mortalidade, decorrentes de surtos de fome, comuns na Alta Idade Média, além de levar à produção do excedente, que começou a ser comercializado nas feiras e villas[4].

Outro fator recentemente apresentado pelos historiadores, com o auxílio de outros cientistas, foi o fato de que os invernos a partir do século XI começaram a se tornar menos rigorosos, o que fez com que as plantações não sofressem tanto com as geadas e as pessoas não morressem de frio. Com o aumento da população, muitas áreas tornaram-se campos cultiváveis. Não seria exagero pensar que a figura do camponês derrubando árvores para iniciar o plantio em um campo fosse a imagem mais comum do início da Baixa Idade Média.

Tais eventos, no entanto, auxiliaram a ocorrência das crises medievais. Sem os mesmos, muito provavelmente as crises não teriam ocorrido com tamanha intensidade. 

As crises...

O aumento populacional levou a um problema simples: o esgotamento dos feudos. Muitos eram os camponeses marginalizados. Marginalizados literalmente, já que viviam às margens dos feudos. Muitos começavam a roubar para poder sobreviver. Outros, como vimos, viviam dos excedentes, revendendo-os nos burgos e feiras. Estes deram origem aos comerciantes. Aliás, a cidade passou a assumir o sinônimo de liberdade. Por isso, Leo Huberman escreveu o seguinte em seu livro “A história da riqueza do homem”: “A população das cidades queria liberdade. Queria ir e vir quando lhe aprouvesse. Um velho provérbio alemão, aplicável a toda a Europa Ocidental, ‘o ar da cidade torna um homem livre’[5]. Huberman conclui seu raciocínio com uma brincadeira. “Se Lorris e as demais cidades possuíssem a técnica de anúncios de beira de estrada do século XX, poderiam ter usado um letreiro como este:” [6]   

Assim, fica claro que as cidades começaram a colocar em dúvida a figura do feudo e da servidão medieval. Muitos senhores feudais, a princípio, não notaram a influência que os burgos teriam sobre o fim da economia medieval. Só a partir do século XIV isso ficou muito nítido. E daí para a instauração de novas taxas, novos impostos, foi um pulo. Cientes da riqueza dos burgos e buscando manter os seus privilégios, muitos senhores feudais passaram a criar novas obrigações. Alguns reinos, como veremos a seguir, buscando manter o exército e os privilégios da nobreza, aumentaram seus impostos e instituíram outros tantos. Muitas revoltas camponesas começaram a ocorrer. Nessas revoltas, ficava claro que os camponeses já enxergavam a sociedade de uma forma diferente, e as cidades contribuíram muito para isso.  

E quanto aos camponeses marginalizados, como se livrar desse “problema”? Em um texto anterior, lido por nós, apresentamos um documento histórico onde o papa Urbano II dava uma solução prática ao problema: enviar alguns camponeses para lutar nas Cruzadas. Assim, várias situações eram resolvidas: um “exército” era formado praticamente sem custo algum; novas áreas poderiam ser conquistadas, ajudando a resolver o problema da nobreza despossuída, além de impedir que uma massa de camponeses marginalizados tivesse tempo para roubar ou mesmo iniciar uma revolta.

As Cruzadas também auxiliaram na ocorrência das crises da Baixa Idade Média. Com elas, novas rotas comerciais foram abertas. No lugar da economia medieval, assumia a economia com forte apelo comercial, uma economia que daria origem ao capitalismo.

As crises epidêmicas

As crises epidêmicas pelas quais a humanidade já passou tornam-se fatos históricos de tamanha importância que muitos são os filmes, livros e imagens que registram o assunto. Elas mudam a forma como as pessoas encaram a sociedade, a vida. Vamos lembrar um caso próximo: a gripe relacionada ao vírus H1N1 (popularmente conhecida como gripe suína). Originada no México, ela fez com que a capital daquele país ficasse com as ruas vazias no período de surto[7] da doença. Isso porque as pessoas ficaram com medo de contrair a doença.

Aqui no Brasil, aulas foram suspensas, o álcool gel ficou bem conhecido, além de a gente relembrar que, na hora de expirar, a mãozinha deve cobrir o nariz...

E, recentemente, outra doença viral provocou um quadro muito mais grave. A Covid-19 foi responsável por dar início a uma pandemia, e que levou até maio de 2022 à morte de cerca 6.300.000 pessoas 

Na Idade Média muitas foram as crises epidêmicas e algumas vezes as doenças assumiram o (triste) papel de segregação[8] social. Trataremos deste assunto a partir de agora, lembrando que estamos falando de vidas, portanto, algo bastante sério.

Muitos livros de História dão conta de que os surtos de peste foram trazidos do Oriente, com as Cruzadas. Mas vale lembrar que antes das Cruzadas, bem antes, a Europa Medieval era assolada por crises epidêmicas. É fato, no entanto, que o maior surto se iniciou entre os séculos XII e XIV, se estendendo por muitos anos. A forma mais comumente conhecida foi a peste bubônica. A peste bubônica ficou popularmente conhecida como peste negra. Cerca de um terço da população da Europa morreu em virtude dessa doença. Para você ter uma simples ideia, é como se de três pessoas que viviam na época uma tivesse contraído a peste e morrido. No período, todas as explicações partiam da questão religiosa. Assim, Boccacio (citado no início desse texto), buscou justificar a ocorrência da peste como “um justo castigo divino”. E não só ele, mas muitas outras pessoas que viveram no período.

Hoje sabemos que a peste é transmitida pelas pulgas que se alimentam do sangue dos ratos e depois se alimentam do nosso. Elas transmitem uma bactéria que só foi descoberta bem no final do século XIX e recebeu o nome de Yersinia pestis. Muito mais forte do que os soldados medievais, a Yersinia não fazia distinção entre camponeses, senhores feudais e padres. Matou muitas, muitas, pessoas. Como os hábitos de higiene não eram muito comuns (na verdade, não eram praticados), as pessoas constantemente carregavam pulgas nas roupas. Assim, uma passava para a outra e, em poucos dias, o camponês, o senhor feudal, o padre apresentavam um quadro febril, seguido de um inchaço nas juntas (os bulbos), marcado por uma cor rubra (um vermelho bem escuro), indicando a necrose, ou seja, o apodrecimento dos tecidos, vasos sanguíneos e carne. Era a peste se manifestando dias após a picada da pulga.

Mas não foi só a peste bubônica que matou na Idade Média. Tivemos a peste pneumônica, muito pior inclusive. A peste pneumônica, acreditam os cientistas, seria decorrente da bubônica, só que transmitida por gotas de saliva. Se a bubônica era transmitida pela picada da pulga, bastava um doente tossir próximo a alguém sem cobrir a boca que a pneumônica se espalhava. E a doença se manifestava com uma força maior.

Havia outra doença que isolava pessoas e matava na Idade Média: a Hanseníase, popularmente conhecida como lepra. A doença “é infecciosa, de evolução crônica (muito longa) causada pelo Mycobacterium leprae, micro-organismo que acomete principalmente a pele e os nervos das extremidades do corpo. A doença tem um passado triste, de discriminação e isolamento dos doentes, que hoje já não existe e nem é necessário, pois a doença pode ser tratada e curada[9]. Mas, na Idade Média, as pessoas com hanseníase viviam isoladas da sociedade. Eram criados locais onde muitas delas passavam a viver, chamados de leprosários ou gafarias. Quem possuísse a doença deveria andar com objetos de metal pendurados pelo corpo, indicando que estava se aproximando. Talvez este seja o traço mais cruel das doenças na Idade Média: a segregação social.

Com as crises epidêmicas, a morte passou a ser representada com maior ênfase na Idade Média. Muitos foram os registros da doença. A religião também se manifestava na forma como as pessoas entendiam as doenças. Sem os equipamentos e o conhecimento que possuímos, as explicações eram praticamente todas pautadas nos princípios religiosos.


 

 

 

 

 

 

 

 Além do mais

Com a morte de muitos camponeses, várias foram as regiões da Europa que ficaram sem produzir absolutamente nada. Sem alimento a situação ficava cada vez pior. Só para termos uma ideia, muitas foram as regiões que quase viram pequenos reinos e feudos desaparecerem porque não havia gente para trabalhar. Morreu muita gente mesmo. Há um documento histórico que confirma isso: “A fim de que meus escritos não pereçam[10] juntamente com o autor, e este trabalho não seja destruído... deixo meu pergaminho[11] para ser continuado, caso algum dos membros da raça de Adão possa sobreviver à morte e queira continuar o trabalho por mim iniciado” [12].

Ficou claro que o homem medieval que escreveu as linhas acima não acreditava que alguém pudesse sair vivo de tamanha tragédia. E ele tinha motivos para isso. No final do século XIV a peste matava 200 pessoas por dia em Londres e cerca de 800 em Paris. O dado a seguir é ainda mais impressionante. Houve anos onde os índices de morte superaram os 700% de acréscimo, se comparados aos anos onde as crises epidêmicas não se manifestaram[13].

Sem camponeses, o sistema feudal se enfraquecia. Foram as crises epidêmicas uma das principais causas do fim do feudalismo, sem dúvidas.

Exercícios de Revisão

1) Escreva duas características que marcaram a Baixa Idade Média.

2) Como as pessoas contraíam a peste bubônica durante a Idade Média?



[2] Prática agrícola que dividia cultivável em partes (duas no sistema bienal, três no sistema trienal), deixando todo ano, alternadamente, uma dessas áreas sem cultivo, para que a terra naturalmente voltasse a ser fértil

[3] in FRANCO JR., Hilário. A Idade Média – O nascimento do Ocidente. – 6ª. ed. – São Paulo: Brasiliense, 1995. p.44

[4] Lembre-se que já discutimos sobre esse termo.

[5] Huberman, Leo. História da riqueza do homem/ Leo Huberman; tradução de Waltensir Dutra. – 21ª. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. p. 28

[6] Huberman, Leo. História da riqueza do homem/ Leo Huberman; tradução de Waltensir Dutra. – 21ª. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. p. 29

[7] Período onde a doença está se espalhando.

[8] Divisão, isolamento, separação

[9] www.dermatologia.net

[10] do verbo perecer, em nosso texto tem o significado de se perder, desaparecer, “morrer”.

[11] Uma espécie de folha onde se escreviam documentos, textos, cartas. Poderia ser feito de pele de animal. 

[12] in Huberman, Leo. História da riqueza do homem/ Leo Huberman; tradução de Waltensir Dutra. – 21ª. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. p. 49

[13] Braudel, Fernand, 1902 - 1985. Civilização material, economia e capitalismo séculos XV - XVIII/ Fernand Braudel; tradução Telma Costa. - São Paulo: Martins Fones, 1995. p. 71