27º Texto - A Igreja e a Reforma Protestante
Como estudamos durante este ano letivo, a Igreja durante
a Idade Média era uma instituição rica e poderosa, sendo que muitos membros do
clero possuíam feudos e servos. Os papas possuíam enorme poder e representação
política, algo que pode ser comprovado pela organização e realização das
Cruzadas e pela participação direta e influente da Igreja na formação dos
Estados nacionais. No entanto, com as experiências renascentistas e a
consolidação da burguesia como classe influente (principalmente a partir do
século XV, com a realização da Expansão Ultramarina) a sociedade era diferente
daquela marcada pelos laços servis de produção. E para agravar a situação a
Igreja praticava notórios abusos. Alguns membros se afastavam da missão
clerical e dos ensinamentos de Jesus, realizando atividades incompatíveis com a
vida de um membro da Igreja. Muitos compravam cargos eclesiásticos importantes,
vendiam relíquias religiosas e cobravam os fiéis pela absolvição dos pecados.
Era
notório também que vários papas só haviam chegado ao cargo mais alto da
hierarquia religiosa por pertencerem a grupos riquíssimos e influentes da
Europa. A situação era tão grave que ocorreram casos de padres que não possuíam
se quer instrução para orientar os fiéis e devido a questões políticas e
sociais estavam exercendo a carreira religiosa. Ocorria também (e não em menor
escala) um comércio fraudulento e ilegal realizado pela Igreja, com a proteção
dos fiéis que faziam as maiores doações (maiores quantias de dinheiro) para a
Igreja.
Nesse sentido, a instituição passava por uma considerável crise, já que muitas pessoas estavam insatisfeitas com os abusos da Igreja (veja o texto sobre a Santa Inquisição), desejando uma religião mais acessível e próxima à realidade de seus fiéis (o que adiantaria uma instituição rica e a grande parcela de seus fiéis vivendo na pobreza?).
Acima, “A nave dos loucos”, de H. Bosch, pintado em 1470. Trata-se de uma crítica à Igreja Católica, já que é possível ver um monge e uma freira participando de uma festa em uma taverna.
Consideramos,
portanto, que havia o interesse em se reformar a doutrina católica, eliminar os
abusos cometidos pelos clérigos, bem como a corrupção. Ou seja, reformar!
As primeiras análises
Podemos concluir, portanto, que a Reforma Protestante está
encaixada no ciclo de transformações trazidas pelo Renascimento, pela Expansão
Ultramarina e pela consolidação da classe burguesa. A Reforma promoveu mudanças
além do campo religioso, envolvendo questões políticas, econômicas e sociais.
Tivemos uma incontestável reformulação das doutrinas religiosas, resultado de
um movimento ligado ao aparecimento e expansão da classe burguesa. Os princípios
que norteavam as atividades da burguesia foram discutidos e trabalhados durante
a Reforma, já que a burguesia, ao realizar a acumulação de capital, entrava em
choque com as doutrinas eclesiásticas da Igreja Católica (basta lembrarmos que
a usura era considerada um pecado).
A
própria montagem da acumulação de capital como um pecado vinha do interesse
(também) da Igreja Católica Apostólica Romana em manter a hegemonia
sócio-econômica na Europa que vivenciava inúmeras transformações. Portanto,
dentro da Reforma temos a necessidade em se “montar” uma religião (ou doutrinas
religiosas) que legitimassem e estimulassem a acumulação de capital – em outras
palavras, que as atividades burguesas não fossem tidas como heréticas ou
pecaminosas. Tal processo contou com o apoio (intencional ou não) dos
humanistas, que passaram a ler os escritos bíblicos, buscando questionar as
doutrinas católicas. A ideia também era divulgar a leitura da Bíblia para que
ela pudesse assim ser comentada e analisada individualmente (associamos aqui a
questão do homem que faz a leitura da realidade de uma maneira mais particular,
postura trabalhada pelos humanistas através do individualismo). Nesse aspecto,
Erasmo de Rotterdam publicou, em 1516, uma edição em latim e grego dos
evangelhos, sendo seguido por outros, como Lefévre d´Etaples (humanista
protegido pela rainha de Navarra, Margarida D´Angoulême), que publicou uma
edição francesa do Novo Testamento, em 1521.
Os humanistas cristãos também desenvolveram um papel
importantíssimo, buscando reformar “internamente” alguns princípios da Igreja
Católica (ou seja, percebemos aqui que alguns membros da Igreja Católica
desejavam uma mudança de dentro para fora), mas não obtiveram sucesso. O maior
entrave era que para a realização dessas mudanças pretendidas pelos humanistas
cristãos era necessária a convocação de um Concílio que as autorizassem, o que
não ocorreria já que no momento havia uma intensa disputa de poder dentro da
Igreja.
A
partir do nosso próximo texto veremos que não houve uma reforma e sim várias,
um movimento heterogêneo, por vezes ligado a interesses burgueses, por vezes
atendendo interesses estatais, ou mesmo interpretações pessoais. Aguarde.
O humanista Erasmo de Rotterdam foi muito influente no movimento reformista.
A Santa Inquisição
Façamos
aqui uma introdução sobre a Santa Inquisição. Em textos posteriores
discutiremos seu papel na Contrarreforma.
Primeiramente,
vamos definir o que é inquisição. Podemos definir como a ação de inquirir,
pesquisar. Em uma abordagem histórica remete ao “tribunal
onde se julgavam os crimes em matéria de religião, também designado por
Tribunal do Santo Ofício”[2].
Seria, portanto, o ato de investigar judicialmente aqueles que, de um modo ou
de outro, se opusessem aos princípios da Igreja Católica.
A
Igreja entendia que os pagãos representavam uma ameaça considerável à
manutenção do poder e autoridade exercidos pela instituição. Assim, a Santa
Inquisição funcionava como um meio de coibir a expansão de doutrinas diferentes
daquelas defendidas pela Igreja Católica. Criada oficialmente na Baixa Idade
Média, pelo Gregório IX, no chamado Concílio de Toulosse, a Santa Inquisição
teve como um dos seus objetivos exterminar os hereges. Em
Os inquisidores, então, passaram a investigar e denunciar aqueles que desrespeitassem as doutrinas católicas. Os denunciantes recebiam ajuda financeira da Igreja para indicarem atos de heresia. Alguns fiéis faziam a denúncia para ganhar riquezas ou chegarem mais próximo a Deus (como prometia a Igreja), o que fez com que o movimento de caça às bruxas se tornasse uma atividade lucrativa. O julgamento era relativamente rápido e os acusados, quando considerados culpados, poderiam receber a pena de morte como sentença. Agora repara na imagem acima como o julgamento era super imparcial. Ou o camarada confessava ou as pedrinhas quentes iam para a sola do pé.
Exercícios de revisão
1)
Procure informações sobre Erasmo de Rotterdam.
[2] www.priberam.pt
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