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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Felix Mendelssohn-Bartholdy – 1ª Parte

Felix Mendelssohn-Bartholdy – 1ª Parte[1]
Imaginemos que é o seu casamento. Você entra toda feliz (ou deveria estar feliz!) na igreja. Inicia a música, tocada em mais de 90% das cerimônias nupciais. Você, emocionada, ele, pomposo, a te esperar. E a música continua a tocar. A música, por certo, é apenas um detalhe em seu casamento (e que detalhe). Agora, também é certo que muitos de nós desconhecemos o compositor desta marcha, sabendo, muitas vezes, que se trata apenas de uma “marcha nupcial”.
Nesse texto você começará a conhecer quem é o compositor de uma das melodias mais tocadas em todo o mundo, e que simboliza de maneira marcante as cerimônias nupciais. Terá a oportunidade de conhecer outros trabalhos desse talentoso homem do século XIX. Vamos começar.
Jakob Ludwig Felix Mendelssohn-Bartholdy é o nome do autor da “Marcha Nupcial”. Nascido no dia 3 de fevereiro de 1809 em Hamburgo, Mendelssohn foi um dos maiores compositores do século XIX. Veremos que o trabalho desse célebre compositor foi além do campo musical. Conheceremos primeiramente a cidade de Hamburgo no período (bem como a região onde se localizava), buscando entender um pouco melhor a vida de Mendelssohn.
Hamburgo, à época do nascimento de Mendelssohn, já era uma grande cidade industrial da Prússia. A região, desde o final da chamada Baixa Idade Média apresentava uma intensa e rica atividade comercial (sendo Hamburgo uma das principais cidades da Liga Hanseática). No século XVIII Hamburgo (assim como outras regiões do Sacro Império Romano Germânico) viveu o fortalecimento do Reino da Prússia, sendo que este emergiu “como unidade econômica e política de grande dinamismo, criando crescentes tensões entre os Estados alemães”[2]. Na passagem do século XVIII para o século XIX, a região passou por situações diversas: dos triunfos napoleônicos sobre a Prússia, em 1806 - e anexação da cidade de Hamburgo pelas tropas napoleônicas, entre 1810 e 1814 -, à formação da Confederação do Reno, o que acabaram por determinar o fim do sistema multipolar que existia no Sacro Império Romano-Germânico.
“Na Europa Central do século XVIII, a cultura foi uma via de escape para as energias intelectuais que não podiam voltar-se para a o política, dominada pela autocracia dos príncipes. Esse é o contexto do idealismo e do espiritualismo que caracterizaram a arte e literatura alemães, expressas por filósofos como Kant e Herder, e escritores como Goethe (uma das figuras centrais na vida de Mendelssohn) e Schiller.”[3]
Em 1815[4], Napoleão foi derrubado, o que iria representar um novo ciclo de mudanças na região onde Mendelssohn nasceu. Foi criada, através dos príncipes alemães, uma confederação de 39 Estados independentes, “exceto no campo da política exterior” [5]. Foram justamente as diferenças e oposições das monarquias da Prússia e da Áustria pela adoção de formas mais amplas de representatividade política que levaram a ocorrência das rebeliões da década de 30 do século XIX. Movimento que contou com a participação popular, fora violentamente reprimido pelas referidas monarquias.
“Em 1834, a Prússia deu forma política a seu crescente peso econômico ao instaurar a União Aduaneira Alemã, da qual a Áustria ficou excluída. Teve como efeito a duplicação do comércio entre seus membros em um prazo de dez anos e a formação de alguns centros industriais, de onde surgiu uma classe operária. Devido ao rápido crescimento da população urbana (o que ocorreu claramente em Hamburgo na segunda metade do século XIX. A população quase que quadruplicou, chegando aos 800 mil habitantes. Seu porto se tornou um dos três mais importantes do continente europeu), a oferta de mão-de-obra  superou amplamente a demanda. O consequente empobrecimento dos trabalhadores fabris e dos artesãos serviu de caldo de cultivo para as rebeliões dos anos posteriores, cujo ponto culminante foi a onda revolucionária de 1848-1849”[6].
Hamburgo, nessa primeira metade do século XIX ficou, portanto, marcada pela ascensão prussiana, a invasão napoleônica, a formação de uma confederação de Estados Independentes alemães, uma série de revoltas, interpoladas pelo embate entre a unificação e a manutenção, sob certa perspectiva, do status quo. De um lado, um movimento liberal e democrata (forte, porém não tão coeso), que lutava por um processo de unificação, mas com a garantia da manutenção das liberdades políticas, muitas delas conquistadas no processo de formação da Liga Hanseática; de outro, um intenso esforço das monarquias em manter as estruturas de um antigo regime. Não é o propósito de nosso texto fazer uma análise muito extensa sobre o processo de unificação da Alemanha, porém segue um breve resumo.
Tal situação se arrastou até a segunda metade do século XIX, culminando na unificação de 1871, através da figura de Otto Von Bismarck, do domínio prussiano e do poder monárquico.
Hamburgo no século XIX[7]
A vida de Mendelssohn, a princípio, não parece estar envolvida nessa sequencia turbulenta de eventos. Ao contrário, poderíamos ponderar que o jovem de Hamburgo teve uma vida relativamente clama, marcada por um cosmopolitismo que contrastava com o crescente nacionalismo presente na região.

Mendelssohn[8]
Mendelssohn nasceu nessa Hamburgo, no seio de uma família judia com notável condição econômica (o pai, Abraham Mendelssohn, era um importante banqueiro, o que permitiu ao futuro compositor desfrutar de uma vida marcada por inúmeras possibilidades). Viajando por diversas regiões da Europa, tendo contato com diversos centros culturais e intelectuais, Mendelssohn pôde se dedicar às artes. E também há que se pontuar que houve notável influência da família para que o jovem seguisse a carreira. Lea Salomon, mãe de Mendelssohn, foi determinante na escolha de seu filho pela carreira musical. Tendo como tia Sara Levy, uma das melhores alunas de Bach, Lea também influiu na escolha de seus outros filhos pela música, principalmente a menina Fanny, mais velha que Felix.
Sendo assim, Mendelssohn, bem como a sua irmã, mais velha, Fanny, foram endereçados para o campo musical desde muito cedo. Prova disso é o fato de Fanny ter começado a compor muito jovem ainda. Já Mendelssohn, aos sete anos, apresentava progressos tão significativos que fizeram o pai decidir se mudar para Paris, “onde poderiam desenvolver uma carreira musical que não seria possível em casa. Marie Bigot, uma das intérpretes preferidas de Beethoven, foi escolhida como professora para essa tarefa e cumpriu-a à risca.”[9]   
O seio da família Mendelssohn ficou marcado pela presença de grandes intelectuais da época. Desfilaram pela família Mendelssohn personalidades como Wilhelm von Humboldt (1767 - 1835), Alexander von Humboldt (1769 – 1859), Johann Wolfgang von Goethe (1749 – 1832) além de outros tantos. O avô de Felix foi o filósofo e rabino judeu-alemão Moses Mendelssohn (1729-1786)[10].
  Para Abraham, “para ser um bom músico, era preciso ser intelectualmente desenvolvido” [11], o que o fez estimular o filho a estudar diversas línguas e culturas. “Proporcionou-lhe também aulas de pintura (...) – uma arte em que tanto Felix quanto a irmã já se destacavam. Existem provas notáveis disso nos muitos desenhos e aquarelas realizados ao longo de suas numerosas viagens” [12]. No entanto, foi na música que Mendelssohn demandou mais tempo, se dedicou de forma mais intensa. A irmã também tinha dons significativos, sendo uma excelente pianista. O fato da mesma não alcançar o sucesso do irmão se deve a questão da mesma viver em uma sociedade marcada por preconceitos de diversas ordens. Mendelssohn levou pouco tempo para se destacar, sendo que no dia 28 de outubro de 1818, aos nove anos de idade, promoveu seu primeiro concerto ao piano.   
A educação de Mendelssohn foi permeada por figuras históricas de grande relevância, como vimos, o que facilitou a divulgação de seu nome. No entanto, Abraham sabia que um fator poderia prejudicar de maneira significativa a carreira de seu filho. Abraham, em 1812, abriu mão da religião judaica (resultado de outro preconceito da época, já presente na Idade Média e que encontraria terrível campo no século vindouro), decidindo que a família toda deveria ser batizada na Igreja Luterana. Para disfarçar as raízes judaicas, acrescentou o sobrenome Bartholdy depois de Mendelssohn. Posto isso, podemos afirmar que a família Mendelssohn vivia de maneira direta os acontecimentos desencadeados na região. Em nosso próximo texto entraremos em contato com alguns dos trabalhos de Felix Mendelssohn-Bartholdy. Até lá!   






[1] RAMOS, Pedro Henrique Maloso
[2] Enciclopédia do mundo contemporâneo/ [tradução de Jones de Freitas, Japiassu Brício, Renato Aguiar] – São Paulo: Publifolha; Rio de Janeiro: Editora Terceiro Milênio, 2000. p. 95.
[3] Enciclopédia do mundo contemporâneo/ [tradução de Jones de Freitas, Japiassu Brício, Renato Aguiar] – São Paulo: Publifolha; Rio de Janeiro: Editora Terceiro Milênio, 2000. p. 95.
[4] 1815 foi o ano da derrota de Napoleão Bonaparte na Batalha de Waterloo, na Rússia.
[5] Enciclopédia do mundo comteporâneo/ [tradução de Jones de Freitas, Japiassu Brício, Renato Aguiar] – São Paulo: Publifolha; Rio de Janeiro: Editora Terceiro Milênio, 2000. p. 95.
[6] Enciclopédia do mundo comteporâneo/ [tradução de Jones de Freitas, Japiassu Brício, Renato Aguiar] – São Paulo: Publifolha; Rio de Janeiro: Editora Terceiro Milênio, 2000. p. 95.
[7] Imagem extraída do sítio http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=196145
[8] Imagem extraída do sítio http://www.bach-cantatas.com/Lib/Mendelssohn-Felix.htm
[9] Felix Mendelssohn: Royal Philharmonic Orchestra/ [Mediasata Group S.A.; texto e documentação musical Eduardo Rincón; tradução: Linguagest]. – São Paulo: Pubifolha, 2005 – (Coleção Folha de Música Clássica). p. 10.
[10] Moses foi um dos precursores do Haskalá “(Iluminismo judaico), movimento político que prega uma atitude mais aberta para os valores seculares e o modo de vida dos não-judeus. As idéias da Haskalá incentivam a emancipação da juventude, que procura distanciar-se do judaísmo ortodoxo e das ieshivot.” – in http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=277&p=0      
[11] Félix Mendelssohn: Royal Philharmonic Orchestra/ [Mediasata Group S.A.; texto e documentação musical Eduardo Rincón; tradução: Linguagest]. – São Paulo: Pubifolha, 2005 – (Coleção Folha de Música Clássica). p. 10.
[12] Félix Mendelssohn: Royal Philharmonic Orchestra/ [Mediasata Group S.A.; texto e documentação musical Eduardo Rincón; tradução: Linguagest]. – São Paulo: Pubifolha, 2005 – (Coleção Folha de Música Clássica). p. 10.

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