23º Texto: A Expansão Ultramarina
Mas
talvez o que tenha causado maior impacto na sociedade europeia entre os séculos
XIV e XVI foi um processo que foi modificando (literalmente) a percepção do
homem quanto ao mundo e as diversas concepções que possuía. Tal processo
recebeu o nome de Expansão Marítima, Expansão Ultrmarina, Expansão
Marítima-Comercial...
Introdução
Como
vimos, a sociedade europeia que viveu os séculos XIV e XV presenciou grandes
mudanças, sendo que a atividade comercial passou a desempenhar um importante
papel. Buscando novos produtos para comercializar, além de novas terras,
algumas nações começaram a incentivar a atividade marítima, contando com um
forte apoio da burguesia. O maior objetivo era, no entanto, chegar ao Oriente
(as Índias) para adquirir as especiarias e produtos de luxo. Poderíamos citar o
gengibre, a seda, porcelanas e louças etc. O comércio que era controlado pelas
cidades e principados italianos começou a ser dominado pelas recém-formadas
nações europeias (lembre que isso configurou um dos fatores que levaram à crise
da Renascença). Veremos que foi a nação portuguesa a pioneira nessa expansão
marítima.
“As Grandes Navegações alargaram o mundo do
comércio. Entre os séculos XV e XVIII, os comerciantes europeus transportaram,
venderam e compraram produtos pelo mundo inteiro, obtendo lucros inimagináveis:
seda e especiarias da China e do Japão; escravos; ouro e marfim da África;
produtos agrícolas, ouro e prata da América.
Toda essa atividade comercial criava
novas exigências para as nações. Acreditava-se, na época, que a medida da
riqueza de um país estava na quantidade de metais preciosos (ouro e prata) que
ele acumulava. Se uma nação não contava com reservas desses metais precisava
obtê-los através do comércio. Por isso, os economistas achavam que uma nação
precisava vender mais a outras nações do que comprar, ou seja, ter uma balança
comercial favorável.
Essa política econômica que dá tanto
valor aos metais preciosos acumulados no país e à necessidade de exportar mais
do que importar chama-se mercantilismo”[2]
Astrolábio,
instrumento que ajudou os intrépidos navegadores europeus.
Análises
Os
problemas que surgiram durante a crise do sistema feudal foram, de certa forma,
superados com a consolidação dos Estados nacionais. No entanto, é inegável
afirmar que outros problemas ainda buscavam solução no quadro político e
econômico da Europa. Um dos maiores problemas estava ligado ao desequilíbrio da
balança comercial das nações europeias (que, na maioria das vezes, estava em
déficit[3]).
Com a crise, houve um aumento significativo na procura pelas mercadorias do
Oriente. As nações europeias, ao adquirirem tais produtos, faziam com que as
suas reservas de metais preciosos fossem para as economias orientais, não
havendo, em alguns casos, o retorno necessário. Isso levava ao enfraquecimento
das nações europeias.
Portugal
vivia o mesmo drama, já que, assim como em outras áreas da Europa, houve
sensível diminuição no interno de mercadorias, ocasionando graves
consequências às economias nacionais. As populações europeias, cada vez mais
mal remuneradas, sofriam com os aumentos constantes de preços dos produtos,
fazendo com que as atividades comerciais sofressem consideráveis quedas. Em
muitos casos a situação era tão grave que o Estado Nacional corria sério risco
de “desaparecer”.
Para
contornar esses problemas as monarquias nacionais tomaram medidas visando: à
garantia do fluxo de moedas, a expansão de seus mercados e o acesso a produtos
cujo consumo fosse assegurado (ou seja, que possuíam compradores e mercado para
serem vendidos). Para aumentar os lucros, os Estados Nacionais buscaram
eliminar os intermediários (ou seja, os homens que iam buscar as mercadorias no
Oriente), inclusive pelo fato desses homens monopolizarem[4]
a distribuição de alguns gêneros do Oriente. Os dois grandes objetivos eram
baratear o custo das mercadorias e ampliar o comércio das especiarias (as
mercadorias que vinham do Oriente).
Podemos,
portanto, apontar que a escassez de metais preciosos, a necessidade de novos
mercados e a consolidação da burguesia dentro das monarquias europeias fizeram
necessária a expansão ultramarina.
Para
que esse projeto desse certo somente os Estados Nacionais cuja centralização
estava consolidada (ou seja, a nação estava definitivamente formada) poderiam
realmente fazê-lo; isso se deve ao fato de que a realização de tal projeto (a
expansão marítimo-comercial ou expansão ultramarina) exigia capital volumoso,
aplicado exclusivamente para a sua realização.
Devido
às suas características, que atendiam em certa medida aos pré- requisitos para
uma bem sucedida expansão, além da experiência nas atividades marítimas,
Portugal foi a primeira nação europeia a iniciar a Expansão Ultramarina.
Além do mais...
Olá
gente, tudo bem?
Eu
adoro criar narrativas. E elas tornam-se ainda mais interessantes quando são
fruto de intensa e séria pesquisa.
Nas
linhas vindouras simulo que sou um marujo em uma das viagens pelos mares e
oceanos durante a Expansão Ultramarina. Comecemos.
Segui
rumo à Portugal, lá pelo início do século XV, me apresentei para o capitão-mor
de um frota portuguesa que navegaria pelas águas do Oceano Atlântico e pronto,
me fiz um intrépido marujo.
No
porto da cidade de Lisboa havia três tipos de embarcação: uma nau, usada para
viagens de longo percurso, tratando-se de uma embarcação para transporte de
carga; uma caravela, mais leve e mais ágil, podendo inclusive entrar em águas
fluviais (em rios). Serve para as viagens de descobrimento; e, por fim, um
galeão, embarcação voltada aos combates, com a presença de canhões e com uma
capacidade de locomover-se com mais agilidade do que uma nau. Também
transportava cargas, as mais valiosas.
Embarquei
em uma caravela, que seguiu à frente de uma frota composta por algumas naus e
galeões, além de uma ou duas mais caravelas. Foi aí que o negócio começou a
complicar.
Primeiro
que depois de algumas semanas a comida ficou ruim demais (já não era muito boa
desde o início da viagem). Faltavam legumes, as frutas, bem como a água,
estavam exalando um cheirinho meio estranho e as condições
de higiene eram mínimas. Eu mesmo fui pegar um pedaço de pão sobre um tambor e
aconteceu uma coisa meio indelicada. Um rato havia escolhido o mesmo pão.
Também pude perceber que os pontinhos verdes no pãozinho não eram ervas que
haviam sido colocadas pelo padeiro. Eram pontos de bolor mesmo.
Depois
de um tempo, os membros da tripulação discutiam entre si para ver quem ficava
com o resto, do resto, do resto da comida. As carnes eram salgadas para que não
apodrecessem. Logo, comendo aquela carne dava uma sede danada. E a água, como
vimos... Ouvi relatos, é sério, de alguns marujos desesperados que bebiam a
própria urina! Quando chovia, era uma festa.
O
problema era quando chovia muito. Aí o negócio complicava. Eu, que não sou
muito acostumada a essas viagens, confesso que tive problemas com o que eu
havia comido. Nossa, foi “brabo” o negócio. A caravela balançava tanto que eu
tinha certeza que iria virar. O que impressionava era a habilidade dos marujos
em manobrá-la. Inacreditável mesmo.
Durante
a viagem bati um papo com alguns marujos mais experientes. E eles me disseram coisas bem
interessantes. Falaram que no início da Expansão Ultramarina faziam-se apenas
navegações margeando a costa, chamadas
de “navegação de cabotagem”. Isso porque as embarcações não eram ainda
preparadas para enfrentar áreas de mar aberto distantes do litoral. Há regiões
do oceano onde as ondas ultrapassam facilmente cinco, seis metros.
Também
porque os equipamentos não eram muito modernos e a costa servia mesmo como uma
referência, do tipo, “a terra firme fica para lá, não está vendo?”.
Poeticamente, seria navegar “beijando” a costa. Seguir rumo ao mar aberto foi
algo realmente inovador e incrível. E conquistado com a adoção de equipamentos
que auxiliaram a navegação. Um desses equipamentos foi o astrolábio, permitindo
que os europeus navegassem guiados pelas estrelas. Em um céu forrado delas,
muitas estradas apareciam. Bastava seguir a correta e desvendar um mundo que
parecia ter crescido de tamanho. Navegar pelo oceano foi a “viagem à Lua” que o
homem da Idade Moderna fez!
Quanto
à minha expedição, bem, algumas coisas aconteceram e me deixaram bastante
impressionado. Ficamos parados por mais de 10 dias em uma região distante
alguns quilômetros da costa africana. Era uma calmaria tão grande que dava
vontade de descer da caravela e ajudar o pessoal a empurrar. Os marujos falaram
que existem regiões no oceano onde os ventos simplesmente não batem. Logo, uma
caravela, movida à energia eólica, simplesmente ficava parada!
Percebi
que alguns marujos passaram a apresentar lábios inchados, sangramento nas
gengivas que só fazia aumentar, dentes que começavam a cair... Bem complicado.
É o escorbuto, resultado da falta de ingestão de vitamina C, presente nas
frutas cítricas. E as frutas há tempos já não apareciam no cardápio.
Navegamos
até as regiões orientais, contornando o Cabo da Boa Esperança, e voltando para
Portugal, carregados de mercadoria. Lucro significativo, viagem inesquecível.
Em todos os sentidos!
Abaixo,
os tipos de embarcações usadas na Expansão Ultramarina. Na sequência, um
galeão, uma caravela e uma nau.
Exercícios de revisão
1) Por que as nações europeias iniciaram a
Expansão Ultramarina? Explique.
[2]
Quevedo, Júlio. A
escravidão no Brasil: trabalho e resistência – São Paulo: FTD, 1996 – (Para
conhecer melhor). p. 22
[3]
quando uma nação gasta
mais do que possui (arrecada).
[4]
Monopólio – privilégio que uma nação,
um comerciante ou um grupo possuem na exploração de determinada mercadoria.
Quanto era o tempo médio de uma viagem de navio bem sucedida da Europa para o novo mundo, no início do comércio com as colônias, século XVII ? procuro informação sobre isso é não acho
ResponderExcluirCaro amigo, de fato é difícil de encontrar. Em média as viagens duravam 45 dias, podendo chegar facilmente aos sessenta dias.
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