Felix
Mendelssohn-Bartholdy – 2ª Parte[1]
No segundo texto sobre
Mendelssohn buscarei fazer uma análise mais detalhada dos primeiros trabalhos
deste compositor, sem, no entanto, discutir de maneira técnica aspecto de suas
composições, já que não possuo conhecimento para fazê-lo e repetir as
informações existentes na bibliografia pesquisada seria insensato.
No primeiro texto sobre Mendelssohn[2]
fiz considerações a respeito das relações que a família do compositor estabeleceu
com grandes nomes do século XIX. Tal fato foi determinante para que Mendelssohn
e sua irmã escolhessem a carreira musical. Depois das aulas com Marie Bigot,
Felix retornou à Berlim, tendo aulas com grandes nomes do período: Karl Wilhelm
Ludwig Heyse[3]
(1797 – 1855), ensinando ao jovem compositor humanidades e grego; o compositor e
pianista Ludwig Berger (1777 – 1839), ministrando aulas de piano; Carl
Friedrich Zelter (1758 – 1832), também compositor e um conhecido professor de
música, ministrando aulas de composição e harmonia e interferindo diretamente
nos costumes e manias de Felix, como veremos; Eduard Rietz (1802 – 1832), que
substituirá Carl Wilhelm Henning (1784-1867), nas aulas de violino.
“As primeiras composições
de Mendelssohn datam de 1820, mas é impossível saber com exatidão se alguma
tentativa anterior não foi destruída. Em 1821, depois de um encontro com Carl Maria von Weber (1786 – 1826),
na estreia de O caçador furtivo[5],
Zelter levou-o a conhecer o maior poeta da época, Johann Wolfgang von Goethe (1749 – 1832), na cidade de Weimar.
Zelter era seu assessor musical, sempre consultado nas questões musicais”.[6].
Tornou-se comum que Mendelssohn tocasse piano para Goethe, quando na casa
deste. Goethe foi, sem dúvidas, figura central da vida do jovem compositor.
“Uma vez, depois de uma interpretação de Beethoven, Goethe lhe disse: ‘Isso não
comove. O que produz é admiração’. Era nada menos do que o primeiro andamento,
em versão pianística, da Quinta sinfonia.
E, pouco depois, não conseguindo conter-se ao ouvir outra passagem, exclamou:
‘Isto é grandioso, insensato. Parece que a casa afunda...’, e saiu da sala.”[7].
Goethe (à esquerda) e Mendelssohn:
dueto de genialidade[8].
A relação de Goethe e
Mendelssohn se tornou mais forte e próxima com o tempo, sendo que era notório o
fato do poeta se espantar com o brilhantismo e a inteligência do jovem
compositor. “Mendelssohn compôs prolificamente: sinfonias, obras para piano, Lieder, quartetos, estudos, motetes...
Foi herdando alguns dos tiques do velho Zelter, dando-se inclusive ao luxo
(...) de corrigir algumas passagens de Bach que continham ‘falhas’”. Suas doze
primeiras sinfonias, todas para orquestra de corda, não despertaram admiração,
até que, em 1824, a décima quarta chamou a atenção. Mendelssohn tinha quinze
anos.
1824 foi um ano realmente
especial na vida do jovem compositor. Seja pelo número notório de obras que
escreveu, seja porque conheceu um dos maiores pianistas da época, Ignaz Moscheles
(1794 – 1870), com que estabeleceu uma sólida amizade, com interferências
diretas nas carreiras de ambos. Mendelssohn entendeu a sua décima quarta
sinfonia como a sua primeira grande obra. “Tinha quinze anos e, para uso
doméstico, compôs a ‘Abertura’ para Sonho
de uma noite de verão. A família admirava tanto a música quanto o teatro,
praticando essas artes em saraus que organizava e dos quais também participavam
amigos, personalidades e, especialmente, artistas de passagem na cidade” [9].
Dado o fato, não é de estranhar que uma das figuras mais comentadas na família
Mendelssohn fosse o célebre inglês William Skakespeare (1564-1618), autor de
conhecidos peças teatrais. Tratado como se fosse amigo da família, Will, como
era chamado pelos Mendelssohn, despertava o interesse do jovem compositor
justamente por retratar o mundo medieval, muito peculiar, a qual Shakespeare
havia saído há pouco. “Considerado um dos maiores dramaturgos de todos os
tempos, apesar de algumas de suas obras criticarem os valores do cavaleiro e do
mundo medieval e a falta de um rei poderoso, Shakespeare muitas vezes (...) demonstrou aceitar a influência do
imaginário popular da Idade Média, composto por bruxas, fantasmas, fadas e
faunos” [10].
O mundo medieval de Shakespeare influenciou diretamente as obras de
Mendelssohn. É isso que veremos em nosso próximo texto. Até lá.
[1] RAMOS, Pedro Henrique Maloso.
[2] http://respirehistoria.blogspot.com.br/2015/01/felix-mendelssohn-bartholdy-1-parte.html
[3] Pai do não menos famoso Paul Johann Ludwig von Heyse (1830-1914),
Karl também ministrou aulas aos filhos de Wilhelm von Humboldt (1767 –
1835).
[4] Imagem extraída do sítio http://de.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Berger_(Komponist)
[5] De autoria de Weber.
[6] Felix Mendelssohn: Royal
Philharmonic Orchestra/ [Mediasata Group S.A.; texto e documentação musical
Eduardo Rincón; tradução: Linguagest]. – São Paulo: Pubifolha, 2005 – (Coleção
Folha de Música Clássica). pp. 13-14
[7] Felix Mendelssohn: Royal
Philharmonic Orchestra/ [Mediasata Group S.A.; texto e documentação musical
Eduardo Rincón; tradução: Linguagest]. – São Paulo: Pubifolha, 2005 – (Coleção
Folha de Música Clássica). p. 14
[8] Imagem extraída do sítio http://www.jewryinmusic.com/
[9] Felix Mendelssohn: Royal
Philharmonic Orchestra/ [Mediasata Group S.A.; texto e documentação musical
Eduardo Rincón; tradução: Linguagest]. – São Paulo: Pubifolha, 2005 – (Coleção
Folha de Música Clássica). pp. 17-18
[10] MORAES, J. G. Vinci de. “Caminhos
das Civilizações – da Pré-História aos dias atuais” - São Paulo: Atual, 1993.
p. 168.
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