Super Feudo! Manual do jogador!

quarta-feira, 28 de junho de 2023

A caixa de Pandora!

Texto-base

Mitologia grega: a caixa de Pandora

Professor Pedro Henrique Maloso Ramos

É mais do que sabido que História e Leitura caminham de mãos juntas. E aqui segue mais um exemplo. Vamos falar hoje, melhor, vamos ler hoje sobre a Caixa de Pandora, um objeto extraordinário, parte da mitologia grega.  

Bem, a primeira coisa que irá causar certa frustração é que... Não era bem uma caixa, mas sim um jarro. Portanto, o mais correto seria O Jarro de Pandora (mas eu concordo que caixa fica melhor). Obviamente que esse jarro (iremos chamar de caixa mesmo) está ligado ao mito de Pandora, a primeira mulher criada por Hefesto, deus do fogo e dos metais, a pedido de Zeus. Sobre Zeus... Dê uma olhada em seu álbum de figurinhas e verá a importância desse camarada.

E aqui a gente já para e faz uma segunda observação. Os mitos gregos possuem versões diferentes pra uma mesma história, um mesmo deus. E isso é super normal e tem explicações.  A maioria dos mitos só ganhou versões escritas séculos depois de terem sido criados. Antes, a história passava oralmente de pessoa para a pessoa. E quem conta um conto, no caso um mito, aumenta um ponto. Daí já viu.

No caso do mito da caixa de pandora esse começou a ser difundido por meio da obra "Os Trabalhos e os Dias", de Hesíodo (poeta e historiador do século VIII a.C.) e de forma oral. Demorou alguns séculos para que essa obra ganhasse sua forma escrita. E é essa a versão que utilizaremos para contar o mito.

 Mural com Pandora segurando o jarro.

Em resumo (não ficaremos só no resumo), o mito em si explica a criação da mulher, suas qualidades e suas fraquezas, bem como todos os males existentes no mundo. Vale lembrar que isso era muito comum nas personagens mitológicas da Grécia Antiga. Deuses, heróis e tantas figuras mitológicas dessa civilização possuíam qualidades e defeitos.

A história da caixa traz uma reflexão bastante séria sobre a desobediência e a curiosidade humanas, e o mal que isso pode causar, prejudicando o ser humano. Logo você entenderá os porquês.

Dentro da caixa os deuses teriam colocado todas as desgraças do mundo: guerras, discórdia, doenças que afligiam as pessoas tanto na alma quanto no corpo (juro que eu ouvi alguém pensando “deve ter colocado a semana de provas oficiais também...”), Mas calma, havia algo bom, bacana, fofinho na caixa: a esperança.

Na versão que trata Pandora como criação de Hefesto, a mando de Zeus, essa moça teria sido criada como forma de se vingar da humanidade (sim, Zeus era extremamente vingativo) após o titã Prometeu ter dado aos homens o segredo do fogo. Vale lembrar que Prometeu havia roubado o segredo do fogo de Zeus. E, pra piorar, resolveu entregar para os humanos. Isso fez com que nos colocássemos superiores aos animais.

De início Pandora foi enviada à Terra para casar-se com Epimeteu, o irmão de Prometeu. E com ela veio a caixa com as seguintes recomendações:

JAMAIS ABRE ISSO, EM HIPÓTESE ALGUMA! CONTENHA VOSSA CURIOSIDADE, CASO CONTRÁRIO SURGIRÃO TANTOS MALES ATÉ ENTÃO DESCONHECIDOS PELA HUMANIDADE! SERÁ MAIS DO QUE TERRÍVEL.

Pandora atende, mas antes de descer para a Terra, visando dar uma aliviada no negócio, joga lá no meio da confusão a esperança.

O tempo passa, a curiosidade de Pandora aumenta, e ela... Não agüenta! Resolve dar uma espiadela, dessas bem rapidinhas. Espia, os males escapam, e achando que estava tudo bem, fecha rapidamente a caixa, deixando lá dentro só a esperança. Que azar! Daí que vem a origem dos males do mundo.

Uma curiosidade é que o mito de Pandora possui similaridade com um mito japonês, o mito de Urashima Taro, um pescador que salvou uma tartaruga. Essa tartaruga na verdade não era bem uma tartaruga, mas sim a filha do senhor dos mares. Bem, obviamente que Urashima foi recompensado, sendo levado ao reino aquático, onde teve do bom e do melhor. Mas... Cansou dessa vida e queria voltar para casa.

Havia recebido uma caixa com a recomendação de só abri-la quando estivesse bem velho e perto da morte. Ele, no entanto, não resiste, abre a caixa pra ver se lá dentro haveria algo que o ajudaria a voltar para o Japão. Ao voltar para sua aldeia descobriu que já se passaram três séculos. Ninguém que conhecia estava vivo. Ficou arrasado. E descobriu que na caixa estavam seus centenários anos. Mais uma vez, ao abrir a caixa, um mal foi solto: a solidão.

Bacana é que uma companhia aérea brasileira, que não mais existe, resolveu contar o mito de Urashima de um jeito mais divertido. Na época, virou sucesso. Chame o pai, a mãe, o avô... Garanto que alguém já ouviu esse jingle da Varig.




segunda-feira, 26 de junho de 2023

Egito Antigo

 

TEXTO-BASE!

Professor Pedro Henrique Maloso Ramos

Olá

Nas aulas de História você está tendo a oportunidade de conhecer melhor como ocorreu o processo de formação do primeiro império da humanidade: o Egito Antigo.


E esse é realmente um tema muito, muito interessante. Primeiro porque explica como uma civilização fantástica desenvolveu-se nas áreas do maior deserto do mundo, o deserto do Saara. Segundo que aprendemos também coisas sobre o 2º maior rio do planeta, o rio Nilo (que possui uma extensão de 6650 km. Vale lembrar que o rio Amazonas, o maior rio, possui 6992 km).

E é justamente com a imagem do Nilo que começamos nosso texto sobre o Egito Antigo. Dê uma olhada nesse mapa. O Nilo começa no centro-sul africano, percorrendo milhares de quilômetros até desaguar no mar Mediterrâneo. O legal dessa jornada do Nilo é que ele transforma áreas desérticas em oásis de vida, com vales e margens férteis. E foi isso que os egípcios, e tantos outros povos africanos, souberam aproveitar.

OS REINOS QUE COMPUSERAM O EGITO ANTIGO

Nas últimas aulas pude apresentar reinos que iniciaram a formação do Egito Antigo. Esses reinos, cada um com características diferentes, fizeram com que o Egito ficasse conhecido como a civilização do Nilo e o primeiro império da humanidade.

Representação mitológica da unificação dos reinos que formaram o Egito Antigo.

Vamos começar nosso passeio pelo reino mais ao norte, na região onde o rio Nilo deságua no mar Mediterrâneo.

BAIXO EGITO

Essa região era conhecida pelos egípcios como Ta-Mehu, a “terra do papiro”. Isso porque as margens do Nilo, em especial nas planícies e no delta do rio, apresentam elevada quantidade de papiro, uma planta adaptada à vida em ambientes alagados.

Baixo Egito também porque a região apresenta menor altitude se comparada com outros reinos que trataremos nesse texto.

Olha o papiro aí. Sim, a palavra papel está diretamente associada à planta. Afinal, os egípcios usavam o papiro seco e aberto para escrever.

Não há dúvidas de que a região do Baixo Egito já estava sendo ocupada por povos agricultores desde começo do período Neolítico.

Logo na formação desse reino, a principal cidade era Mênfis, havendo especial atenção também para Buto, chamada de “Colina dos Faraós”.

A região apresentava, justamente pela proximidade com o Mar Mediterrâneo, intensa e rica vida comercial, com contatos diretos com os fenícios, por exemplo. O clima também era mais favorável do que o presente no Alto Egito, por exemplo. Havia chuvas mais abundantes. Mas, é importante destacar, o rio, durante o período de cheias (entre junho e setembro) tornava-se desafiador, ainda mais na região do seu delta. Por isso, desde o início, os povos do Baixo Egito precisaram desenvolver obras para controlar a força do rio.

Uma curiosidade é que os antigos egípcios chamam o Nilo de itéru, que significava "grande rio"

Agora, iremos tratar do reino que conquistou o Baixo Antigo. Ao lado, um mapa com as divisões que estamos abordando.

ALTO EGITO

Ainda não abordaremos como ocorreu esse domínio do Alto Egito sobre o Baixo Egito. Mas, se você prestou atenção nas aulas, e nos desenhos que o professor Pedro fez na lousa, percebeu que Núbia e Alto Egito meio que se misturam. Já iremos explicar melhor isso

O Alto Egito é a faixa de terra presente em ambos os lados do Vale do rio Nilo, ocupando uma área grandiosa, tanto que alguns livros adotam uma terceira divisão, o Médio Egito, na porção norte do Alto Egito. Se o Baixo Egito era a “terra do papiro”, o Alto Egito ficou conhecido como “Ta Shemau”, a terra de juncos”. Juncos são outras plantas, também adaptadas a vida nas margens dos rios.

Juncos, muito comuns em brejos e alagados.

No início da sua História o Alto Egito foi dividido em nomos. Nomos eram pequenas partes do território egípcio, administrado cada um deles por um monarca. Foi então que, logo no início da sua História, em 3200 a.C., um governante do Alto Egito, Menés, iniciou o controle dos nomos que existiam tanto nesse reino quanto no Baixo Egito, dando início ao Império Egípcio. Ao todo, Menés teria dominado 42 nomos, sendo 20 só nas terras do Alto Egito.  

Mas há mais coisas do Alto Egito que veremos agora. A divindade patrona era a deusa abutre Necbete, e Tebas era o centro do Alto Egito. Havia como símbolos também a coroa branca e a flor de lótus.

Já no Baixo Egito os símbolos eram a coroa vermelha, a abelha e o papiro. A deusa cobra Uto era a divindade patronal do Baixo Egito.  

Chegou a hora de falar da Núbia!

Núbia

Começo afirmando que o desenvolvimento dessa região esteve profundamente ligado ao Alto Egito.  E as relações entre a Núbia e o Alto Egito é que fizeram com que essa área ficasse conhecida pela existência de reinos extraordinários!

De início podemos afirmar que os territórios da Núbia eram povoados desde 7000 a.C, em especial por criadores de ovelhas e bois. Em 4000 a.C. essa região deu início ao Reino de Cuxe, que existiu entre 3000 a.C. e 400 d.C.

Mas o nosso foco será em um período do Reino de Cuxe, em 2000 a.C. É aqui que as relações com o Egito Antigo tornaram-se incríveis.

Em uma publicação de fevereiro de 2008, a National Geographic Brasil trazia em sua capa a seguinte matéria: FARAÓS NEGROS. Afirmo que esses faraós tiveram sua origem nas terras da Núbia, na África subsaariana. Isso porque foram os povos nilóticos negros os habitantes das regiões da Núbia. E, durante vários momentos de sua História, os reinos existentes na Núbia fizeram parte do Império Egípcio, a ponto de existirem faraós de origem núbia.

Vamos a um exemplo. Em 2000 a.C. o reino de Cuxe, através de seus governantes, adotou a cultura egípcia. E essa união durou mais de 1300 anos, só se encerrando quando os assírios separam o Egito da Núbia, por volta do século VI a.C. Isso ajuda a explicar o porquê da relação intensa entre Núbia e Egito Antigo!

 
 Pirâmides egípcias presentes na Núbia.

  

terça-feira, 6 de junho de 2023

Revoltas camponesas no século XIV

Texto-base – 2ºOIA

Revoltas camponesas no século XIV

Professor Pedro Henrique Maloso Ramos

Nas aulas de História pudemos compreender que o universo medieval era composto por uma situação conflituosa (na verdade, uma série de situações conflituosas): as relações dos senhores feudais e servos.

Ao passo que os servos viviam uma realidade de opressão, escassez e penúria, eram fundamentais para a manutenção dos senhores feudais e, consequentemente, dos feudos. Oras, indiscutivelmente, essa não era uma realidade baseada na tranquilidade e na premissa de coletivismo, por mais que a Igreja buscasse passar essa ideia para os servos. Daí para que situações explosivas rolassem...

Tanto que abordamos esse ponto em um texto nosso. Eis um trecho para relembrarmos, onde analisamos tais problemas sob o prisma dos Renascimentos Comercial e Urbano:

as cidades começaram a colocar em dúvida a figura do feudo e da servidão medieval. Muitos senhores feudais, a princípio, não notaram a influência que os burgos teriam sobre o fim da economia medieval. Só a partir do século XIV isso ficou muito nítido. E daí para a instauração de novas taxas, novos impostos, foi um pulo. Cientes da riqueza dos burgos e buscando manter os seus privilégios, muitos senhores feudais passaram a criar novas obrigações. Alguns reinos, (...), buscando manter o exército e os privilégios da nobreza, aumentaram seus impostos e instituíram outros tantos. Muitas revoltas camponesas começaram a ocorrer. Nessas revoltas, ficava claro que os camponeses já enxergavam a sociedade de uma forma diferente, e as cidades contribuíram muito para isso.[1]  

Por isso, uma das marcas do século XIV foi a das revoltas camponesas, ocorridas especialmente na França e na Inglaterra. E tais revoltas foram violentamente reprimidas pelos senhores feudais, diretamente apoiados pela Igreja Católica.

As crises epidêmicas e as Guerras (seja a dos Cem Anos ou das Duas Rosas, esta no caso inglês) pioraram o que já era muito ruim. Campos em guerra não recebem plantação. Camponeses lutando não produzem. A fome voltou a se alastrar pela Europa Medieval, agora em companhia da mortal Peste Negra.

A situação tornou-se tão grave que passou a ganhar uma designação: as Jacqueries! Logo explicaremos esse termo.

As reivindicações dos camponeses nada tinham de extravagante e, digamos, já eram centenárias: que nem toda (ou quase toda) a produção agrícola fosse pra alimentar a nobreza e pagar as obrigações servis; que os laços de servidão não fossem marcados por uma absurda exploração da força de trabalho campesina. Óbvio que os senhores feudais permaneceram sem ouvir, sem atender.

Ao contrário, leis foram aplicadas e reforçadas para garantir que nenhum servo decidisse ter rompantes de liberdade, sair do feudo e ir viver na cidade, onde “o ar torna o homem livre”. Daí... Revoltas violentas começaram ser corriqueiras. Segue uma pequena lista

- 1358: revolta camponesa na França. É considerada uma das maiores e, de onde, surge o termo Jacquerie.

Ocorrida no norte francês, supostamente teria sido liderada por Jacques Bonhomme, um camponês medieval. Mas há quem afirme que o termo veio do fato dos camponeses usarem uma espécie de jaqueta curta. E jaqueta em inglês é...Jacket. Válido lembrar que durante a Guerra dos Cem Anos, e mesmo antes, os ingleses ocuparam o norte da França. Fato é que o apelido acabou espalhando-se por diversas regiões europeias.  

Como terminou? Com o exército francês massacrando os camponeses entre os dias 9 e 10 de junho de 1358.

- 1381: agora é em solo inglês. E a coisa aqui também foi bem séria. Conhecidas como Revoltas dos Camponeses (Peasants’ Revolt), a narrativa até chegar nelas é muito parecida com o que vimos até agora: efeitos da Peste Negra, das Guerras, das novas taxas e impostos...

Tanto que o gatilho para a explosão dos revoltosos veio quando o oficial real, John Bampton, no dia 30/05/1381, tentou cobrar impostos eleitorais que não foram pagos por parte dos camponeses. Bem, a violência explodiu com uma intensidade brutal. Cartórios e documentos queimados, a exigência de que tais taxas fossem retiradas, o fim dos vínculos de servidão, a deposição de funcionários do rei Ricardo II...

Inspirados pelos sermões do clérigo John Ball (um membro da Igreja com ideias e conceitos vanguardistas e reformadores) e pelo líder campesina Wat Tyler, os revoltosos, em 13 de junho, entraram em Londres e, acompanhados por muitos moradores locais, atacaram as prisões, destruíram o Palácio Savoy, incendiaram livros de leis e edifícios no Templo e mataram qualquer pessoa associada ao governo real.

No dia seguinte, o rei Ricardo II conheceu os rebeldes, e concordou com a maioria de suas exigências, incluindo a abolição da servidão. No mesmo momento alguns camponeses invadiram a Torre de Londres e mataram algumas das mais importantes figuras da monarquia inglesa, dentre as quais Robert Hales, maior responsável pelo Tesouro Real.

Imagem de 1470, presente nas Crônicas de Jean Froissart, do rei Ricardo II conhecendo os revoltosos.

Fato é que de ambas as partes faltava qualquer elemento concreto para garantir que as promessas reais seriam cumpridas. Tanto que, em 15/06/1381, Tyler e diversos revoltosos foram mortos pelas forças reais, e, usando novamente do discurso de que as exigências seriam atendidas, o rei inglês teve tempo de reunir o exército inglês (cerca de quatro mil homens) e liquidar, no final de junho, mais de mil e quinhentos camponeses.

Imagens de camponeses medievais cuidando de ovelhas. Ilustração de Luttrell Psalter (século XIV).  

Mas o que essas revoltas nos mostram? Que a Europa do feudo, da servidão medieval, da lógica senhor feudal – servo estava agonizando. Tinha seu fim claro e evidente. Tanto que os ingleses perceberam que quanto antes acabassem com os vínculos de Suserania e Vassalagem, e fortalecessem a figura de um rei e de um Estado Nacional centralizado, melhor seria para evitar que camponeses voltassem a causar tantos estragos. Afinal, quando uma massa grande de servos se reúne só mesmo o exército para dar conta. E exércitos só poderiam ser efetivamente formados em Estados Nacionais fortes.



[1] https://respirehistoria.blogspot.com/2022/05/13-texto-baixa-idade-media-7-ano.html