Olhares sobre o
Brasil do século XIX – Como as pessoas viviam? – 2ª Parte[1]
Transporte e
comunicação[2]
Nesse
exato momento em que você está lendo esse texto, se for do seu interesse, você
poderá visitar ruas de Paris, “caminhar” pelas vielas de uma cidade italiana.
Tudo isso através do computador, a partir de imagens atualizadas com uma
velocidade impressionante. E se quiser visitar lugares muito distantes é óbvio
que você não pensará duas vezes: pegará um voo e dentro de algumas horas você
poderá estar a milhares de quilômetros da sua casa.
Mas
e no século XIX? Como as pessoas faziam para andar, visitar lugares diferentes
e se comunicar? Olha, você vai se surpreender.
Só
para você ter uma ideia, no final do século XIX as pessoas levavam mais de 28
dias para atravessar da Itália para a América a bordo dos navios, hoje uma
viagem que é feita de avião, em no máximo 14 horas. Naquela época, só de navio mesmo. E em
situações para lá de complicadas. Era comum que pessoas morressem contaminadas
com a comida que se estragava nos porões das embarcações, uma vez que a
geladeira só se tornou um objeto mais popular (traduzindo: mais barato) no
final da década de 1930.
Então,
imagine como era no início do século XIX. Em seu livro “Domitila de Castro –
Marquesa de Santos”, o escritor Tavares Pinhão relata como teria ocorrido a
viagem da marquesa entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Dê uma lida no relato:
“debaixo
de um sol a pino, trotando pela estrada poeirenta de São Paulo, a senhora
Marquesa de Santos deixava irremediavelmente a Corte (...)” [3].
Como
assim... Trotando? Estrada poeirenta? Não, você não leu errado. A viagem,
ocorrida na primeira metade do século XIX relata qual era o principal meio de
transporte (considerado o top, tipo
voo executivo, só para ricaços, tipo baronesas, príncipes, marquesas):
charretes. Para os mais pobres era comum caminhar a pé mesmo, ou quando muito
em carros de boi. Isso ajuda a explicar o resultado de estudos que mostram que
até parte significativa do século XIX os vínculos das pessoas envolviam grupos
que estavam em um raio de cinco quilômetros quadrados (1/3 do tamanho do
município de São Caetano do Sul, considerado um dos menores municípios do
Brasil). Hoje quantos amigos você possui que moram a milhares de quilômetros de
você? Quantos parentes? É, a coisa mudou mesmo.
Não
há dado claros de quanto tempo demorava a viagem do Rio até São Paulo no lombo
e mulas, cavalos ou mesmo dentro de charretes. Mas a média de quilômetros
percorridos por dia não chegava aos cinquenta. Logo, os mais de trezentos e
cinquenta quilômetros que dividem as duas cidades seriam percorridos no mínimo
em oito, nove dias. Duas semanas e não se fala mais nisso.
Hoje,
só a título de comparação, uma viagem de avião leva no máximo uma hora. De
carro, cerca de cinco, seis horas.
Em
1883, o jornalista Carl von Koseritz, um alemão que
passou a morar no Brasil, narrou uma viagem de trem entre o Rio de Janeiro e
São Paulo. O relato é fantástico, e pode ser lido na íntegra no endereço que
segue na nota de rodapé[4].
Vale realmente a pena ser lido. Koseritz conta do encantamento com a viagem, os
túneis, a serra, toda aquela modernidade. E daí solta a seguinte informação:
“São 9 horas e um quarto e nós cobrimos 154 quilômetros em 4 horas
e meia.”
Ou seja, o trem andava a uma velocidade média de 34 km/h! O Usain
Bolt corre a uma velocidade superior quando disputa a prova dos cem metros.
O
meio de transporte de muitos e muitos brasileiros até a primeira metade do
século XX.
Uma
das estações por onde Koseritz passou durante a sua viagem do Rio para São
Paulo[5].
Agora,
comunicar-se com as pessoas durante a maior parte do século XIX só através de
cartas. O correio surgiu oficialmente no Brasil em 1663, e os “carteiros” eram
os escravos e os tropeiros, homens responsáveis pela compra e venda de gado,
que ficavam indo de uma cidade a outra para levar o rebanho, negociar bezerros,
vaquinhas...
Assim,
não foram raros os casos das notícias chegarem aos lugares depois do fato já
ter ocorrido há muito, muito tempo. Era enviada uma carta dizendo de uma
guerra. E quando ele havia chegado ao destinatário a guerra já havia acabado.
Isso foi mais comum do que você possa imaginar.
O
primeiro aparelho de telefone foi instalado no Brasil em 1877, na residência de
dom Pedro II. E para ligar rolava todo um esquema, nada de ficar teclando os
números. Uma telefonista é quem discava, fazia a chamada. Só em 1966, há pouco
tempo, a coisa mudou.
Um dos primeiros telefones usados no Brasil[6].
[1] Para a leitura do primeiro texto
dessa série acesse http://respirehistoria.blogspot.com.br/2015/01/olhares-sobre-o-brasil-do-seculo-xix.html
[2] Ramos, Pedro Henrique Maloso
[3] PINHÃO, Tavares. Domitila de
Castro – Marquesa de Santos. São Paulo: Anchieta, 1942. p. 18
[4] http://www.anpf.com.br/
[5] Imagem extraída do sítio http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_rj_linha_centro/japeri.htm
[6] Imagem extraída do sítio http://www.telesystemsul.com.br/o-telefone-chega-ao-brasil/
Parabéns, o conteúdo me ajudou muito mesmo! Os textos estão muito bem escritos :)
ResponderExcluirAgradeço o comentário! Abraços!
ExcluirBoa tarde, estou pesquisando sobre a duração das viagens marítimas no século XVII em especial as rodas comerciais do novo mundo com a Europa é Africa, tem alguma fonte que poderia me indicar?
ResponderExcluirCaro amigo, bom dia. Os relatos de viagem dos próprios exploradores são sempre muito interessantes. Há diversos livros publicados com esses relatos, em especial acerca das viagens de Colombo e Vasco da Gama. Segue aqui um link: https://www.lpm.com.br/site/default.asp?Template=../livros/layout_produto.asp&CategoriaID=610619&ID=847255
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