James
Cook – 1ª. Parte[1]
Que lugar a História da
Civilização Atlântica (ocidental também poderia ser utilizado desde que não
englobássemos a Austrália, marcadamente influenciada por valores ocidentais) ao
navegante inglês James Cook? Recentemente, folheando livros e revistas de
História, me surpreendi com a ausência de informações a respeito desse
importante e notável navegante que viveu no século XVIII, momento em que a
Inglaterra passou por um ciclo de transformações – ciclo que se estendeu por
toda a Europa, suas colônias na América e, graças às navegações realizadas por
Cook, também para as regiões do Pacífico.
A pergunta ganhou ainda
mais volume quando percebi que no livro “A CIVILIZAÇÃO ATLÂNTICA – A História
da Civilização Mundial” [2]
não há nenhuma citação ao navegante inglês, apesar da Inglaterra ser abordada
no período em que Cook realizou suas viagens[3]. A
resposta mais óbvia seria a de que Cook fora um explorador do Pacífico e não do
Atlântico e, portanto, não caberia abordar suas viagens nos livros que tratam
do comércio e navegações entre o leste do continente americano e a Europa. Mas
tal resposta elimina de maneira errônea o papel de Cook como o principal
explorador do Pacífico, com passagens em cidades banhadas pelo Atlântico – como
o Rio de Janeiro. Como veremos, Cook foi muito mais do que um explorador do
Pacífico.
Nascido em uma família de
lavradores no ano de 1728, James Cook não tinha, a princípio, um futuro
promissor, nem condições ímpares de galgar uma carreira de prestígio e
reconhecimento. Cook nasceu em um pequeno vilarejo, em Marton-in-Cleveland,
Yorkshire, em uma Inglaterra que vivia os resultados das Revoluções Inglesas (1642-1689)
e entrara nos acontecimentos que levariam à Revolução Industrial. Retrato do navegador James
Cook, feito por Nathaniel Dance-Holland, em 1775[4].
A queda do Antigo Regime
foi a marca do período em que viveu Cook. “Antigo Regime foi a denominação
surgida na época da Revolução Francesa para indicar o sistema político-social
vigente até 1789. Caracterizava-se pela monarquia absolutista baseada no
direito divino dos reis, pelos privilégios aristocráticos e pelo mercantilismo”[5]. Na
Inglaterra, em 1707, os parlamentos escocês e inglês se unificaram, o que
resultou na criação do Reino Unido da Grã-Bretanha. Em 1713, através do Tratado
de Ultrech[6], o
Reino Unido obteve o controle de importantes regiões, como Menorca, Gibraltar e
a Nova Escócia. A “Grã-Bretanha, desde a união de 1707, estava isenta de
problemas internos. Isso possibilitava a livre circulação de homens e bens,
garantindo a ampliação do mercado interno.
A ligação com as colônias
americanas foi reforçada durante a dinastia Hannover de forma a garantir a
obtenção de matérias-primas e a exportação dos manufaturados, segundo o
princípio de comprar barato e vender caro. Ao mesmo tempo, as guerras contra a
França possibilitaram a expansão do império britânico e dos mercados
ultramarinos na Índia e no Canadá”[7].
Em 1733 fora inventada a lançadeira volante[8],
por John Kay, dando início a um ciclo de inovações possibilitada pela Revolução
Industrial. Essa era a Inglaterra, agora Reino Unido da Grã-Bretanha, de Cook,
que também pôde observar os primeiros movimentos de rebelião das 13 colônias
inglesas, iniciados após o aumento dos impostos através da Lei do Selo (1765).
“Aos 16 anos Cook foi
encaminhado para ser aprendiz de um merceeiro e negociante de secos e molhados.
Sua passagem pela escola foi breve, dos 8 aos 12 anos de idade. A carreira
marítima só teria início aos 18 anos, em uma época na qual era normal que
meninos de 11 ou 12 anos se fizessem ao mar”[9]. A
entrada na Marinha ocorreu anos depois. Aos 27 anos Cook era marinheiro
formado; e somente aos 40 anos foi promovido a oficial, servindo como tal por
uma década. Esse período foi de grande importância para Cook, como veremos à
frente.
Deve ser lembrada também a
importância da navegação de cabotagem na vida de Cook, que começara nessas
embarcações que singravam pelo mar do Norte. “Esses pequenos brigues-barcas, do
tamanho aproximado de um rebocador atual, faziam o transporte de carvão para
Londres. Na época dos barcos a vela, a navegação de cabotagem era bem mais
arriscada do que as travessias de alto-mar, pois o próprio litoral era a maior
ameaça. Marés, ventos contrários, tempestades – tudo podia arremessar os barcos
contra a terra. Quase sempre com conseqüências fatais” [10]. Há que se mencionar aqui o fato de que a
navegação de cabotagem também foi uma importante escola para os navegantes e
descobridores ibéricos. Com Cook, não foi diferente. Uma escola que forneceu
inúmeros subsídios e experiências impares, aproveitados com maestria pelo jovem
britânico. Tanto que 1755 foi ofertado ao imediato o comando de uma embarcação.
Mas Cook recusou, engajando-se na Marinha, aos 27 anos, como marinheiro.
Foi durante a sua carreira
na marinha britânica que o oficial James Cook fez uma exploração sem precedentes
pelo vasto oceano Pacífico. O trabalho de Fernão de Magalhães foi, sem dúvidas,
importante, porém estava longe de ser completado. Outros haviam contribuído –
como o espanhol Núñez de Balboa – mas o “mar do Sul” ainda permanecia envolto
em atmosfera de mistérios e incertezas. Foi à bordo do Endeavour que Cook começou a mudar essa situação. No total foram
três viagens, sendo a última a expedição que custou a vida do navegante inglês.
Réplica do Endeavour[11].
A carreira de Cook na Marinha foi, de fato,
espantosa. A Marinha Real não era o sonho de todo o navegante inglês, nem de
longe. Mas, no caso de Cook, foi a
escolha que o permitiu sagrar-se como um dos maiores navegantes do mundo. “Com
extraordinária rapidez – pelos padrões da Marinha -, Cook chegou ao posto de
mestre, ou seja, um suboficial que, ao contrário do oficial pleno, podia
assumir o comando do barco, mas não engajá-lo em combate. Assim, aos 29 anos,
ele foi nomeado mestre do Pembroke, um
barco com 64 bocas-de-fogo baseado na América do Norte.
No Canadá ele se destacou
ao mapear o turbulento rio São Lourenço até a altura de Quebec. Foi essa
expedição que se tornou possível a bem-sucedida operação anfíbia, liderada pelo
general James Wolfe, que pôs fim a hegemonia francesa no Canadá[12].
Em seguida, por cinco anos, Cook encarregou-se de traçar os mapas da costa da
Terra Nova, produzindo cartas náuticas tão precisas que continuavam em uso
séculos depois”[13].
Em nosso próximo texto
veremos os acontecimentos da vida de Cook desde 1766 até 1770, momento em que já está ocorrendo a exploração das águas e terras da Oceania. Abaixo, uma visão do Endeavour por dentro[14]!
[1] RAMOS, Pedro Henrique Maloso.
[2] A
CIVILIZAÇÃO ATLÂNTICA – A História da Civilização Mundial – Max Savelle
(coord.) – vol. 2. Belo Horizonte: Villa Rica, 1990.
[3] A
abordagem é, de fato, breve (capítulo 27 – A Civilização Atlântica no Novo
Mundo, páginas 502 a 509), porém em nenhum momento o nome de Cook é citado.
[4] Imagem extraída
do sítio http://en.wikipedia.org/wiki/James_Cook
[5] PAZZINATO, A. L.; SENISE, M. H. V. “História
Moderna e Contemporânea” São Paulo: Editora Ática, 1997. 6ª. Edição. p. 88
[6]
Resultado da participação na Guerra de Sucessão Espanhola (1702 – 1714)
[7]
PAZZINATO, A. L.; SENISE, M. H. V. “História Moderna e Contemporânea” São
Paulo: Editora Ática, 1997. 6ª. Edição. p. 92
[8] “Peça do
tear manual, que possibilitou fabricar mais rapidamente tecidos mais largos” in PAZZINATO, A. L.; SENISE, M. H. V. “História
Moderna e Contemporânea” São Paulo: Editora Ática, 1997. 6ª. Edição. p. 93
[9] Revista
National Geographic Brasil – Grandes exploradores - Edição de colecionador .
São Paulo: Editora Abril, 2003. p. 104.
[10] Revista National Geographic Brasil – Grandes
exploradores - Edição de colecionador . São Paulo: Editora Abril, 2003. p 114
[11] Imagem
extraída do sítio http://de.wikipedia.org/wiki/Endeavour_(Schiff)
[12] Tal fato ocorrera em 1759, durante a Guerrados
Sete Anos. Aqui se reitera a importância de Cook para a História da Civilização
Atlântica.
[13] Revista
National Geographic Brasil – Grandes exploradores - Edição de colecionador .
São Paulo: Editora Abril, 2003. p. 116
[14] Imagem
extraída do sítio http://www.australiangeographic.com.au/topics/history-culture/2010/05/building-history-the-endeavour-replica/
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