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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

3º Texto - 7º Ano - 2022 - Mergulhando na República Romana

 3º Texto - Mergulhando na República Romana

Roma agiganta-se durante o período republicano. E isso ocorre das mais diversas formas. Nos próximos parágrafos você entenderá os porquês do período republicano ser entendido como um momento grandioso para a Roma Antiga.

A expansão romana

Consideramos o período republicano como a fase em que a civilização romana está se expandindo, muito além do que fora feito pelos etruscos durante a Monarquia. E essa expansão republicana marcou definitivamente a história da civilização romana.

Vimos que Roma nasceu em meio a outras civilizações, o que a fez adotar, desde o inicio, uma postura defensiva. Não foi à toa que Sérvio Túlio ergueu os muros ao redor da cidade. No entanto, por volta de 275 a.C., os romanos já haviam conquistado todas as regiões da península itálica, passando agora para um desafio bem maior: conquistar as regiões ao redor do mar Mediterrâneo.

Dessa forma, Roma passou a desafiar os cartagineses, uma ex-colônia fenícia, localizada no norte da África. Ficou claro que conquistar Cartago significava, simplesmente, conquistar o Mediterrâneo ocidental e, portanto, garantir o controle de todo o comércio da região. Essa conquista ocorreu após o fim da 2ª Guerra Púnica, em 201 a. C.

Mesmo sem ainda conquistar a cidade de Cartago (o que ocorreria na 3ª Guerra Púnica), os romanos passaram a ter como objetivo tomar a Grécia Antiga, que estava profundamente enfraquecida após a morte de Alexandre, o Grande. E assim foi feito. Em "pouco mais de cinquenta anos, Roma conseguira transformar o Mediterrâneo inteiro em mar romano e todo o mundo grego cairá ante as legiões de Roma"[2].

Óbvio que esse contato com os gregos fez com que a cultura helenística penetrasse diretamente na sociedade romana. É nesse momento que a cultura grega renasce dentro da sociedade romana.

Portanto, retomando, os conflitos entre romanos e cartagineses ficaram conhecidos como guerras púnicas.  Conjuntamente a esses conflitos veio o domínio de Roma sobre a Grécia. Resultado: o mar Mediterrâneo passou a ser chamado pelos romanos de mare nostrum, nada mais que “nosso mar”.

Além do que já apontamos neste e em textos passados, o período republicano trouxe as seguintes mudanças:

a) Roma se tornou uma civilização escravista, ou seja, vivendo em grande parte do trabalho escravo. Os escravos romanos eram povos conquistados.

b) a civilização romana se tornou mais rica e complexa, com o surgimento de outras classes sociais, ligadas principalmente aos patrícios, como foi o caso dos Clientes, pessoas que eram dependentes dos aristocratas.

c) começou a ocorrer o fenômeno do êxodo rural, ou seja, a saída dos pequenos camponeses do campo para a cidade, principalmente para Roma, devido em grande parte ao controle cada vez maior das terras pelos patrícios e também pela enorme vocação comercial que Roma passou a ter.

Pirâmide social do período republicano.

Atente para o fato de que o ponto c revela-se um problema. Um grave problema, sendo um dos maiores responsáveis pelo início da crise romana. A cidade de Roma não conseguiu suportar um número tão grande de novos moradores. E há que se registrar que os novos grupos sociais passaram a exigir participação política. Era o início da crise republicana, assunto que veremos agora.

A crise republicana

As mudanças do período republicano provocaram uma situação ambígua em Roma. Por um lado, os romanos haviam conquistado todo o mar Mediterrâneo, tornando a civilização extremamente forte e o território bastante extenso. Por outro, os plebeus passavam cada vez mais por dificuldades.

Dois tribunos da plebe, Tibério Graco e Caio Graco (entre 133 e 123 a.C.), foram responsáveis por levar propostas de leis a favor da plebe para a discussão no senado, propondo inclusive uma “reforma agrária”. Os patrícios, que lideravam o Senado, não concordaram, assassinando Tibério em uma discussão. Seu irmão, Caio, tentou implantar as reformas, porém não obteve grandes sucessos. Em um conflito armado com a aristocracia, Caio pediu a um escravo que o matasse.

O conflito estava bem determinado: de um lado, os patrícios querendo manter seus privilégios. De outro, os plebeus lutando por medidas que permitissem um maior acesso as terras e as riquezas de Roma. Foram essas disputas entre "os cidadãos romanos" pelo controle do poder político que aumentaram cada vez mais a instabilidade da sociedade, marca do final da República romana.

Nesse clima, o Senado, em 60 a.C., elegeu três grandes líderes políticos ao consulado: Júlio César, Pompeu e Crasso. Juntos, eles formaram o chamado 1º Triunvirato, e dividiram entre si o poder e os domínios romanos.   

Contudo, Crasso morreu na Pérsia (54 a.C.), e Pompeu tornou-se cônsul único, recebendo a tarefa de combater César e destituí-lo do comando militar da Gália. Ao saber das notícias, César resolveu lutar e dirigiu-se para Roma. Nesse momento, César assumia o poder romano, derrotando definitivamente Pompeu no ano de 49 a.C.

O domínio de César foi cada vez maior. Controlando diversas regiões e conflitos, César chegou a Roma, após destruir as tropas sírias, e foi declarado ditador vitalício. A nomeação, no entanto, não foi aceita pela maioria dos patrícios. César, em 44 a.C, foi assassinado.

Após a morte de César, teve início uma grande revolta popular, que foi habilidosamente utilizada por Marco Antônio, um dos generais mais próximos de Júlio César. Junto com Lépido e Otávio (imagem ao lado), Marco Antônio formou o 2º Triunvirato.

O trio, a princípio, trabalhou em conjunto, “eliminando” os opositores. Porém, depois que o controle ficou na mão dos três generais, um começou a lutar contra o outro.

O vencedor foi Otávio, recebendo do Senado o título de “Primeiro Cidadão” (Princeps), primeira escala para atingir o título de Imperator. Dessa forma, Otávio foi tornando-se praticamente o "senhor de Roma", coroado pelo recebimento do título de divino (Augustus), passando a se chamar Otávio Augusto.

Tinha início o 3º período da Roma Antiga, o período imperial.

Além do mais

Desde pequeno tinha um sonho. Visitar Roma e conhecer o Coliseu. Quem sabe um dia eu realizo esse feito. Por enquanto, faço um relato dessa impressionante obra.

O Coliseu foi construído quando Roma já era um império, durante o governo de Vespasiano (9 d.C. - 79). As medidas impressionam: suas fundações possuem mais de doze metros de profundidade e o perímetro da construção é de cerca de quinhentos e quarenta metros. Achou pouco? Mais de 50 mil pessoas poderiam assistir confortavelmente aos espetáculos, muitas vezes com gladiadores lutando até morte. Outras vezes, jaulas surgiam do subterrâneo e os animais eram soltos na arena, perseguindo os escravos. Espetáculos violentos!

A construção era feita de cimento natural, com a presença de cinco anéis concêntricos. Uma maravilha arquitetônica!

Exercícios de revisão

1) Quais foram os principais motivos que levaram os romanos a iniciar a sua expansão.

2) Em que período teve início a expansão romana pelo mar Mediterrâneo?

a) período Clássico; b) período Monárquico; c) período Imperial; d) período Republicano.

[2] Leoni, G. D. “A Literatura de Roma” – 6ª ed. – São Paulo: Livraria Nobel S. A., 1961. p. 31

2º Texto - 7º Ano - 2022 - Monarquia e República romanas

 2º Texto - Monarquia e República romanas

A pergunta que abre o nosso 2º texto é a seguinte: qual o motivo (ou motivos) para não produzir um texto para cada um dos períodos acima?

Bem, a resposta pode ser dada pelo fato de que, ao falar sobre a monarquia romana, as pesquisas ainda caminham muito pelo campo das incertezas (aquela ideia de fato - mito, lembra?), o que justifica a junção com o 2º período da Roma Antiga, a República. E, sobre a República romana, fique tranquilx! Certamente teremos outros textos.

Para começar, vamos tratar do primeiro período da Roma Antiga, a Monarquia!

A monarquia romana (753 – 509 a.C.)

Vamos reforçar a ideia de que muitas dúvidas ainda permanecem sobre esse primeiro período. Mitos e fatos verídicos se misturam, o que dificulta uma análise histórica mais precisa. “O primeiro período da história romana foi resgatado através de um conjunto de lendas, criadas, na sua maioria, no final do período republicano e primórdios do período imperial, com o intuito de justificar a grandiosidade e a força romanas"[2].

Aponta-se a existência de cinco principais elementos no período monárquico: 1º a chegada dos povos formadores; 2º a disputa entre Rômulo e Remo, resultando na vitória do primeiro e na formação da Monarquia; 3º os conflitos entre os povos formadores; 4º a consolidação dos etruscos no poder; 5º no final do período monárquico a expulsão dos etruscos do controle político.

No período monárquico a economia estava baseada nas atividades agrícolas e no pastoreio. “A sociedade de caráter estamental e patriarcal, tinha nos patrícios e plebeus seus principais segmentos. Os patrícios eram os grandes proprietários (aristocracia rural) e os plebeus representavam os pequenos proprietários, camponeses, artesãos e estrangeiros[3].

A monarquia romana, segundo as lendas, possuiu sete reis, sendo que os dois primeiros foram latinos (o primeiro foi Rômulo), em seguida dois reis sabinos e depois três etruscos. Portanto, a ideia de sete reis, representando as sete colinas, parece caminhar muito mais para o campo mitológico do que efetivamente factual.

O domínio dos etruscos ocorreu através da dinastia dos Tarquínios, tendo como monarcas as seguintes pessoas:

Tarquínio Prisco (616-579 a.C.): primeiro rei dessa dinastia. Foi o responsável por introduzir características etruscas à cidade de Roma. Assim, deuses etruscos e os hábitos de interpretar os presságios foram introduzidos no cotidiano das pessoas.

Tarquínio Prisco fez inúmeras obras pela cidade de Roma, dentre as quais a construção dos primeiros sistemas de esgoto do mundo, tendo como obra emblemática a Cloaca Máxima. "Iniciou as obras do Capitólio, o maior templo romano destinado a Júpiter, ampliou a cavalaria e o senado, criou estabelecimentos públicos destinados aos jogos e divertimentos. Foi assassinado pelos descendentes de Anco Márcio"[4][iv], que fora rei antes dele.

A Cloaca Máxima, um dos primeiros sistemas de esgoto do mundo.

Sérvio Túlio (578-535 a.C.): conhecido  por Mastarna, assim como a história da monarquia, sua vida é marcada por narrativas carentes de confirmação.

Fato é que reorganizou a cidade Roma, construindo muralhas no seu entorno[5][v], dividiu a sociedade em classes sociais de acordo com  o seu poder aquisitivo.

Sérvio Túlio também foi o responsável por organizar os primeiros censos populacionais, criando um hábito que se tornou comum em Roma. "Foi assassinado pelo seu genro que se tornaria o último rei de Roma, Tarquínio, o Soberbo"[6].

Chegamos ao último rei romano, Tarquínio, o Soberbo. A história deste rei mistura-se com os eventos que levaram ao fim da monarquia romana.

Governando entre 534 e 510 a.C, Tarquínio era  filho de Tarquínio Prisco, "e teve seu reinado marcado pela não aceitação popular e nem pelo senado. Foi considerado um tirano por todos os historiadores antigos, principalmente pelo fato de ter conseguido o seu trono à força após ter matado o seu sogro Sérvio Túlio"[7].

Porém, foi em seu reinado que Roma passou a controlar áreas maiores do que a própria cidade e dar início a um pequeno, porém real,  processo de expansão. Sob a liderança de Tarquínio, os romanos dominaram áreas de quase todo o centro da Itália. Também conclui uma série de obras em Roma, dentre as quais o Templo de Júpiter e a Cloaca Máxima, ambas iniciadas pelo seu pai, Tarquínio Prisco.

Mas... Sua impopularidade e algumas das medidas que adotou levaram a um conflito aberto com o Senado. Cada vez mais os reis foram concentrando funções, entre elas executivas, judiciárias e religiosas, o que desagradou o “Conselho de Anciãos” (o Senado), controlado pelos patrícios e que poderia vetar as decisões dos monarcas. Além disso, tínhamos Assembleia Curiata, responsável por executar a lei, sendo formada por todos os cidadãos em idade militar.

A seguir, uma fantástica imagem da península Itálica durante o domínio dos etruscos. Perceba que havia outras cidades além de Roma, mas foi esta que deu origem à civilização romana.  

O poder do rei assumiu características baseadas no aspecto militar com uma base religiosa muito forte, não se esquecendo das demais funções, fazendo com que a Dinastia Tarquínio ficasse marcada por um forte domínio e centralização política, já que as assembleias populares e o Senado pouco participavam das decisões dos reis etruscos. Isso gerou uma série de revoltas, o que deu início à crise do período monárquico e o aparecimento de uma nova forma de governo: a República. Era o início do segundo período da Roma Antiga.

O início da República Romana (509 - 27 a.C.)

Fundamentar uma opinião é algo muito importante! Escrevo isso porque considero a República Romana o período mais importante da Roma Antiga. E, nos parágrafos vindouros, deste e de textos próximos, você terá a oportunidade de decidir se concorda ou não comigo.  

Considerada como a fase em que o Senado romano assumiu uma grande importância, ou seja, um grande poder político, durante a República os senadores, de origem patrícia, cuidavam das finanças públicas, da administração e da política externa, enquanto que as atividades executivas eram exercidas pelos cônsules e pelos tribunos da plebe. Perceba, portanto, que houve a criação de novos cargos políticos. Roma foi se tornando mais complexa. E os problemas também.

Infelizmente, não poderemos mergulhar em tudo que ocorreu no período republicano. Mas, vamos nos reservar ao direito de entender o porquê do início da prática de se escrever as leis.

As primeiras leis escritas romanas surgiram no século V a.C., momento em que a plebeu começou a ganhar cada vez mais importância, uma vez que estava crescendo e assumindo grande importância econômica. Assim, foi criado o Tribuno da Plebe (Tribunus plebis), focado em uma luta contínua e incansável para diminuir a exploração imposta pelos patrícios.

Fundamental para a conquista desses anseios foi a adoção das leis escritas, uma vez que, sem as mesmas, os patrícios faziam o que bem entendiam.

Vamos a um exemplo.

Uma das formas mais brutais de exploração dos patrícios sobre os plebeus foi quando estes iam obrigados para a guerra e acabavam abandonando as suas terras. Terras abandonadas não produzem nada. Ao voltar, o plebeu era obrigado a pedir ajuda financeira aos patrícios para reativar a sua produção agrícola. Caso não tivesse condições de sanar a dívida (pagar aquilo que emprestou) com o patrício, o plebeu tornava-se escravo (a chamada “escravidão por dívidas”), o que fez com que a escravidão aumentasse muito em Roma.

Diante dessa situação, os plebeus passaram a se revoltar, exigindo o fim da escravidão por dívidas e uma melhor distribuição de terras públicas (aquelas que pertenciam ao Estado). Estas terras, originadas das conquistas, eram propriedade do Estado e deveriam ser distribuídas entre a população romana. Porém, sem o resguardo das leis escritas, as melhores terras acabavam nas mãos dos patrícios, gerando um número expressivo de plebeus sem terras.

Em 494 a.C., tivemos a primeira revolta dos plebeus. Consequentemente, os patrícios perceberam que a coisa estava ficando séria. Foi criado o Triuno da Plebe, visando diminuir as insatisfações. E, graças aos tribunos da plebe, em 461 a. C.  as leis passaram a ser escritas. Foram criadas duas comissões para a realização dos primeiros registros escritos das leis, "e o resultado desse trabalho foi a promulgação das doze tábuas de leis que representam o fundamento do Direito Romano[8].

É muito curioso perceber que tais conjuntos de leis NÃO abordavam conteúdos religiosos, tratando diretamente de aspectos socioeconômicos da civilização romana. As doze tábuas de leis também ficaram conhecidas por Lei das Doze Tábuas.

Imagem representando os debates que levaram à criação da Lei das Doze Tábuas. Nesse conjunto de leis estava estabelecida a proibição da escravidão por dívidas. Em 445 a.C. tivemos a Lei Canuleia, permitindo o casamento entre patrícios e plebeus. Voltaremos a falar dessa união. Em 366 a.C. foi eleito o primeiro cônsul plebeu, com direito de ingresso automático no Senado.É interessante observar que tais conquistas partiram de uma movimentação de uma camada social desfavorecida, a plebe. E que no decorrer das conquistas o movimento foi dirigido por uma espécie de “plebe rica”. Essa plebe rica era formada por plebeus que haviam se casado com patrícios. Tal plebe rica se separou socialmente da “plebe pobre”, formando uma nova classe social: a nobilita.

Além do mais

Olá! Sou vidrado em esportes. E um dos esportes que mais venero é o futebol. É certo que nem gregos e nem romanos jogavam bola na Antiguidade Clássica, até porque o futebol, tal qual o conhecemos, só surgiu por volta de cem anos. Mas quem disse que a Antiguidade Clássica não deu uma mãozinha? Veja só.

Dias atrás eu comprei uma caixinha com seis times de futebol de botão. Convidei meu amigo, Pedro Duque, para jogar. Abri a caixa, preparei os dois times: ele jogou com o Olympiakos, um time grego, e eu com a Roma.

Espia na imagem ao lado o que tem no símbolo da equipe do Roma! Isso porque o time faz referência à cidade. E a cidade teria sido fundada, segundo o mito, por Rômulo e Remo. Está provado: esporte é conhecimento. Futebol é cultura!

Exercícios de Revisão

1) Indique duas características do domínio dos etruscos sobre a civilização romana.

2) Agora, escreva duas características da monarquia romana. 

[2] CIÊNCIAS HUMANAS – Pré Vestibular: Volume 1 – São Paulo, Editora COC, 1999. p. 144

[3] CIÊNCIAS HUMANAS – Pré Vestibular: Volume 1 – São Paulo, Editora COC, 1999. p. 144

[4] https://www.infoescola.com/historia/monarquia-romana/

[5] eis o motivo para o nome das muralhas que você viu no mapa do texto anterior

[6] https://www.infoescola.com/historia/monarquia-romana/

[7] https://www.infoescola.com/historia/monarquia-romana/

[8] Leoni, G. D. “A Literatura de Roma” – 6ª ed. – São Paulo: Livraria Nobel S. A., 1961. p. 21

1º Texto - 7º Ano - 2022 - As raízes históricas e mitológicas de Roma

 1º Texto - As raízes históricas e mitológicas de Roma[1]

Olá! A partir de agora, mergulharemos nos fundamentos que originaram a Roma Antiga.

Estudar Roma é de extrema importância, e, isso por inúmeros motivos. Listemos alguns.

Muitos dos idiomas atuais possuem sua língua-mãe, ou seja, a que deu início a sua formação, no latim. E o latim foi uma dos idiomas falados na Roma Antiga. Outro aspecto é que algumas das nossas características culturais são heranças diretas da Roma Antiga. Sendo assim, dos “romanos, herdamos uma série de características culturais. O direito romano, até os dias de hoje está presente na cultura ocidental, assim como o latim,  que deu origem a língua portuguesa, francesa, italiana e espanhola[2].

Roma também deu continuidade às características culturais da Grécia Antiga. Não à toa, a “literatura romana é, portanto, a mais direta continuadora da literatura grega, a sua maior e melhor herdeira[3]. No entanto, compete escrever que os romanos não se limitaram a copiar as características e estruturas gregas, mas sim adaptá-las as suas necessidades, muitas vezes inovando.

O ponto de origem

Antes de dividir a História da Roma Antiga em períodos, algo que é costumeiramente feito pelos historiadores, vamos analisar seu processo de formação, fazendo duas abordagens: mitológica e histórica. Ambas misturam-se, ficando difícil definir onde termina uma e começa a outra. Aliás, a mistura de mitos e fatos é algo bem típico na história das civilizações, principalmente as da Antiguidade.

Comecemos pela análise mitológica.

O mito de Rômulo e Remo

As origens da civilização romana estão muito ligadas a um mito: o mito de Rômulo e Remo.

Diz a lenda que Roma foi fundada no ano 753 a.C. por Rômulo e Remo, filhos gêmeos do deus Marte e da mortal Rea Sílvia. Ao nascer, os dois irmãos foram abandonados junto ao rio Tibre e salvos por uma loba, que os amamentou e os protegeu. Por fim, um pastor os recolheu e lhes deu os nomes de Rômulo e Remo. Depois de matar Remo numa discussão, Rômulo deu o seu nome à cidade[4].

Escultura remetendo ao mito de Rômulo e Remo. 

É válido dizer que a escolha da figura da loba dentro da narrativa desse mito não foi uma escolha aleatória. A loba remete à força, a astúcia, retomadas como fundamentos pelos romanos, principalmente quando estes se dispuseram a contar a sua história, as suas origens.

As raízes históricas

Impressiona saber que a civilização romana teve seu início como uma mera aldeia de agricultores, tornando-se posteriormente uma cidade-estado para que, nos primeiros séculos da Era Cristã, passasse ser um império com território em três continentes.

Além dessa incrível expansão geográfica, o curso da História romana interferiu diretamente em quase todos os campos dos períodos vindouros, principalmente quando abordamos a chamada civilização ocidental.

Mas, o começo da civilização não teve nada de grandioso.

Tribos de origem sabina e latina estabeleceram-se um povoado no monte Capitolino, junto às margens do rio Tibre, a partir do século VIII a. C.. E, já aqui, temos o primeiro enrosco fato-mito (seria uma paródia ao fato-fake?).

As áreas circunvizinhas ao Monte (Colina) Capitolino eram formadas por outros montes (ou colinas), totalizando, junto com o Capitolino, sete colinas. Segundo as raízes mitológicas, cada colina era controlada por um chefe, uma espécie de rei. Mas não há comprovações fidedignas de que isso de fato ocorreu.

E essa situação de incertezas percorreu toda a análise histórica acerca da monarquia romana.

Além de sabinos e latinos, umbros, oscos, etruscos e gregos compuseram os primeiros povos da Roma Antiga.

Frente a esse quadro, o que é inquestionável é o fato de que o início de Roma não foi marcado por nenhuma unidade política e social, muito menos cultural. Aliás, o que talvez mais dificulte conhecer as origens da Roma Antiga seja exatamente essa pluralidade dos povos, uma vez que, rotineiramente, um povo chegava e entrava em conflito com o povo residente, promovendo, muitas vezes, a destruição de elementos que nos ajudariam a compreender o nascimento de Roma.

Além do mais

O texto a seguir trará um olhar mais aprofundado sobre o início da história da Roma Antiga. Vamos começar

A região onde se localiza o rio Tibre e a civilização romana é a península Itálica, área importante já na Antiguidade devido à proximidade com diversos povos e culturas, além de estar inserida no espaço do mar Mediterrâneo. Ao passo de que essa pluralidade cultural dificultou uma união, ela deu início a uma cultura muito singular.  

Os povos que mais contribuíram para o processo inicial de formação da civilização romana foram os etruscos e os latinos. A maioria da população era formada por agricultores. Com o passar dos anos, esses povos começaram a invadir as regiões vizinhas.

As conquistas passaram a moldar a política romana, fazendo triunfar um povo sobre o outro, em especial os etruscos, povos vindos da Ásia Menor[5] para a Itália, antes mesmo da formação do primeiro povoado romano.

Segundo o professor Leoni[6], as raízes culturais orientais dos etruscos deram os primeiros modelos culturais à civilização romana. O que isso quer dizer? Quer dizer que os etruscos estão diretamente associados às características religiosas, mitológicas, políticas e artísticas da Roma Antiga. No 2º texto você saberá que a presença dos etruscos foi marcante no primeiro período da civilização romana, a monarquia.

A esse processo inicial de formação da cultura romana devemos incluir os gregos. E isso desde o século VII a. C. até o século II a. C. Não à toa, muitos deuses gregos ganharam novos nomes e passaram a ser deuses romanos. Eis o porquê das primeiras manifestações culturais da Roma Antiga serem profundamente religiosas.

Exercícios de Revisão

1) Faça uma descrição de como viviam os primeiros povoadores de Roma? Quais atividades econômicas eram praticadas?

2) Na Grécia Antiga temos mitos explicando a formação dessa civilização. E na Roma Antiga, isso ocorre? Qual seria o mito? 



[1]

[2] www.suapesquisa.com

[3] Leoni, G. D. “A Literatura de Roma” – 6ª ed. – São Paulo: Livraria Nobel S. A., 1961. p. 13

[4] paginas.terra.com.br/arte/mundoantigo/Roma

[5] A região da Ásia Menor é atualmente representada em grande parte pela Turquia.

[6] Leoni, G. D. “A Literatura de Roma” – 6ª ed. – São Paulo: Livraria Nobel S. A., 1961. p. 18

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

5º Texto - 7º Ano - 2022 - A ruína do Império Romano

 5º Texto - A ruína do Império Romano


Um permanente desequilíbrio! É assim que os historiadores definem a história do Império Romano a partir do século III. “A sobrevivência do Império, durante os séculos IV e V, só foi possível devido a profundas mudanças, que alteraram todo seu caráter, tornando-o basicamente diferente, a ponto de não poder ser reconhecido por alguém que nesse tivesse vivido um século antes[2].  

Antes de começarmos a entender as dinâmicas que levaram ao fim do Império Romano (na verdade, parte dele), deixo registrado um desabafo. São tantos os problemas e as situações que teremos que escolher aqui os principais. Portanto, caso queira entender mais sobre o assunto, sinta-se à vontade para perguntar ao professor ou fazer pesquisas.

Um dos problemas encontrados em Roma era o enorme número de latifúndios: grandes propriedades nas mãos dos mais ricos, e ainda por cima sem produzir nada. Assim, uma das saídas encontradas foi diminuir o número de latifúndios, ou seja, distribuir a terra entre a população. Porém...

Aqueles que recebessem a terra deveriam pagá-la com trabalho e produtos aos seus antigos donos. Muitas vezes a produção do camponês se destinava apenas ao pagamento desse lote de terra que havia recebido. O trabalhador não poderia sair do lote de terra se não o pagasse para seu proprietário. Foi tornando-se comum também os laços que determinavam que o camponês só poderia abandonar o lote de terra que havia recebido depois que morresse. Nascia um vínculo de servidão, que iria caracterizar o período vindouro, a Idade Média. As grandes propriedades rurais (os latifúndios) passaram a ser chamadas de villas

Outro problema veio da expansão do Cristianismo.  

A religião romana era muito vinculada a elementos das tradições gregas, como boa parte da cultura romana. Tratava-se de uma religião politeísta e com deuses que assumiam formas humanas, tornando comum rebatizar deuses gregos com nomes latinos.

No século III d.C. as religiões se expandiram pelo Império e uma delas foi uma religião vinda do Oriente Médio, o cristianismo. Os princípios de Jesus Cristo foram muito divulgados entre a população pobre e os escravos de Roma, atendendo, em sua maioria, os interesses e necessidades dessas pessoas. Alguns dos seus princípios questionavam a ordem imperial romana, apresentando a ideia de que o imperador não era nenhum deus. Obviamente que os imperadores não viam com bons olhos a expansão do cristianismo. Portanto, diversos desses governantes passaram a perseguir e matar cristãos, dentre os quais Nero, Diocleciano...

Porém, isso não diminuiu a expansão do cristianismo, tornando o movimento até mais unido, passando a ser impossível ignorar a expansão dessa religião, já que em algumas regiões ela era a mais presente. Quando Constantino assina o Edito de Milão mais de 20% do império era formado por romanos cristãos. A nova religião era um dos caminhos para unir Roma e lutar contra a crise. Por isso, em 380 d.C., Teodósio a tornou religião oficial do Império Romano.  

Recentemente, um grupo de cientistas buscou reconstruir o rosto de Jesus, a partir do registro de como seriam os habitantes da região onde teria nascido e vivido nascido um dos principais e maiores homens da História. Olhe o resultado ao lado.

Você acha que acabou? Não!

Um dos eventos mais graves esteve associado aos povos que viviam próximos às fronteiras romanas, como persas e mauritanos, e outros, genericamente chamados de bárbaros. Eles começaram a “invadir”[3] o Império Romano. Voltaremos a tratar desses povos em textos futuros, mas, por enquanto, façamos um breve resumo.

Bárbaros eram considerados os povos que não falavam latim ou grego, viviam fora das áreas imperiais, ou mesmo dentro, porém sem aceitar a representação do poder romano. Eram considerados como “incivilizados”. Um dos principais povos bárbaros foram os germanos.

Antes de apresentarmos o que a historiografia consagrou chamar de “Invasões Bárbaras”, e que teriam auxiliado o fim do Império Romano, trago o resultado de uma leitura recente que fiz, e que permitiu outra abordagem acerca do tema.

O livro é esse: “História Medieval”, de Marcelo Cândido da Silva. E damos especial destaque aqui a essa passagem. Leiamos.

 “Os povos bárbaros não conquistaram o Império, mas integraram ao mundo romano, tanto pela violência quanto por acordos pacíficos. É por isso que a expressão ‘invasões bárbaras’ caiu em desuso, tendo sido substituída por ‘migrações bárbaras’”.[4]  

Outro importante historiador, Pedro Paulo Funari, em sua obra “Grécia e Roma”[5], sinaliza a importância das culturas bárbaras nas mudanças que ocorreram dentro do Império Romana, inclusive para a manutenção deste por mais alguns séculos.

As primeiras (migrações) invasões bárbaras foram pacíficas, sendo resultado das penetrações dos povos germânicos dentro do império. Era comum a entrada de germanos no exército romano, inclusive entendida como uma forma de evitar conflitos. Porém, a partir do século IV d.C, a situação mudou, já que as invasões bárbaras ficaram cada vez mais violentas, e outros povos, além dos germanos, começaram a invadir o Império. Assim, Roma “passa, durante os séculos IV e V, a assumir uma postura basicamente defensiva, em uma luta sem tréguas por sua sobrevivência, enquanto unidade político-administrativa. A última campanha militar que se deu fora do território imperial foi a invasão do Império Parta pelo imperador Juliano, em 363 (que por sinal termina em desastre)” [6].

Além disso, toda a estrutura do exército romano é alterada. A maior parte dos soldados era de origem bárbara, criando uma situação inusitada. Os romanos começaram a deixar de servir no exército. Foi o início da germanização dessa importante estrutura da sociedade romana, fator crucial na montagem da sociedade medieval.

Nas linhas vindouras conheceremos imperadores romanos que buscaram fazer reformas, porém... A situação era insuperável.

Diocleciano (284 - 305): foi este imperador que permitiu a presença dos bárbaros no exército. Isso funcionava como um meio de mostrar para os bárbaros que (de um jeito ou de outro) eles eram parte do Império Romano. No entanto, como já foi dito, um número maior de soldados fez com que o Império Romano gastasse mais. Ou seja, a crise piorou.

Constantino (306 - 337): diante do aumento da crise, Constantino mudou, em 330 d.C., a capital do Império Romano da cidade de Roma para a cidade de Constantinopla (atual Istambul). Fez isso porque a economia da região próxima à Constantinopla não dependia tanto do trabalho escravo e estava longe das invasões. No entanto, a medida de maior impacto de Constantino ocorreu quando este determinou que os cristãos (seguidores dos ensinamentos de Jesus Cristo) poderiam realizar seus cultos e que a religião cristã existia oficialmente. Isso foi feito em 313 d.C., com a assinatura do Edito de Milão pelo imperador.

Constantino fez uma grande política de apoio aos cristãos, e em 325 d.C. comandou uma reunião de bispos cristãos (essa reunião recebeu o nome de Concílio). A intenção era aproximar a política da religião e chamar os seguidores do cristianismo para perto do imperador (ou seja, ganhar aliados!).

Teodósio (380 – 395): buscando ganhar aliados e ciente da enorme crise, Teodósio, aconselhado pelo bispo de Milão, tornou o cristianismo a religião oficial do Império Romano, e em 392 d.C. a tornou obrigatória. Surgiu, assim, a Igreja Cristã, liderada por um patriarca com relativa importância política. No entanto, o Império foi dividido entre seus herdeiros após a sua morte. Na imagem, da esquerda para a direita, Diocleciano, Constantino e Teodósio.

O império romano foi dividido em duas grandes partes:

a) Império Romano do Oriente, ficando com o imperador Arcádio. A capital era a cidade de Constantinopla, e esse império seria conhecido como Império Bizantino. Sobreviveu até o século XV d.C.;

b) Império Romano do Ocidente: foi governado por Honório. A crise não diminuiu, apenas piorou. Como vimos, as invasões bárbaras tornaram-se violentas, sendo que o império também foi atacado pelos hunos. “De 455 a 476, nada menos que dez imperadores sucederam-se no trono do Ocidente, sendo todos eles meros joguetes: prisioneiros de sua capital fortificada, Ravena – pois que a cidade de Roma, desde 395, não era mais a capital imperial -, envolviam-se nas (...) intrigas da corte, sendo aclamados e depostos por seus comandantes germânicos mais poderosos[7].

Em 476 d.C. o chefe germano Odoacro invadiu e conquistou definitivamente a cidade de Roma, pondo fim à parte ocidental do império. Era o fim da Idade Antiga.

Exercícios de Revisão

1) Pesquise no dicionário o significado da palavra bárbaro.

2) Você considera que a chegada dos bárbaros ao Império Romano foi uma invasão ou uma migração?  Argumente.


[2] Rezende Filho, Cyro de Barros. Guerra e guerreiros na Idade Média/ Cyro de Barrros Rezende Filho. – São Paulo; Contexto, 1996. (Coleção repensando a história geral). p. 11.

[3] Vamos discutir essa idéia de invasão!

[4] Silva, Marcelo Cândido da. História Medieval/ Marcelo Cândido da Silva. – 1ª Ed., 3ª reimpressão. – São Paulo: Contexto, 2021. 160 p.: Il. (Coleção História na universidade).  p. 9

[5] Funari, Pedro Paulo. Grécia e Roma/ Pedro Pauylo Funari – 6ª Ed. 4ª reimpressão -  – São Paulo: Contexto, 2021.

[6] Rezende Filho, Cyro de Barros. Guerra e guerreiros na Idade Média/ Cyro de Barrros Rezende Filho. – São Paulo; Contexto, 1996. (Coleção repensando a história geral). p. 12.

[7] Rezende Filho, Cyro de Barros. Guerra e guerreiros na Idade Média/ Cyro de Barrros Rezende Filho. – São Paulo; Contexto, 1996. (Coleção repensando a história geral). p. 26.